Capítulo 49

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Enquanto isso na floresta...

Micaela passara na fronteira alegando estar com lenha, ninguém ligou. Ao se afastar ela soltou o cavalo da carroça, montando-o e saiu a galope. Não sabia ao certo quanto tempo tinha cavalgado mas, já não via  mais a torre do castelo de Joseph, então devia estar longe. Não havia mais nada em sua frente além de arvores. Ela parou o cavalo e tentou achar uma trilha no escuro. Foi então que uma voz chegou atrás dela, fazendo ela se estremecer, e assustar o cavalo.

- Procurando por alguém, Micaela? – perguntou a voz, divertida e debochada.

- O que está fazendo aqui? Como me alcançou? – perguntou gelada.

- Eu conheço o meu reino com a palma da minha mão. E você provavelmente estava correndo em volta no escuro há um bom tempo. – Joseph se aproximou – Por acaso tu perdeste o juízo?

- Me deixe ir. – pediu – Me deixe acabar com isso, Joseph.

- Desça daí. – a mão dele agarrou o pulso dela trazendo-a ao chão. – Primeiro não, eu não vou deixar. Segundo sou eu que vou matá-lo, não tu. Agora vamos sair daqui.

- Por que está me arrastando? – perguntou indignada. Micaela sentiu a mão dele apanhando a adaga d seu decote.

- Porque isso aqui não é terra de ninguém, carinho. Porque eu não estou enxergando direito e porque podem nos atacar. Brigarei contigo no castelo. – Micaela sentiu ser erguida pela cintura e estava em cima do cavalo dele.

- O cavalo...

- Nos seguirá. Não caia.

Então o cavalo saiu a galope. Micaela viu seu plano caindo por água baixo. Joseph, por fim sentiu ela se abraçando ao peito dele, o rosto afundado em suas costas, mas não disse nada. Passaram pela fronteira direto, só pararam ao pisar no castelo.

Joseph avisou aos outros reis que estava de volta. Foi nesse momento que Micaela resolveu o destino de sua vida de uma única forma. Ela encararia a morte. Tendo tido ele em seus braços, sentindo sua pele, seu perfume, ela soube que a vida não terá sentido longe dele. Joseph retornou pronto para brigar com ela.

- Eu nem sei por onde começar. - disse parado a porta – Enlouqueceu? Iria tentar furar a fronteira dele, invadir o castelo, matá-lo e voltar apenas com uma adaga na mão? O que se passa na sua cabeça? Aliás por que acha que conseguiria?

- Porque eles me deixariam passar pela fronteira. – disse quieta. – Eu caminharia pelas ruas e entraria no castelo com facilidade. – Joseph observava confusa – O mataria pois, ele me quer em sua cama.

- Que diabos está dizendo? – estava confuso – Ele tentou assediá-la no baile?

- Não. Ele tentou me assediar bem antes de vir pra cá. Aliás, foi por esse motivo que vim parar aqui.

- Eu não compreendo. – estava totalmente perdido.

- Minha família sempre foi muito unida. Éramos eu, meu pai e minha mãe. Nos amávamos e sempre vivemos em paz. – Joseph estava confuso. A família dela não a colocou para fora?Meus pais me amavam mais que qualquer coisa no mundo. Quando a guerra foi lançada, eu era uma menina ainda. Porém com o passar do tempo eu cresci, virei uma mulher... – ela olhava o próprio corpo – E isso chamou a atenção de Hades.

- O que está me dizendo não faz o menor sentido. – perguntou lentamente. Micaela sorriu de leve, sem vida.

- Durante muito tempo, ele me assediou. Me queria como sua amante. Eu sempre me neguei, sonhava em me casar pura e me entregar apenas para o homem que eu amasse. – continuou – Meu pai me defendeu com unhas e dentes. Minha mãe tinha medo. Até que um dia ele perdeu a paciência, decidiu me levar a força, me possuir e me matar em seguida. Então eu fugi, e vim para cá. – Joseph estava calado. Não queria ouvir aquilo.

- Era o único lugar no mundo que ele não me alcançaria, em teu reino. Pois tu o matarias. Ele não se atreveria a vir até aqui, passar pela fronteira.... mas eu tive. Eu passei, e aqui estou.

Houve um silencio pesado na sala. Joseph a encarava conturbado.

- Mentiu para mim esse tempo todo? – perguntou e a raiva tomou seu corpo. Não, não era raiva. Era ódio. E isso estava acabando com Micaela.

- Na verdade eu não menti. Eu não menti em quase nada. Eu só não te contei de onde vinha. – Observou – Jurei a mim mesma que começaria uma vida nova, livre. Então conheci você – ela sorriu – No dia que me viste chorando... foi quando meu pai havia morrido, Hades o matou. Procurava por mim no reino todo e não me encontrou, então confrontou meu pai que esfregou a verdade na cara dele – ela riu de leve, morta - Agora veja, eu estou me entregando a morte só por amor a você.

- Eu... eu nem acredito. Eu te dei o mundo, te confiei minha filha, te amei e você mentiu para mim! – disse incrédulo, tremulo. Ofegava de ódio – Estava aqui a mando dele, para me fazer mal!

- Não, isso nunca! – disse observando. Joseph passou a mão no rosto, ofegando – Joseph, se eu pretendia lhe fazer mal, teria feito a início. Perdia as contas de quantas vezes o tive adormecido em meus braços, indefeso. Estive com Suri inúmeras vezes. Eu os amo, jamais lhes fariam mal.

- Eu não conheço você. – murmurou com os olhos duros – GUARDAS! – rugiu, tremulo, abrindo a porta.

- Joseph – sussurrou derrotada.

Ela nem viu. So sentiu duas mãos fecharem em volta de seus braços. Não abriu os olhos, não queria ver o olhar dele daquele jeito sob si. Só queria se lembrar do olhar dele ao dizer que a amava.

- Joseph, que alvoroço é esse? O que está fazendo? – Nicolas olhou a cena, Robert entrou atrás dele - Você não pode prende-la por tentar terminar a guerra, seja racional.

- Ela é a espiã. – acusou, tremulo.

...

- Não! Não! isso não. – ela abriu os olhos, erguendo o rosto. – Menti sim, mas menti para salvar minha vida! Uma vez aqui dentro, não sai do castelo sozinha! Não sou a espiã, não faço ideia de quem seja. Joseph, eu ajudei vocês! – lembrou incrédula.

- Matem-na. – ordenou, virando o rosto. Não queria ver.

Ouvir a ordem fez Micaela se calar. Nicolas não se impôs. Micaela sentiu uma mão subir pela nunca. Quebrariam seu pescoço.

- Vocês são burros? – Zach apareceu na porta. Todos olharam – Se essa mulher é espia você irá matá-la antes de tirar dela tudo o que ela sabe? Ninguém pensa? – questionou cansado.

- Eu a quero morta. – rosnou raivoso.

- Zach tem razão. – Robert assinalou.

- Prendam-na. Precisamos dela viva por enquanto. – ordenou Nicolas. Então ela foi levada.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora