Capítulo 37

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Joseph terminou seu café e foi atrás de Micaela. Não a encontrou em lugar algum. Por fim, procurou Suri, recordando que sempre eu podia, Micaela estaria com a menina. Ele ficou com a filha bem uma hora, brincando e conversando até que não suportou.

- Anjo. – chamou, beijando o cabelo da menina. Ela estava em seu colo, colorindo seu livrinho.

- Hum? – perguntou dengosa.

- Viste Micaela hoje? – perguntou apoiando o livrinho dela.

- Ela esteve logo, antes do senhor chegar. Parecia triste, estava pálida. – observou. Joseph respirou fundo.

- Sabe para onde ela foi?

- Ela disse que iria tomar um ar, depois ia a cozinha e depois a lavanderia. – respondeu, balançando com a cabeça. Joseph sorriu do jeitinho dela.

Alguns minutos depois ele saiu novamente. Se ela havia ido dar uma volta, ele não sabia onde ela poderia ter ido. Micaela nunca saia do castelo. Então foi a cozinha, mas ela já havia passado lá. A encontrou na lavanderia, em um tanque de roupas, lavando o que lembrava ser um colete seu. A reconheceu pelos cabelos.

- A procurei por toda parte. – comentou, se aproximando. Micaela virou o rosto, na surpresa para olhá-lo. Era verdade, estava pálida. – Onde estava?

- Não me senti bem, fui ao rio. – Disse, voltando a atenção para o que tinha em mãos. Joseph suspirou consigo próprio. É claro, o rio.

- O que há? – perguntou, afastando o cabelo dela. Micaela se retraiu ao sentir o toque – Está me reprimindo, o que passa?

- Só não me sinto bem.

- Tu sempre foste péssima mentindo. – disse virando o rosto dela para si – É por causa do que Nicolas disse? Não dê atenção, sabes como ele é. Fara de tudo para ganhar essa guerra, não importa o que.

- Não é nada, já disse. – respondeu tentando soltar o rosto.

- Shh – ele mantinha o rosto dela, fazendo-a encará-lo. O toque de suas mãos era quente. – Não fique assim carinho.

- Joseph, e se um dia eu quiser partir? – perguntou agora sem desviar o olhar. Foi a vez dele ficar sem resposta.

- Partir? – perguntou processando a pergunta.

- Ir embora. – continuou

- Por quê? Para onde? – ele estava indignado só com a pergunta.

- Me responda. – pediu, ainda encarando-o.

- Por quê? – insistiu. Ele a encarou por um longo instante, ambos suspensos – Quer me deixar?

- Se um dia eu precisasse. Se não houvesse opção. O que você faria?

- Eu não permitiria. Não há outro lugar para ti. – respondeu.

- E se eu quisesse ter uma vida? Uma casa...

- Aqui é tua casa... – interrompeu.

- Um marido, filhos... – para isso ele não teve objeção. – Sabe que dentro dos muros do castelo, não há futuro para mim. Eu irei definhar aqui, tal como estou agora. E se eu não quisesse isso? Se eu quisesse ir? – levou quase um minuto até que ele respondesse. Estava gelado.

- Se tua felicidade dependesse disso, então eu a deixaria partir. Seria minha morte vê-la se afastar, mas ainda assim eu viveria para desbotar em ciúme do homem que tu escolhesses para pôr em meu lugar. – respondeu quieto.

- Se tivesse de escolher entre a guerra e a mim? – perguntou e ele suspirou.

- Micaela...

- E se eu pedisse para que tu fosse embora comigo? – ele arregalou os olhos.

- E largar tudo? – ela assentiu – Sabe que isso é impossível carinho. Não posso simplesmente dar as costas a tudo e fugir.

- Poderias dar as costas a guerra, se quisesse. Poderia não se casar, poderia acabar com tudo e ficaríamos juntos em paz.

- Não me peças isso. – pediu, encostando a testa nela. Micaela tentou resistir ao perfume dele. Não deu certo.

- É tão importante assim? – perguntou tocando-lhe o rosto.

- É mais importante, a cada vez que vejo Suri presa aquela cadeira.

- E cada vez que vê, olha sua cama e percebe que Camila não ira voltar. – completou. Joseph a encarou. Ela nunca tocava no nome de Camila.

Uma voz os interrompeu. A pessoa aparentemente parou ao ver a cena adiante. Sem reação.

- Saia agora. – ordenou, a voz alta e firme. Como um aviso do que aconteceria caso a pessoa não saísse. O criado tropeçou perante a ameaça e sumiu dali. – Por que está fazendo isso?

- Eu so quero viver em paz.

- Eu lhe darei paz. – prometeu encarando-a.

- Terminara por me matar meu amor, acredite. – disse com o semblante triste, tocando os lábios dele com os dedos.

- Não vou matá-la, eu te amo. – impôs - Porque esse absurdo? – mais uma vez foram interrompidos – EU MANDEI SAIR! – ordenou ao sentir a presença de alguém novamente.

- Só que você não manda em mim. – Joseph e Micaela se viraram para encarar Nicolas – Desculpem interromper a cena, estava realmente lindo e eu vou arder no mais profundo inferno pela interrupção, mas é necessário.

- O que queres?

- Ele está aqui. – disse, com aquela alegria feroz no rosto.

Houve um silencio rápido e sufocante. Nicolas e Joseph se encaravam ainda incrédulos com a situação. O chão de Micaela havia sumido, ela sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.

- Qual? Como? Quando? – perguntou sem se dar conta que ainda segurava o rosto de Micaela. Ela apenas olhava o ombro dele, quieta.

- Robert trazendo a esposa. A cavalaria e a corte estão perto do castelo, mas a carruagem com ele acabou de passar pela fronteira, eu mesmo dei a autorização. – informou – Ande, se mova! Vocês terminam isso depois! – disse impaciente, dando as costas e saindo dali.

Joseph soltou o rosto de Micaela. Ele caminhou alguns passos, abandonando-a, então parou, se virando para olhá-la.

- Vá. É o seu mundo te chamando. – disse, com a voz embargada. Ele ficou calado por um tempo.

- Eu fugiria com você, se pudesse. – disse, encarando-a. Então ele deu as costas e saiu, deixando-a ali.

Ele realmente iria, se pudesse. Pena que não podia...

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora