Capítulo 23

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Você pensa que a situação tinha melhorado? Não melhorou. Micaela não dormiu a noite toda. Não pode parecer cruel, mas ela sentia tanto a morte do bebê. Ela lamentava, mas não chegava ser dor em potencial. O que doía nela era a atitude dele. Ela queria poder deixar os cabelos crescer, subir as escadarias, entrar debaixo dos lençóis dele, abraçá-lo e dizer que o amava, que o amou o tempo todo...

Mas a dor da traição não a permitia. Ela não poderia. Sempre se achou segura por estar com ele, mas no final foi ele quem a atacou. Joseph tampouco conseguiu dormir. Sentia o molde do corpo delas em suas mãos ainda, o calor, o gosto do beijo... Mas que diabo! Ele virou de lado impaciente. No escuro viu a silhueta de Camila no porta retrato. "Ela está morta, pois era tua mulher."


E ele se virou de novo, colocando a cabeça debaixo dos travesseiros, esperando que finalmente amanhecesse.


- Meu cabelo é curto como o seu. – Disse Suri assentando o cabelo de Micaela com as mãozinhas. Estava sentada nos pés da cama com travesseiros a suas costas. E Micaela sentada ao chão, com um grande espelho a sua frente. Mas o seu é mais curto.

- Você não gosta? – perguntou sorrindo, vendo a menina procurando um jeito de fazer seus cabelos parecerem maior.

- Eu gostava grande. – Suri apanhou uma boneca, e segurando-a pela cabeça, pôs o cabelo na cabeça de Micaela, onde o cabelo estava curto. A cor era diferente, mas a intenção era clara e inocente. – A gente pode tentar colar... – pensou em voz alta. Micaela riu gostosamente com isso.

Joseph parou do lado de fora da porta apenas para ouvir o som do riso dela. Quando havia cessado, ele bateu na porta do quarto da filha, e ouviu um "Entre" da filha. Micaela se levantou imediatamente do chão se afastando, como sempre fazia. Joseph se aproximou de Suri, pondo-a sentada no lugar certo da cama, e sentou-se ao lado dela.

- Dormiu bem? – perguntou beijando a testa dela. A menina assentiu.

- O que é isso? – perguntou passando as mãozinhas nas olheiras do pai. Micaela estava ocupada arrumando a cômoda, dobrando roupas, de costas a ele. Joseph negou beijando a testa da menina novamente. – Eu desisto. O cabelo de Mica some, seu rosto fica preto, não quero mais brincar. – disse e se jogou, caindo de lado na cama, com o rosto no colchão. Nessa Micaela e Joseph olharam. Micaela riu de leve e Joseph fez uma careta, puxando a menina para se sentar de novo.

- Ei. – Suri tinha a cabeça pendurada, os cabelinhos caindo pelo rosto. – Dormiu. – disse entrando na brincadeira. – Ei princesinha, acorde e brilhe. – disse mordendo levemente o ombro dela. A menina se encolheu, dando um gritinho.

- Tá, acordei. – disse tirando o cabelo do rosto. – Mas o cabelo da Mica não era melhor grande? O senhor não acha papai? – ouve um silencio pesado no quarto. Joseph observou Micaela de costas a ele, por um instante antes de responder.

- Sim, eu preferia como era antes. – ele estava falando com ela.

- Eu não disse, Mica? – perguntou inocente a situação. Micaela assentiu sem olhar.

- Suri, irei até a lavanderia buscar tuas roupas. – disse fechando a gaveta. – Não me demoro sim? – Suri assentiu. – Com licença senhor. – pediu sem encará-lo.

Joseph tampouco respondeu. Viu ela se afastar, sumindo pela porta. A situação era insuportável, podia ser sentida no ar. Por todos, menos Suri. Ele segurou por um instante, mas...

- Anjo, vai ficar bem se eu sair por um instante? – Suri assentiu.

E ele se levantou, saindo a passadas largas. Atrás dela novamente.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora