Capítulo 35

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Dias depois...

Micaela estava decidida: Iria contar a ele.

Qualquer coisa deve ser melhor que essa angústia. O pai de Micaela não foi covarde: Morreu por gritar a verdade aos 4 ventos. Micaela não tinha metade da coragem do pai, mas ainda assim... Ela caminhou de forma rápida até a sala, onde sabia que ele estava. Entrando lá de forma inesperada. Ele estava parado em um canto da sala, com um papel na mão. Ao vê-la entrar, ergueu os olhos para encará-la.

- Precisamos conversar. – disse antes que ele pudesse interromper – Eu preciso dizer algo, não posso mais escon... – ela parou olhando.

Havia algo de diferente nos olhos de Joseph. Ele a esperava falar, era verdade, mas os olhos dele pareciam ressaltados... Mais intenso. Estava transbordando felicidade.

- O que houve? – perguntou confusa. Qual era o problema?

- Eles estão vindo. – disse e sua voz era de uma ansiedade e pura excitação. Micaela engoliu seco.

- Q-qual deles? – perguntou sem querer saber bem a resposta. Se fosse Robert, ainda poderia haver esperanças. Por deus, que seja Robert...

- Zac. – disse e um sorriso nasceu em seu rosto. Micaela quase desmaiou. – Robert também. Estão os dois vindo, e as esposas juntamente. – Uma viagem naquela época era oficialmente importante, quando a rainha era retirada e levada junto - Sua ideia foi brilhante, brilhante! – disse caminhando até ela.

Joseph a apanhou nos braços erguendo-a do chão abraçando-a. Estava transbordando de felicidade. Como ela poderia matar aquela felicidade?

- Você disse que queria me contar algo? – disse colocando-a no chão. Micaela hesitou encarando-o.

- Não é nada. Só que eu amo você. – ele franziu o cenho, sorrindo. – Eu... senti a necessidade de te dizer isso, para que nunca se esqueça. – disse acariciando o rosto dele.

- Eu não vou esquecer. Nunca – prometeu e abaixou o rosto, tomando um beijo doce. Micaela retribuiu, abraçando-o. Bastava esperar que a promessa dele valesse.

Era mais um dia frio. Era época de outono, o céu estava nublado e ventada muito. Faltava pouco para o baile, e para a chegada dos tão esperados Reis e Rainhas. Micaela caminhava no jardim com Joseph ao seu lado. Ela andava angustiada. Seu relacionamento com ele estava perfeito, mas ela teve um pesadelo dias atrás. Ela andava sozinha, não havia nada a sua volta, somente o frio. Havia uma voz que dizia a ela sempre "O céu cairá quando o inverno chegar" desde então o inverno a apavorava. Era como se fosse um sinal de algo que está prestes a acontecer.

- Preciso trabalhar. – disse se virando para ele – A noite nos vemos. – ele sorriu.

- O que irá fazer agora? -perguntou ele estava aquecido com sua capa, mas ela usava apenas um uniforme.

- Lenha. As da lareira do seu quarto deram cupim. – disse debochada. Joseph riu gostosamente. Não passava as noites em seu quarto, se banhava e trocada e logo ia a procura dela. Logo a lareira não era acesa. Ele riu até ver ela ir ao toco de uma arvore, apanhar o machado cravando ali.

- Ei. – ela o olhou – Irá se machucar.

- Já fiz isso antes. – disse apoiando o machado no chão. Era pesado.

- Isso é trabalho de homem. – impôs e Micaela ergueu a sobrancelha. Ela riu ao vê-lo retirar sua capa.

- Vai cortar lenha, vossa alteza? – perguntou se apoiando no machado.

- Sou homem. – ele passou a capa pelos ombros, que revirou os olhos.

- É um rei. – rebateu

- Fui homem antes de ser rei. – respondeu, afivelando a capa. – Eu odeio isso sabia? – perguntou desabotoando o punho da camisa.

- Isso o que? – perguntou.

- Estereótipos, porque sou rei, eu não posso fazer nada pesado. Porque uma pessoa esta doente, ou magra demais ou gorda demais, baixa demais se ela tem riquezas demais ou de menos, ela tem que andar com pessoas dos mesmos estereótipos que os dela? – disse segurando o machado olhando-a – Eu acredito que o que importa é quem são por dentro. Pessoas julgam sem conhecer, isso me tira do sério.

- Você não julga as pessoas sem conhecê-las? – perguntou observando-o.

- Não. – disse olhando em volta. – Se perde muito por julgar as pessoas apenas por fora.

- E se você conhecesse uma pessoa por dentro. – ela começou e ele esperou -Por dentro e parcialmente por fora.

- Parcialmente por fora? – perguntou confuso

- É, se você conhecesse alguém totalmente por dentro, e por fora faltasse um detalhe, um detalhe razoavelmente importante. – Joseph esperou – Quando você soubesse desse detalhe, julgaria a pessoa por dentro?

- Eu gosto do interior da pessoa? – perguntou levando a história hipoteticamente.

- Aparentemente ama. – ela sorriu com a ingenuidade dela.

- Se eu amo o interior dela... – ele deu os ombros – Quão grave é o que eu não sei?

- Muito. – disse se abraçando com a capa dele.

- Iria depender, estou confuso. Por que está me perguntando isso?

- Não sei, o discurso sobre não julgar antes de conhecer me deu curiosidade, vamos lá, majestade.

Ian, que estava no castelo observou a cena de longe. Viu Micaela segurando a capa de Joseph, o olhou de modo duvidoso e riu. Ele ergueu o machado e desceu na madeira, que partiu em duas. Não era o jeito de se fazer, mas era lenha. Ele sorriu para ela, vitorioso equilibrando o machado com uma mão, e ela bateu palminhas, dando pulinhos.

- Ham? O que acha? – disse andando de braços abertos para ela, sorrindo orgulhoso.

- Meu herói. – disse caminhando até ele, rindo.

Ian viu Micaela pular no pescoço dele, beijando-o. Joseph a segurava no ar, retribuindo o beijo apaixonado. Ian negou com a cabeça suspirando e saindo dali. Ficava a questão: Seria ele capaz de perdoar?

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora