Capítulo 50

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Micaela não sabe quanto tempo havia passado. Poderia ser minutos, horas, dias. Ela perdeu a noção do tempo a partir do momento que foi levada. Só sentia dor, estava presa, amarrada e cada parte do seu corpo doía terrivelmente. Pela temperatura fria, úmida. Ela tinha certeza de haviam levado ela para a masmorra. Estava de pé, amarrada em uma pilastra pelos braços, cintura e perna.

Não conseguia enxergar. Já havia apanhado tanto, mais tanto que ela se perguntava como ainda não havia morrido. Sentia dor, sede, fome. Seus braços doíam, seu corpo gritava para sair dali. Havia sangue em seu rosto, em seus braços, seu vestido. Ela contava o tempo por respirações. Respirar já era uma dificuldade, somente respirava pela boca, já que o sangue seco obstruía seu nariz.

Eles voltaram e faziam perguntas. Ela não sabia responder e então apanhava novamente. Eles achavam que sob a dor ela diria a verdade. O inferno é que ela não sabia a verdade, ela não era a espiã. Os momentos de paz eram quando havia silencio. Ela ficava quieta, de olhos fechados, analisando sua situação. Suri, por outro lado estava irredutível.

- Papai... – disse, com um sorriso angelical, angelical demais. – Eu NÃO vou comer, eu NÃO vou brincar, eu NÃO vou tomar banho, eu NÃO vou tomar meus remédios. – Joseph revirou os olhos – Eu NÃO vou fazer NADA até Mica voltar. É minha palavra final. – disse tranquila. A menina trancava a boca sempre que lhe davam de comer, ou tomar os remédios. Mordia e arranhava qualquer criada que lhe tenta dar banho. Passava o tempo todo de braços cruzados, olhando para cima.

- Pois tu não faras mais nada nunca. Ela não ira voltar. – disse, sem paciência, se levantando.

- Eu te odeio. – murmurou, olhando o pai com desprezo. Joseph olhou a menina, incrédulo. Era a primeira vez que ela dizia isso.

- O que disse?

- Eu o odeio! – repetiu, erguendo o rosto para ele – Apenas uma pessoa no mundo gostou de mim de verdade, sem me tratar com pena ou por obrigação. Apenas uma pessoa me amou de verdade, mesmo eu sendo a aberração que sou, o senhor a toma de mim! Eu o odeio! – disse, a voz carregada de mágoa.

- Suri, Micaela não foi a única pessoa que a amou. Não diga tolices. – pediu nervoso. Sabia líder com tudo, mas sua filha dizendo que o odiava era algo fora de seu alcance.

- É mesmo? Quem mais? Mamãe? Tu? Por deus! – ela virou o rosto.

- Suri, não fale assim de sua mãe. – ordenou severo.

- Micaela me amava, gostava de ficar comigo, de brincar comigo, mesmo do jeito que sou. Queria me ver feliz, não por ser a princesa, ou por ser sua filha, mas porque queria ver eu uma criança feliz! – continuou – Ela gostava de ti também.

- Era mentira. – alegou, respirando fundo.

- Não, não era. Ela nunca me disse, mas eu sempre vi o modo como ela ficava quando o senhor se aproximava. Ela corava, ficava sem jeito, as vezes sorria, os olhos brilhavam. – Joseph não queria ouvir – Perguntei se ela queria ficar com o senhor, se seria minha mãe, mas ela disse que não podia. Pois minha mãe havia morrido, mas ela queria ser minha amiga, e gostava do senhor. Todos que eu vejo olharem para ti, tem medo ou respeito, mas te olhava e gostava do que via. Não do rei, não alguém da realeza, mas da pessoa! Eu sou uma criança e entendo isso, e tu um rei ainda se quer percebe? não perca a paciência, Camila morreu por ela...O que fez com ela papai?

- Não vou discutir com você. – encerrou, dando as costas.

- Eu tampouco. – disse se afundando nos travesseiros. Joseph saiu, batendo a porta. Nada mais foi dito.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora