Capítulo 97

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- Por que não posso vê-la? – perguntou indignado, quando a sogra o parou na escadaria da torre. Ela desceu em busca de mais toalhas. Ele não estava gostando da expressão dela. Piorou quando ouviu o grito de dor de Micaela. – Por que ela está gritando?

- São gêmeos, Joseph. – respondeu, e ele parou. Nicolas que passava no corredor, ouviu. A alegria havia sumido de seu rosto. – Eu preciso ir. – Ela terminou de descer. Joseph ficou parado, estático. Micaela gritou outra vez.

- Venha. – Nicolas o chamou, tirando-o dali.

Acontece que gêmeos naquela época não era uma coisa boa. Em geral, ou a mãe morria no parto, ou a criança. Quando por milagre, conseguia dar à luz, ambos eram prematuro e não desenvolviam. Esse era o caso de Micaela. A notícia caiu como desgraça e toda comemoração caiu em uma corrente de preces. Micaela não podia morrer. Não houve tempos mais sombrios naquele reino como na época após Camila morrer. Joseph não merecia. O tempo passava, e todos estavam sentados na mesa da sala principal, em silencio. Joseph tinha o olhar distante.

- Não está dando certo. – Vanessa murmurou para Robert. Ele ficou quieto. A verdade é que Vanessa nunca se permitiu ter uma amiga, uma verdadeira amiga. Micaela a fazia se sentir a vontade, se sentir bem. E agora sua única amiga está morrendo, e ela não sabia o que fazer para ajudar.

- Se ela conseguisse pelo menos...

- Ela não está conseguindo. Tente escutar. – disse. Ambos ficaram calados, então por um instante o coração de Micaela que batia freneticamente, perdeu o compasso parando por um instante logo voltando.

- Vá. – Robert aconselhou e Vanessa se levantou indo em direção a torre.

Na torre, a situação estava difícil. Micaela não tinha mais forças, e a dor não cedia. Ela estava cansada, pálida, havia perdido muito sangue. Tremia a cada minuto. Não conseguia mais fazer aquilo. Vanessa entrou na torre e se sentou ao seu lado, apanhando sua mão.

- Estou morrendo... Estou morrendo Vanessa. – ela sabia disso.

- Tente se acalmar. Está perto de acabar. – olhou os médicos, desafiando alguém a desmenti-la.

- Eu não aguento mais. Dói muito – ela soluçou – Não tenho mais forças. – Vanessa respirou fundo.

- Ei, ei, ei, ei. – disse chamando atenção de Micaela. O bebê estava atravessado. Logo não teria mais oxigênio. – Eu não vou aceitar que desista!

- Eu não consigo. – disse chorando.

- Respire fundo. Juntas, tudo bem? – Micaela negou sabendo que não conseguiria. – Tira essa mão daqui! – rosnou e a parteira tirou a mão da barriga de Micaela, assustada.

- Essa manobra é de ajuda, alteza. Ajuda empurrar o bebê. – explicou. Vanessa colocou sua mão no lugar.

- Com as duas mãos juntas você não tem um terço da minha força, que com apenas uma mão minha acredite. Logo ela se virou de frente para Micaela. Joseph está lá embaixo. Aflito e angustiado. Cada segundo que passa esse bebê fica sem respirar. – Micaela soluçou, sabia que sem forças não tinha como tirar o bebê, e isso o prejudicava ainda mais. – Nós vamos tentar, eu não vou deixar você morrer. Respire fundo. – ela assentiu, engolindo o choro. A dor veio com tudo – No três...um...dois...três!

O grito seguinte de Micaela foi mais alto. Uma das mãos de Vanessa comprimia a barriga dela, empurrando o bebê, e a outra segurava sua mão. Ela parou de apertar a mão da outra, que retribuiu, incentivando a respirar.

- Não! – proibiu quando percebeu que ela ia parar – Não se atreva!

- Não dá mais. – ela forçou, e apertou ainda mais a mão dela.

- Respira. – ela caiu nos travesseiros ofegando, cansada. – Outra vez.

Os gritos se seguiram. Vanessa parecia determinada. Então quando Micaela achou que não conseguiria mais... a dor se foi e o silencio reinou. O segundo bebê não chorou. Os médicos o manusearam de imediato, cortando o cordão umbilical. Depois de desobstruir as vias aéreas do bebê, um chorinho fraco ecoou pelo quarto. Micaela sorriu.

- A proposito...não, você não vai morrer. – Vanessa sorriu de canto, se levantando.

O sino tocou novamente... apenas uma vez. O reino saiu de suas preces para uma comemoração furiosa. Duas lagrimas caíram dos olhos de Joseph, que tinha a cabeça baixa, enquanto suspirava. Os outros se levantaram, comemorando, mas ele não tinha reação. Amanheceu tendo uma filha... e agora tinha três. Era uma menininha. Nicolas o agarrou a força pelas roupas, dando lhe um abraço caloroso comemorando as boas novas.

Na torre, Micaela foi levava para o banho com a mãe. O médico trabalhava nos bebes, e os criados trocavam a cama. Por fim tudo estava limpo. Logo ela foi colocada a cama novamente. Suspirou cansada, relaxando o corpo. Foi quando Joseph chegou.

- Ei. – disse preocupado, indo até ela. Ela sorriu para ele.

- Você os viu?

- Não. Os médicos ainda não deixaram. – ele beijou a testa dela – O que houve?

- Eu não sei. Estava tudo bem, de repente aconteceu. Pensei eu não fosse conseguir.

- Não diga isso.

- Devemos muito a Vanessa, mas do que podemos pagar um dia. – ele a ninou

- Como se sente?

- Fraca. Cansada. Sinto que dormiria por dias. Mas não posso dormir ainda, preciso vê-los. A menina é a mais nova e menorzinha. – comentou e ele sorriu.

- Grandão. – lembrou e ela sorriu – Durma, poderá vê-los quando acordar. – ela negou.

- Não. Eu preciso segurá-los.

Quase uma hora depois, os médicos vieram. A menina vestia rosa e o menino azul. Ambos vestidos de uma manta, que os aqueciam. Entregaram o menino para ela, e a menina que era mais frágil para o pai. Micaela olhava o filho, admirada. Joseph passou o dedo sob o rostinho da filha, delicadamente. Ele ergueu o olhar e viu Micaela observando aquele sorriso no rosto dele. Sorriu levando o rosto até o dela, selando em um beijo.

- Tão pequena. – observou a filha – Gostaria de ter guardado eles por mais tempo. Sinto que a culpa é minha.

- Não é culpa de ninguém. Deus quis assim, está tudo bem agora. – Micaela assentiu.

Minutos se passaram em silencio até que o rosto dela desfaleceu no travesseiro, e o braço ainda segurando o filho protetoramente. Ele se sobressaltou, levando a mão ao pescoço dela, procurando sua veia. Mas a pulsação estava normal. O cansaço tomou conta.

Vanessa tocou o ombro do médico indicando o corredor para conversar.

- Alteza eu preciso falar com ele.

- Fale comigo.

- Os bebês são muito prematuros. A gravidez foi interrompida no sexto mês, eles ainda não estão prontos. E os bebês estão fracos. Não conseguiram mamar sozinhos, tivemos que alimentá-los com um suprimento preparado. As perspectivas não são muito boas. É necessário que estejam preparados. Principalmente pela menina. Ela quem provavelmente não passará da noite. O menino também não está muito longe disso.

- Agora me diga ao que não sei. – Robert disse parado atrás do médico. O médico se virou de susto, não tinha o visto ali. – O recado foi dado, receite seus remédios e pode ir. – O médico ficou estático e se viu encurralado entre Robert e Vanessa. Era apavorante.

- Nenhuma palavra a ninguém. Entendeu? – ela disse ao médico que assentiu tremulo, e saiu dali. Vanessa suspirou. – Esse dia não vai acabar nunca?

- Não por agora. Ele tem razão, o coração da menina mal bate, e já falha constantemente. Não possui forças, nenhum dos dois. – Vanessa suspirou. – Precisamos nos apressar.

Ela assentiu, e ambos sumiram pelo corredor. Bastava ver no que isso ia dar.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora