Capítulo 67

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Era noite. Suri adormeceu pela manhã, logo após tomar o remédio, e não acordou. Estava pálida, quieta, mal podia respirar.

- Tenha calma. – pediu observando a menina.

- Ela está com aparência de Camila. – ele estava entrando em pânico – Eu vou chamar um médico. – disse se levantando rapidamente.

- Ei. – ela o segurou pelo braço. Joseph a olhou, atordoado. – O médico resolveu da última vez? Confie em mim.

- Com licença. – Nicolas bateu na porta, e eles o olharam – Joseph, o jantar foi servido. Tu vens?

- Não.

- Vai. – ela rebateu, ao mesmo tempo que ele. Nicolas ergueu a sobrancelha, esperando. Joseph a olhou indignado – Sim, tu vais. Sua preocupação vai deixá-la ainda mais nervosa, ande. Só volte quando eu te chamar. – disse, empurrando-o.

- Não irei sair daqui. Micaela?

- Precisa de ajuda? – Nicolas perguntou sorrindo.

- Por favor. – pediu cansada.

Houve uma lutar corporal rápida dentro do quarto. Nicolas era rápido, mas Joseph se esquivava. Até que ela se lançou o abraçando com força, o que deu tempo de Nicolas o agarrar pelo fundo da camisa.

- Micaela. – ele contestou.

- Confie em mim, vá. – pediu acariciando o rosto dele.

E Nicolas o levou. Micaela olhou Suri, após fechar a porta. A menina estava quase cinza. Apenas horas depois, já de noite foi quando ela despertou. Suri gemeu, franzindo o cenho, e Micaela se adiantou.

- Shh. Shhh – disse apanhando o rostinho dela – Eu estou aqui.

- Meu corpo está doendo – gemeu rouca.

- Calma.

- Ai. – choramingou, se encolhendo. Só que dessa vez, ela se encolheu totalmente, junto com as pernas – Você viu o que eu fiz? – perguntou chocada.

- É claro que eu vi. – disse dando lhe um beijinho.

- Está doendo! – estava quase em lagrimas.

- Calma, respire. – Suri soluçou segurando as pernas. Era como se sentisse pontadas.

- Faça isso parar. – pediu angustiada.

Micaela se levantou, indo até os pés da cama. Apanhou um dos pés da menina com cuidado, tentou dobrar as pernas, mas ela gritou. Micaela respirou fundo. Ela começou a massagear os pés da menina, que choramingava angustiada.

Joseph observava tudo atras da porta. Levou horas para Suri parar de chorar, mais algumas horas para se acalmar. Já amanhecia quando ela cansada, adormeceu. Ele entrou no quarto e Micaela o viu. Ambos estavam cansados. Joseph foi até ela, apanhando no colo e beijando seu ombro.

- Acabou? – perguntou baixinho.

- Não posso ter certeza, creio que ela ainda sentira dor quando acordar – ambos suspiram ­– Sinto falta da tua cama agora. – ela estava realmente cansada. Desde a fuga ela não dormia.

- Durma um pouco. Está quase despencando. – disse tirando o cabelo do rosto dela.

- Dormirei quando você for. Estou bem. – disse se aconchegando no peito dele.

- Não gosto de vê-la sofrer assim. Minha função sempre foi impedir que tudo ou qualquer sofrimento alcançasse Suri. – observou a filha dormir, o rostinho ainda molhado de lagrimas.

- Não poderá fazer isso para sempre. – aspirou o cheiro dele – E pense, logo ela estará correndo pelo castelo. – ele sorriu.

- Teremos que tranca a porta do quarto. – disse divertido. Ela o beliscou e ele riu.

- Humm. Seria um abuso meu pedir que me beijasse? – estava encolhida em seu peito, que sorriu tocando-lhe o rosto.

- Eu estava prestes a pedir. – confessou. Joseph abaixou o rosto, tomando os lábios dela de modo delicado.

O sentimento que havia entre os dois parecia se fortalecer cada vez mais. Só de sentir os braços dele, ou até mesmo seu cheiro, ela se sentia segura, em casa. Ela o abraçou o pescoço. Joseph suspirou com a receptividade dela, satisfeito. Essa sim o amava, o queria. Podia ver em seus olhos, o modo como ela o chamava.

- Nem no meu leito de morte vocês dois param com isso? – Suri perguntou observando os dois. Micaela e ele se separaram, sobressaltados. Ela sorriu.

- Ela começou. – acusou brincando e Micaela ergueu a sobrancelha ultrajada. Suri riu.

- Sente alguma coisa bebê?

- Meu pé está formigando, só, eu acho. – respirou fundo, então se tocou. Seu pé jamais formigou – Ei, olhe isso!

- Fique calma. – ele pediu cauteloso.

- Mas está formigando! – repetiu, como se Joseph não tivesse entendido a mensagem.

- Tente se mover, sem expectativas. Apenas tente.

Suri franziu o cenho delicado, olhando os pés. Aos poucos o pé direito foi se movendo, como se ela tivesse dando um impulso para se levantar.

- Devagar. – orientou, mas Suri ignorou.

A menina conseguiu dobrar a perna quase na metade, então ofegou cansada. Micaela apanhou as pernas dela.

- Dói? – flexionou o joelho da menina, dobrando e desdobrando.

- Formiga, meio que arde. – disse sonolenta.

- Será que foi pouco? – ele sussurrou para Micaela.

- Creio que com mais tempo... Suri você... – ela parou. A pequena caiu no sono outra vez – Deixe que ela durma. Vai ficar bem.

Ela apanhou algumas almofadas e o chamou junto a ela. O puxou para o chão. Joseph achou graça, ela sempre o surpreendia. Se ajoelhou desabotoando o colete, e tirou os sapatos. Ele a viu desamarrar seu cinto, divertido.

- Posso tirar sua roupa também? – propôs, e Micaela revirou os olhos.

- Não seja bobo. – ela empurrou as sapatilhas de qualquer jeito, e ia se deitar mas ele a deteve – O que?

- As costelas. – lembrou severo. – Você não está em condições de reclamar, ainda estou pensando se devo enforcar você por ter fugido ou não. – ele afrouxou o vestido dela – Micaela...

- Sim? – respondeu cansada.

- Uma das minhas adagas sumiu, quer explicar?

- Queria que eu fosse desarmada?

- eu não queria nem que você fosse! – corrigiu – Onde está? – ele interpretou o silencio dela de modo errado - Micaela, você o atacou?

- Ele me atacou. Tentou me violentar. Eu apenas tentei me defender, mas escapou das minhas mãos. Eu a perdi. Acabei usando a espátula da lareira, para me defender. – se virou para olha-lo. Ele parecia angustiado por ela. Só de pensar que Hades colocou as mãos nela, o sangue dele fervia.

- Maldito seja. – rosnou.

- Atingi a cabeça dele até que desmaiasse. Ele precisava entender que o único que pode me tocar é você. – disse beijando.

- Venha. – ele se deitou, puxando-a para o seu peito. Ela o agarrou, se acomodando sobre ele. Gostava disso.

Os dois dormiram rapidamente. Perderam a noção do tempo, por conta do cansaço.

Se entregando ao inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora