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Simone Tebet
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"E então doutor?"... "Ela está bem agora, a cirurgia foi um sucesso, mas a criança não resistiu"... "Quantas semanas ela estava?"... "Se aproximava do terceiro mês"... e outra vez senti o meu mundo desabar, mais um bebê nós perdemos, e isso tudo é culpa minha.

_Isso não é culpa sua, Simone_ Janja disse.

É como se ela tivesse acabado de ler os meus pensamentos, e soubesse exatamente o que eu falava em minha mente, e como sempre, mais uma vez eu me culpava por mais um acontecimento como esse.

_Veja o que aconteceu com ela desde que entrou para essa vida_ falei num sussurro.

_Desde quando ela quis amar você, Simone, partiu dela essa decisão também_ lhe olhei.

_Que decisão? me amar?_ eu estava confusa.

_Decisão de entrar nessa vida, junto de ti, e querer estar com você_ colocou sua mão na minha.

Eu disse outras vezes mais que a porta estava sempre aberta para ela ir embora, eu não iria lhe proibir de querer ir, caso quisesse mesmo ir, mas ela não quis, nem na pior fase do nosso casamento ela quis ir, bom... teve um breve momento, mas ela desistiu, e continuou.

_Ela fez isso por impulso, Simone, por querer proteger a filha de vocês, uma coisa que qualquer mãe faria_ disse novamente.

_Aquilo não era um assalto Janja, foi apenas um pretexto para..._ iria lhe dizer.

_Como assim não foi um assalto?_ Janja perguntou sem entender.

_Não foi, Janja, não foi assalto, não foi_ o desespero voltou a percorrer meu corpo.

Não foi um assalto, não mesmo, como eu ia dizendo à Janja, foi apenas um pretexto, e na verdade o tiro era pra mim, quem é a mafiosa sou eu, quem já mandou matar várias pessoas por conta de suas escolhas foi eu, foi eu, foi eu, era pra mim, o tiro era pra mim, não é atoa que decidi ficar distante na minha própria casa.

_Isso não deveria ter acontecido_ falei baixo.

_Você deve pensar agora no que virá a seguir, no que irá acontecer agora_ disse.

_Merda, tudo estava pronto para ser feito, Janja, nós iríamos..._

_E ainda será feito, ou você desistiu?_

_Eu não desisti, mas e se ela decidir que passou da hora de ir?_

_Depois de tudo isso? Simone, olha..._

_E ela vai levar nossas filhas, e nunca mais eu vou ter notícias, não..._

_Simone, se controla, presta atenção, no momento, ela ainda está..._

_Em uma cama de hospital_ completei sua frase.

Aquelas palavras do médico ainda estão vivas em minha mente, a parte que fala em que nosso filho que não sabíamos outra vez que esperávamos, não resiste, acaba comigo, o terceiro bebê que perdemos, porra.

O preço de um amor bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora