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Simone Tebet
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_Mata ele agora_ ordenei.

_Simone, não acha..._

_Não Janja, eu de saco cheio_ bufei, indo até a janela do quarto.

_Não, por favor, eu tenho família, minha esposa e filho estão me esperando_ suplicou pela sua vida novamente.

_Janja, eu não vou contar até três dessa vez, agora, mate ele_ ele chorava feito criança.

_Simone, pensa um pouco por favor_ Janja falou.

_Pensar um pouco? é isso mesmo?_ eu saquei a minha própria arma e apontei pra ele.

_Por favor, não, não, por favor dona Tebet, por favor não me mate_ se remexeu na cadeira onde ele tava amarrado.

_Então me diga, quem mandou você incendiar a Tebet Betting?_ sei lá quantas vezes eu já perguntava de novo.

A Tebet Betting é um dos meus hotéis, onde há diversos tipos de jogos, e nessa madrugada, acordei com a ligação insistente de Janja, avisando que um dos lugares que eu amo estava pegando fogo, meu ódio subiu na hora.

_F-foi... foi o..._ ele gaguejava.

Logo pude ouvir seu grito de dor após o primeiro disparo, foi no pé esquerdo dele, de início, o próximo se ele continuar a gaguejar, será bem no meio da testa, nada tão ruim assim.

_Foi o Pacheco, dona Tebet, f-foi ele que mandou eu..._ outro disparo.

Janja, minha grande amiga, quase como uma irmã pra mim, me olhava assustada, eu sei que ela não queria que eu fizesse isso, mas eu tava com ódio, muito ódio.

_Mande alguém limpar essa sujeira, por favor, e não venha atrás de mim_ subi as escadas e fui para o meu quarto.

Logo mais ainda tenho que ir até a minha comunidade, só espero que por lá não tenha nenhum tipo de problema, já basta o estado em que ficou alguns andares do meu hotel.

Peguei uma garrafa do melhor whisky que tem no Rio de Janeiro, e um copo, enchi com aquele líquido marrom, e engoli de uma só vez, fechei os olhos quando a bebida desceu rasgando a minha garganta.

_Que filho da mãe... você vai pagar dobrado Pacheco, ô se vai_ taquei o copo na parede.

Andei até a pequena cômoda que há em meu quarto, apoiei o cotovelo ali em cima, e baixei minha cabeça, apoiando a testa nas mãos, e deixei que algumas lágrimas rolassem por meu rosto.

_Vocês foram cedo demais... por quê?_ perguntei olhando pro quadro.

Peguei de cima da cômoda e me sentei na poltrona, fiquei olhando fixamente para a foto das duas pessoas ali, com aquele sorriso tão lindo no rosto, fiz um carinho no quadro.

_Eu poderia ter me formado em uma grande médica, mas vocês se foram, e eu fiquei sozinha, por quê?_ eu sempre faço essa pergunta, por quê?

As vezes acordo assustada pela madrugada, é quando eu acabo de ter aqueles sonhos com eles, é quase a mesma coisa sempre, eu vejo o carro deles afundando naquele rio, e não consigo fazer nada.

Meus pais sofreram um grave acidente quando eu tinha os meus dezessete anos, eles conseguiram me tirar do carro, porém, nem a mamãe e nem o papai conseguiram mais sair, eu era tão jovem e não consegui ajudar eles.

Depois de horas, que a ambulância, polícia, chegaram no local, permaneci por duas semanas em um orfanato, mas acabei fugindo dali, eu estava revoltada, tinha perdido as pessoas que eu mais amava na vida.

Lembro até hoje o que me fez vir parar nesse mundo do crime, eu ainda tinha um dinheiro guardado comigo, já que ninguém quis cuidar de mim, nem parentes do meu pai ou mãe, decidi iniciar o meu próprio destino.

Eduardo era o nome da pessoa que me trouxe pra cá, apesar dessa vida bandida, foi ele que me ajudou, eu fui pra ele o seu braço direito, ele confiava muito em mim, eu sabia de tudo o que ele fazia, ele não me escondia nada.

Em um confronto com a polícia, Eduardo acabou morrendo, mas antes disso, ele já tinha planejado tudo, acho que ele já imaginava o que iria acontecer naquele dia fatídico, e então, deixou tudo pra mim.

Aos dezoito anos assumi o papel da mafiosa, tomando de conta de toda a comunidade, e aos vinte, eu já tinha o meu primeiro hotel de apostas, aprendi isso com o Eduardo, ele gostava bastante, e eu construí.

_Agora não mais como sair desse mundo, ele é minha vida agora_ levantei, e deixei o quadro no lugar.

Fiquei de pé próximo à grande janela de vidro, eu estava em um outro hotel agora, são seis e quinze ainda, tivemos sorte de terem pego o criminoso que incendiou o local antes dele fugir.

Da janela, dava para ver mais à frente, um pouco distante, a minha comunidade, e ao olhar para lá, lembrei da pequena Sol, como eu costumo chamar, praticamente vi a Soraya crescer.

Conheci a sua família quando eu tinha os dezoito anos, a Soraya naquela época tinha apenas os seus cinco anos, comecei a ajudar a sua família, já que sua mãe nunca teve um emprego fixo.

Ia em todos os aniversários dela, mas sempre notava os olhares estranhos dos convidados, com isso, eu sempre ia embora mais cedo da festa que seus pais preparavam para ela, era sempre assim.

O tempo foi passando, ela foi crescendo, e quando Soraya completou seus dezoito anos, eu passei a olhá-la de uma outra maneira, eu passei a desejar a Soraya pra mim, mas isso é errado para ela.

Como pode ser possível a mafiosa e a menina da igreja ficarem juntas? sua família é capaz de deserdá-la, e eu quero ver ela conquistando os sonhos que tem, sei que ela faz faculdade de advocacia, havia ganhado uma bolsa de estudos.

_Simone, está tudo bem ?_ ouvi a voz baixa e suave de Janja.

_Sim, com dez minutos eu saio_ ela concordou e saiu dali do corredor.

Peguei na gaveta do meu guarda roupa, uma foto que guardo da Soraya, tirei quando eu a vi distraída em uma loja de flores, estava tão linda, na verdade, ela é a garota mais linda que eu já vi.

_O que fazer com esses sentimentos que tenho por você, Sol?_ perguntei olhando para o seu retrato.

Mas eu tava decidida, queria conquistar ela, e se possível, eu até casaria com ela, desde que percebi os meus sentimentos por ela, deixei de me envolver com várias mulheres, a última vez que fui com uma pra cama, foi há três meses atrás, eu só precisava me aliviar.

Guardei o retrato do meu Sol no lugar de volta, peguei minha bolsa, dona Ju, como eu chamo carinhosamente, havia acabado de chegar, ela trabalha aqui nesse hotel onde eu fico, tenho ela como uma segunda mãe pra mim, ela me abraçou, não me julgou.

Falei à ela que tinha uma pequena baguncinha no meu quarto, avisei também que não voltaria para o almoço, então ela poderia ir embora mais cedo, e sendo assim, eu e Janja saímos, subimos em nossas motos, e seguimos no rumo da minha comunidade.
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🌃🔫

O preço de um amor bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora