24 - Monstro

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A primeira coisa que eu notei foi a Dolores gritando do lado de fora. Então, percebi que ambas as minhas mãos seguravam algo. Na direita estava o celular de Jeff, e na esquerda a coisa mais horrível que eu jamais imaginaria ter nas mãos... Um coração mordido. Eu os deixei cair e me virei enquanto meu coração acelerava com o medo de ver o que havia acontecido.

E lá estava ele, o Jeff, deitado no chão. Seus lábios haviam sido arrancados de seu rosto e sua barriga estava aberta. As entranhas não estavam mais lá, suas costelas haviam sido quebradas. Minha barriga estava cheia... Eu fiz isso. Eu o matei!!

- Você é um monstro! - Dolores gritou enquanto eu caía de joelhos.

Eu logo passei a ter dificuldade pra respirar, percebendo o que havia feito, e então ela não era mais a única gritando. Meu coração apertou e as lágrimas escorreram dos meus olhos enquanto eu me encolhia no chão. Ouvi outras pessoas chegarem, dizendo que haviam chamado a polícia, e então alguém segurou meus braços atrás das minhas costas e forçou meu corpo contra o chão para que eu não me mexesse.

Não levou muito tempo até eu escutar as sirenes, os policiais me disseram coisas que eu não consegui ouvir, me algemaram e me levaram pra baixo. Enquanto eles me empurravam para dentro da viatura, vi uma mulher tentando entrar no prédio mas sendo segurada por algumas pessoas. Ela logo notou minha presença e veio até mim.

- Seu monstro desgraçado! - Gritou, socando a janela. - Por que matou o meu filho?! Eu nunca vou te perdoar!

Os policiais a seguraram para que a viatura pudesse sair. Fui levado pra sabe-se lá onde, mas não parecia muito com a delegacia que visitei assim que Owen me libertou. Tanto faz. Sinceramente, eu estava anestesiado demais pra resistir a qualquer procedimento. Eles tiraram meus sapatos e qualquer outra coisa que eu tinha comigo, deixando apenas as minhas roupas, fizeram eu limpar minhas mãos apenas o suficiente pra conseguirem pegar minhas digitais, perguntaram meu nome, endereço, se eu estava drogado, e tudo o que precisavam. Meu rosto ainda estava cheio de sangue quando me fizeram segurar aquela placa pra tirar a minha foto, nem se importaram em limpar e apenas pegaram uma amostra de dentro da minha boca.

Então, ao invés de me colocarem com as outras pessoas que estavam em uma situação parecida com a minha, me trancaram numa sala e me algemaram à mesa. Depois de um tempo esperando, alguém veio pra ler meus direitos.

- Você tem o direito de permanecer calado. - O policial disse. - Tudo que disser poderá ser usado contra você no tribunal. Você tem direito a um advogado, e mesmo que não possa pagar, terá um designado a você. Compreendido?

- Hm...?

- Você entendeu, Senhor Taylor? Posso repetir se...

- Não, eu conheço os meus direitos.

- Então por favor, assine. - Ele me deu uma caneta para que eu pudesse assinar meus direitos e assim o fiz, então ele puxou tanto a caneta quanto o papel assim que eu terminei. - Pretende contatar um advogado?

- Não.

- Ok... Quer falar sobre o que aconteceu?

- Não sei bem o que houve.

- Tem certeza de que não está usando drogas?

- Sim. - Ele suspirou.

- Senhor Taylor, você foi encontrado com o coração de Jeffrey Steward na sua mão, haviam várias testemunhas para confirmar. É o sangue dele que tem em seu rosto?

- Muito provavelmente, sim.

- Então você admite que assassinou e canibalizou Jeffrey Steward?

- Sim, é bem provável que eu tenha feito isso. Como disse, não lembro bem o que aconteceu. - Ele me encarou por um momento, então suspirou.

- Senhor Taylor, por que fotografou a vítima e enviou a foto para os familiares?

- Eu fiz isso?

- Olha, não tente me fazer de idiota. Fizemos uma rápida investigação no seu celular e vimos seu histórico. Você estava tentando imitar o serial killer Owen Hart? - Quando ouvi aquele nome, algo fez sentido na minha cabeça e eu finalmente percebi o que estava acontecendo.

Sim, eu havia matado alguém. Eu assassinei brutalmente e comi uma pessoa, e ao invés de me sentir mal com isso, agora eu estava feliz. Porque isso significava que eu era um criminoso. Significava que eu ia pra cadeia, e então eu poderia vê-lo novamente. Eu poderia reencontrar o homem que eu realmente amava, e infectá-lo com a minha doença para torná-lo imortal. Nenhuma sentença de morte poderia matá-lo, nós ficaríamos juntos pra sempre. Então comecei a rir de alegria.

- Owen... Eu quero vê-lo! Eu quero tocá-lo e beijá-lo, quero que ele me foda! Agora eu entendo, era a única maneira! - Eu pude ver o nojo no rosto do policial, mas não estava nem aí. Tudo o que me importava agora era o Owen.

- Ok. Você confessou, não tem motivos pra eu te manter aqui. Ainda vai passar pelo julgamento, mas terei que te manter sob custódia preventivamente.

- Mas eu vou vê-lo, né?

- Não sei se você tem noção da sua situação agora, Senhor Taylor. Não vai ser fácil pra alguém como você lá dentro.

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