— Elliot, queremos que conheça o Karl, nosso filho mais velho. – O homem cujo rosto eu mal podia ver disse, e à minha frente estava um rapaz a quem eu consegui reconhecer. Mas ele não tinha uma cicatriz, ainda não, e era bonito. Muito bonito.
— Ele vai ser seu novo irmão! – A mulher falou, animada.
— Prazer em conhecê-lo, Karl! – Sorri, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Ele me encarou, apertando o nariz, então deu um sorriso falso.
— Prazer em conhecê-lo, Elliot! – Ouvir meu nome sair de sua boca pareceu um cântico angelical naquele momento… Mas quando fomos para o quarto após o jantar, ele revelou não ser um anjo. – Eles estão ficando senis.
— O que…?
— Meus pais. Depois que o meu irmão morreu, eles enlouqueceram.
— Não acho que você deva falar assim dos seus pais, eles são ótimos…
— Porra, se liga! Não percebeu que você é só um substituto no joguinho de “família feliz” deles?!
— Substituto…?
— Se meu irmão estivesse vivo, eles jamais teriam trago alguém como você pra nossa casa.
— “Alguém como eu”?
— Sim, um lixo branco, gordo e viado como você. – Ah. Então foi essa a primeira vez que eu ouvi o termo “lixo branco”, isso explica por que me incomoda tanto.
— Eu não sou…!
— É claro que é. – Ele se aproximou de mim, mas eu fiquei nervoso e recuei até atingir a parede. Pousou uma mão ao lado da minha cabeça e apertou minha barriga com a outra. – Quanto você pesa, cem quilos?
— Noventa.
— Tanto faz, ainda é gordo. – Seu rosto se aproximou do meu e sua mão envolveu meu pescoço, apertando levemente. Eu estava tão envergonhado, nenhum menino havia se aproximado assim de mim antes. – Por que está corando? Seu viadinho.
— Desculpa. – Gaguejei, virando a cabeça pro lado.
— Tá bem na cara que você é gay. Você anda e fala como uma garotinha, é nojento. E você é lixo por ser um órfão, não tem boas maneiras e não vai conseguir se encaixar na elite.
— Por que está falando essas coisas pra mim? – Chorei. – Isso é cruel…
— Isso é pra que você saiba se colocar no seu lugar logo de início. Você não é meu irmão e nunca vai ser, é só um vira-latas que meus pais adotaram para entretê-los.
Foi aí que tudo começou. Seu assédio contra mim ficou pior com o passar do tempo, combinado com o bullying que eu sofria na escola e a pressão pra me encaixar na alta sociedade, que era um lugar ao qual eu não pertencia. Eu não contei a ninguém, não apenas por sentir que aquela era a minha última chance de ter uma família, mas também por ser a primeira vez que fui tocado por outro cara. Eu sucumbi ao meu pecado, deixando-o fazer o que queria comigo até que não aguentei mais. Até que a dor se tornou insuportável e eu tive que me defender com os meus dentes.
Karl mentiu em seu depoimento, o que ele falou sobre os troféus de futebol americano não era uma metáfora.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...