Eu lembrava da cara dele. Bem pouco, mas lembrava, e acho que o nome dele era Emmanuel ou Edmund, algo assim. Se eu não estava enganado, além de padre ele também era advogado. Afinal, um orfanato precisa de alguém pra cuidar de questões legais. Mas o que ele tava fazendo ali? Como descobriu tão rápido sobre a minha prisão? Eu estava nervoso. Assim que sentei na sua frente, ele bateu no vidro e apontou para o telefone ao meu lado. Será que eu deveria ouvi-lo, ou apenas voltar pra minha cela…? Acabei deixando minha curiosidade vencer e peguei o telefone.
— Há quanto tempo, Elliot.
— Gostaria de não termos nos encontrado novamente.
— Por quê? Fiz alguma coisa errada?
— Não você, especificamente, mas… Eu queria esquecer de todos os que me lembram daquele lugar.
— Mas somos sua família, no fim sempre estaremos aqui por você. Veja bem, não é a primeira vez que eu tenho que te livrar desse tipo de situação e, se precisar, o farei pelo resto da minha vida. – De que merda ele tava falando? Eu nunca fui preso… Ele só podia estar tentando me manipular.
— E o que você espera que eu faça pra retornar o favor?
— Ah, rapaz… – Ele sorriu. Que nojo, tava na cara que era falso. – Somos família, e cuidamos uns dos outros. Agora, vamos direto ao ponto. Eu estudei seu caso, mas tem algumas coisas que tenho que ouvir de você.
— Não preciso de advogado.
— É claro que precisa, vou arrumar um jeito de te tirar daqui.
— Não quero a sua ajuda. Não tem nada que você possa fazer, é inegável que eu tenha matado uma pessoa e comido sua carne e, mesmo que ele não merecesse, mesmo que eu me arrependa e sofra pelo resto da vida, não tem como desfazer isso. Esse é o único lugar pra alguém como eu.
— Ok… Ainda assim, estarei aqui se precisar.
— Não vou precisar. – Eu não queria continuar com aquela conversa, então desliguei e pedi pro guarda me levar de volta.
Não achei que fossem procurar por mim tão cedo, aquilo era absurdo. Eu estava ali a apenas um dia, como descobriram tão rápido? Será que estavam me vigiando? Mas se estivessem, por que não me encontraram quando fui sequestrado? Mas a Julia me ligou, não foi…? Não, aquilo era impossível, não tinha como estarem me vigiando. Só me acharam porque eu fiz merda.
Eu tive a chance de viver uma vida boa com o Jeff, ele era perfeito. Ele me amava e eu podia ter aprendido a amá-lo. Mas eu fiz merda, mesmo que não tenha sido minha intenção, e aquilo estava fazendo meus nervos doerem enquanto eu chorava na minha cama. Eu não devia tê-lo matado, Jeff não merecia isso, ele era o único que poderia finalmente me libertar do meu passado e agora eu estava caindo de volta nas mãos deles. Eu preferia morrer, mas aquilo não era mais uma opção. Tudo por causa daquela doença, era tudo culpa do Grayson.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...