Fiquei paralisado ao ouvir as palavras "serial killer", e minhas mãos começaram a tremer quando a jornalista disse a próxima frase.
- Owen Hart se entregou nesta manhã, o suspeito confessou ao entregar os celulares de suas vítimas como prova, os quais eram usados para tirar fotografias dos corpos das vítimas para mandá-los para suas famílias.
- Ah, finalmente pegaram ele. - Jeff comentou. - Alguns amigos meus estavam ficando com medo de sair à noite ultimamente... Até eu estava. É bom saber que podemos relaxar, né? - Perguntou, mas eu mal consegui ouvir, era como se o mundo à minha volta tivesse deixado de existir. Senti meu rosto ficar úmido e o ar era incapaz de atingir meus pulmões, o que reverberava em meus ouvidos era a frase "Owen Hart se entregou". Eu não podia acreditar. Não até mostrarem sua foto.
- Não! - Gritei, me encolhendo no sofá. - Eles irão matá-lo! Por que fez isso, Owen?!
- Ei, você conhecia esse cara?
- Irão matá-lo! - Repeti, era tudo o que eu podia pensar. A ideia de que ele pegaria a pena de morte estava fazendo meus nervos explodirem. Por quê? Eu deveria estar feliz com isso.
- Eu sinto muito, Elliot. Eu não sabia que era um conhecido seu... - Jeff parou de falar ao ouvir o resto da notícia.
- Além das treze vítimas do sexo masculino e de sua própria mãe, que foi encontrada morta na casa do assassino, é investigada a possibilidade de haver uma décima-quinta vítima. Evidências apontam que o marceneiro mantinha um refém em sua oficina, onde ele utilizava os equipamentos para desmembrar os corpos. Segundo testemunhas, a vítima pode ter sido liberada na noite anterior. Seu paradeiro está sendo investigado.
- Aquele lugar... Aquelas fotos... Era você, não era? - Eu não respondi, só conseguia chorar e gritar de desespero. - Ai, meu Deus. Elliot, você precisa ir à polícia!
- Eu não quero! Por favor, não me obrigue!
- Eu sei, vai ser difícil ter que reviver isso tudo, mas você tem que denunciar.
- Você não entende! Ninguém vai acreditar em mim!
- Claro que vão, confia. - Ele segurou as minhas mãos, com firmeza. - eu acredito em você.
- Eu não quero que ele morra!
- Elliot, eu sei que você cresceu dentro do cristianismo e por isso pensa dessa forma, mas aqui é o Texas. Ele vai pegar a pena de morte com ou sem seu testemunho, mas denunciar só vai te fazer bem. Quando acabar, você vai conseguir tirar esse peso dos ombros.
- Só vai ficar pior!
- Elliot, me escuta. Você está traumatizado, não consigo nem imaginar as coisas horríveis que aquele homem fez com você, mas ele não pode mais te machucar. Você não precisa fazer isso hoje e eu não vou te forçar a nada, mas por favor, considere denunciá-lo.
- Você não entende, Jeff!
- Eu sei que não, eu só quero te ver melho-
- Eu me apaixonei por ele! - Gritei. Ele soltou as mãos e se afastou, surpreso com o que eu havia acabado de dizer. - Mesmo que por um momento, eu cheguei a pensar que se o tivesse conhecido sem aquela merda toda, ele seria o homem da minha vida. - Arfei, e de repente o medo de ser abandonado me dominou. Eu não deveria ter dito aquilo. Eu não deveria ter revelado o monstro que eu sou! - Me desculpe, eu-
- Isso... Não é culpa sua. - Meu coração acelerou quando ele disse aquelas palavras com um sorriso gentil no rosto. Mais ainda quando ele franziu as sobrancelhas. - Aquele babaca te ensinou a amar da forma errada, eu sei o quanto ele te tratava mal. - De quem ele estava falando, do Grayson? Mas ele me tratava bem... Eu acho. - Por isso agora você não consegue entender seus sentimentos por aquele assassino. - Jeff tocou meu rosto gentilmente, acariciando minha bochecha. - Eu posso te mostrar o que o amor realmente é, se me permitir.
- Eu... - Eu não sabia o que dizer. Meus sentimentos estavam confusos, não acho que eu estava pronto pra isso. Jeff era tão gentil, ele não merecia alguém como eu mas... Eu também não queria ficar sozinho. - Eu não sei...
- Você não precisa responder agora, eu posso esperar. - Meu coração disparou ainda mais. Por que ele queria esperar? Ele não me queria agora? E se ele encontrar outra pessoa enquanto espera por mim? Não, eu não podia deixar isso acontecer. Mas será que eu queria ele? Eu não sei. Só não quero ficar sozinho.
- Não, eu...! Eu quero isso! Quero que me mostre o seu amor! - Ele sorriu novamente, me segurando em seus braços.
- Irei mostrar, todos os dias e em todos os momentos em que estivermos juntos. - Ele pegou o controle da TV, mudando de canal. - Vamos começar por isso, chega de notícias por hoje. Que tal assistirmos algo divertido como uma comédia ou um anime?
- Hã...? - O encarei, confuso. - Não vai me beijar? Não vai me levar pra cama?
- Não, querido. - Aquilo era estranho. Se não era isso que ele queria dizer com a palavra "amor", então o que era?
- Por quê...? Eu pensei que gostasse de mim...
- É exatamente por isso que não irei te levar pra cama, porque eu te amo. - Enfatizou. Como ele podia ter tanta certeza? Ele nem conhecia meu verdadeiro eu. - E quando amamos alguém, devemos respeitar seus limites.
- Mas... Eu não estou impondo nenhum limite.
- Elliot, você acabou de sair de uma situação terrível. Precisa focar em si mesmo, ok? - Focar... Em mim mesmo? Mas isso seria trágico. - Irei ajudá-lo com isso, irei alimentá-lo e levá-lo pra fazer terapia, vou te dar tudo o que você precisa para que possa melhorar. É isso que o amor significa.
"O que o amor significa"... Era isso? Era isso que significava pra ele? Porque pra mim, o amor era... O que era o amor? Ser cuidado? Ir pra cama com um homem para confortá-lo após ele também se tornar órfão, mesmo que ele tenha me torturado? Era Grayson que me mostrou o que era amor quando me fez parar de falar com todo mundo que eu conheci antes dele por me querer apenas para si? Ou quando ele me tinha em seus braços durante as minhas crises, amarrando as minhas mãos pra eu parar de me machucar e me fodendo até que eu parasse de chorar? Ele sempre dizia que eu ficava lindo enquanto chorava...
Talvez o amor ao qual o Jeff se referia não era sobre sexo ou romance. Seria como o "amor" que eu tinha no orfanato? Cuidar de, não apenas uma, como também várias crianças que não são suas com certeza não é fácil, você precisa conseguir amá-las mesmo que seja de sua própria maneira. Mesmo que tenha que corrigi-los quando seu comportamento desvia da norma. Mesmo que manipule suas mentes a ponto de fazê-los "corrigirem a si mesmos" com auto-flagelação, por pensarem que são pecadores que jamais irão para o céu. E eu nem vou mencionar o "amor" das famílias que tentaram me abrigar, que me faz sentir ânsia de vômito.
Não, o amor que ele estava me mostrando não parecia ser assim. Será que era como o amor que eu recebia dos meus pais, do qual eu mal consigo me lembrar? Porque eu tenho certeza, mesmo que brigassem bastante um com o outro, eles me amavam. Meu pai sempre brincava comigo e tentava me ajudar com o dever de casa até quando eu comecei a ficar mais inteligente do que ele após cada dia que eu passava na escola. Minha mãe até mesmo se sacrificou por mim, quando disse para eu beber seu sangue pra que eu não morresse de sede no deserto... Espera.
Ela fez o que?!
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...