7 - Ela

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Pensei que, assim que tivesse a chance, sairia correndo. Mas agora eu não sabia o que fazer. Não foi por ele ter dito que estaria do lado de fora, eu sabia que ele não ficaria vigiando a porta, só que levou um tempo pra eu processar que tinha uma chance... Mas assim que me dei conta, finalmente saí da banheira e fui até a porta. Sair por aí pelado não seria um problema tão grande comparado com tudo o que estava acontecendo, mas como tinha um roupão pendurado na parede, acabei usando ele.

Estranhamente, assim que o coloquei pude reparar que não cheirava como Owen. Ele tinha cheiro de suor, serragem e um pouco de óleo pra madeira, mas aquele roupão era meio... Pútrido. Abri a porta devagar, tentando ver se ele estaria ali. Quando a abertura já tinha mais ou menos um centímetro, senti aquele cheiro podre novamente. Será que estava vindo do corpo lá embaixo? Não, acho que não havia passado tempo o suficiente pra isso. Será que ele mantinha outro cadáver? Mas nesse caso, o cheiro seria bem mais forte.

Isso não tinha importância, ele não estava lá. Eu precisava escapar. Saí do banheiro, cuidadosamente para não fazer nenhum barulho, e notei uma luz vindo do cômodo ao lado. Droga, eu teria que passar por ali pois o lado oposto me levaria de volta ao porão! O que eu deveria fazer? Dava pra ouvir a voz dele vindo do cômodo, ele definitivamente estava ali!

— Tá tudo bem. – Falou, com a voz mais suave que já ouvi sair de sua boca. – Era só a televisão, eu já desliguei. Sinto muito por ter te incomodado.

Agora eu estava curioso. Incomodar a quem? Tinha mais alguém naquela casa? Mas eu não pude ouvir uma resposta para o que ele disse. E aquele cheiro...! Estava vindo de lá! Andei devagar, me encostando na parede pra tentar dar uma olhada dentro do quarto. Finalmente consegui ver que ele estava de costas para a porta, segurando um copo d'água. Ok, aquela era a minha chance. Eu tinha que correr, mas então... Eu a vi.

Uma mulher, tão magra que seus ossos estavam perfeitamente delineados sob sua pele, com cabelos ralos e olhos fundos, que se arregalaram ao me ver. Seu dedo trêmulo apontou em minha direção, e sua boca desdentada formou o nome do homem ao seu lado, sem proferir som algum. Estremeci. Owen se virou lentamente e ambos nos encaramos, ofegantes, aterrorizados. Até que eu corri.

Eu não fazia ideia de que direção tomar, apenas corri até a primeira porta que encontrei e tive sorte de ir parar logo na cozinha. Havia uma porta com um visor de vidro, por onde eu pude ver o lado de fora. Estava quase alcançando, meus dedos chegaram a tocar na maçaneta, mas algo atingiu a minha cabeça. Caí, e vi o sangue jorrar do meu nariz até o chão. Me virei e olhei para ele, que segurava um pequeno banco de madeira bruta. Ele tinha a mesma expressão daquela vez, de quando eu escapei de seu carro.

— Ela viu você... – Falou, andando até o armário da cozinha para abrir uma das gavetas. Mesmo fraco, me arrastei até a porta e consegui segurar a maçaneta mas, antes que eu pudesse abrir, ele me segurou pelo cabelo e me puxou. – Ela viu você!

Senti uma faca penetrar minha barriga e gritei, mas ele cobriu minha boca. Ele tirou a lâmina, tingindo o roupão em vermelho, apenas para me esfaquear de novo. E de novo, e de novo, e várias outras vezes. Tossi, me afogando em meu próprio sangue. Minhas entranhas começaram a cair da minha barriga, e agora eu podia imaginar como o homem no porão devia ter se sentido. Mas diferente dele, eu voltaria à vida.

— Eu disse pra você continuar no banheiro! Agora ela vai ficar puta comigo! – Foi a última coisa que eu ouvi daquela voz insanamente desesperada, antes de morrer novamente.

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