Ter que me agachar e tossir não foi tão constrangedor quanto eu pensava que seria. Na verdade, eu voltei a me sentir dessensibilizado depois que me fizeram tirar minhas roupas pra poderem me dar um banho com aquela mangueira forte, e depois rasparam minha cabeça. Parecia que minha vida estava passando pelos olhos de outra pessoa e eu tinha certeza de que, quando me olhasse no espelho novamente, eu não me reconheceria. E não seria apenas por causa do cabelo raspado.
Enquanto os guardas me levavam pra minha cela, pude ouvir os outros detentos gritando e assoviando pra mim. Eles provavelmente só estavam tentando me assustar, então não me importei com o que estavam dizendo. Mas uma coisa que eu não pude deixar de notar foi o cheiro.
Meu nariz estava mais sensível do que antes de conhecer o Owen, então o cheiro de suor e mijo acumulados me causava náuseas. Mas tudo bem, já que eu poderia vê-lo novamente. Ficaria tudo bem se pudéssemos ficar juntos. Eu estava ansioso, mas eu não poderia encontrá-lo naquela noite. Assim que entrei na minha cela, a porta foi trancada. Eu estaria mentindo se dissesse que o som da tranca não me fez tremer, mas ao menos dessa vez tinha outra pessoa lá comigo… Só não sei se isso era bom ou ruim.
Não estava muito preocupado comigo pois, bem, qual seria a pior coisa que poderia acontecer com alguém como eu? Mas se eu ficasse com fome o suficiente, aquele cara teria um grande problema. Não que eu me importasse, não havia mais consequência pra mim. Eu estava condenado. Por sorte, o cara nem falou comigo.
Eu mal consegui dormir, estava ansioso pra reencontrar o Owen. Quando a manhã chegou e eles finalmente nos libertaram das celas pra tomar o café da manhã, comecei a procurar. Eu não queria falar com ninguém, apenas fiquei olhando cada detento na esperança de achá-lo… Mas era difícil. Tinha muita gente naquela prisão, e todos me encaravam. Aquilo era desconfortável.
Decidi ir pegar minha comida, mas não tinha nenhum lugar onde eu pudesse me sentar sozinho. Eu não queria mexer com as pessoas erradas, o que eu deveria fazer? Pude sentir o suor escorrendo pela minha testa, eu estava ficando nervoso porque aquela situação era um pouco familiar. De alguma forma, me vi ali parado, usando um uniforme de escola particular que me deixava desconfortável porque não combinava comigo, e todas aquelas crianças ricas olhavam pra minha cara e riam discretamente, pois eu me destacava demais… Mas aquilo… Será que algo assim já aconteceu antes?
— Ei, boneca. – Senti uma mão repousar sobre o meu ombro e isso me fez tremer, e por consequência acabei voltando à realidade. Eu não estava em uma escola particular, deve ter sido só a minha imaginação depois de assistir muitos episódios de Gossip Girl. Eu estava na prisão, e a realidade certamente não seria como em Orange is the New Black. Então puxei meu ombro pra tirar aquela mão de cima de mim. – Eita, calma aí!
— Não encosta em mim.
— Como quiser, gracinha.
— Não me chame assim, eu nem te conheço. – Ele riu.
— Ah, mas pela forma que você anda rebolando esse seu rabo, tenho certeza de que vai adorar me conhecer. – Que nojo. Aquilo era tão, mas tão nojento que me dava mais ânsia de vômito do que aquele pão duro no meu prato. Não, eu não ia deixar aquele cara falar comigo daquela forma então me virei, olhando bem naquela cara feia dele. Um dos guardas se aproximou, colocando a mão no meu peito pra me afastar.
— Vocês dois, sem briga.
— Diz pra esse filho da puta ficar longe de mim. – Pedi. – Ou então eu vou arrancar a cara dele.
— Você ouviu, cai fora. – O cara se afastou, mas sem tirar aquele sorriso nojento da boca. – E quanto a você, é seu primeiro dia aqui e já tá arranjando problema?
— Foi ele que começou!
— Não importa, você provocou. Vira homem se não quiser ser assediado. – Mas que porra…! Agora era minha culpa?! – Os prisioneiros ainda não sabem bem o que você fez, e não importa pois alguns são muito piores. Mas nós, os guardas… Nós sabemos muito bem, e se você ousar encostar esses dentes em alguém, vamos te mandar direto pra solitária.
Ele falou como se aquilo fosse uma ameaça. Perto do que eu passei, a solitária não era nada… Mas eu ia me comportar, porque eu queria ficar com o Owen.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...