- Senhor Hart, após todas as tentativas frustradas de assassinar meu cliente, por que decidiu mantê-lo como refém?
- Não queria que ele me causasse problemas. Eu precisava cuidar da minha mãe, se o deixasse escapar, ele iria até a polícia e ela ficaria sozinha.
- Mas qual a razão de não tê-lo assassinado?
- Eu tentei, mas não era tão fácil assim... - Vamos, Owen. Diga logo que você me matou várias vezes. - Então decidi que não daria comida nem água a ele, que deixaria a natureza cuidar do problema por mim. Eu ia precisar ficar fora por um tempo mesmo, seria mais fácil.
- Isso é cruel, senhor Hart. Você tem consciência disso?
- Hm... Talvez. Quando eu voltei, ele tava com uma aparência horrível, sabe? A pele dele estava cinza e cadavérica, mas ele ainda tava vivo. Como um zumbi... - Ele pausou por um momento, olhando para um ponto qualquer da sala, mas não parecia que ele estava realmente vendo o local. Seus olhos estavam distantes e suas sobrancelhas contraíram, ele perdeu o sorriso e falou as próximas palavras em um tom mais baixo. - Quando eu era criança, eu tive um padrasto que me fazia assistir filmes de terror com zumbis e fantasmas, então a minha mãe... - Ele grunhiu e cobriu o rosto com as mãos, tentando se acalmar. Parecia que aquela memória o incomodava muito, me pergunto o que pode ter acontecido... Será que foi quando a mãe dele começou a espancá-lo? - Enfim, isso é irrelevante. Eu só tenho medo pra caralho de zumbis e fantasmas, então ver aquilo me assustou. Daí eu desisti da ideia.
- Evidência número dezesseis da defesa, por favor. - Edwin perguntou. Mas que porra... Por que tinham fotos dos artigos que Owen havia me mostrado sobre a doença? Edwin disse que isso não ajudaria o meu julgamento, eu não entendo. - Você diz ter medo de zumbis, mas usou uma história muito similar para convencer meu cliente que ele era algum tipo de criatura morta-viva que precisa de carne fresca para sobreviver, não foi?
- Sabe, o medo é uma coisa engraçada. Eu tô sempre entediado, então gosto de fazer coisas que me dão adrenalina. Quanto o tédio fica insuportável, tento fazer algo que eu sei que vai ajudar. Às vezes eu ultrapasso o limite de velocidade, às vezes eu mato, e às vezes eu procuro por histórias de fantasmas e zumbis na internet. Foi assim que encontrei estes artigos.
- E mostrou ao Senhor Taylor?
- Sim.
- E ele acreditou?
- De início não, mas acabou acreditando.
- Você acreditou nessa história?
- Eu sei, isso é irracional né? Mas eu queria acreditar, e foi divertido.
- Evidência número nove da defesa, por favor. - A imagem mudou para aquela foto minha, após eu comer aquele cara na oficina dele. Eu desviei o olhar, ver aquilo era doloroso... - Foi divertido quando você usou o fato de ter manipulado a mente do meu cliente de modo a fazê-lo acreditar que era um zumbi, para obrigá-lo a comer os órgãos de uma de suas vítimas enquanto estava quase morto pela fome?
- Não, isso foi nojento. Eu achei que fosse ser divertido, mas não foi. E eu tive que limpar tudo depois, dar banho nele, um saco. Ah, ele quase fugiu naquela noite, mas eu o peguei, e então ele começou a me irritar. - Irritar?! - Ele chorava e me xingava mesmo sabendo que eu poderia machucá-lo, tipo... Dá um tempo, aquilo era um saco. Acho que ele perdeu a vontade de viver ou sei lá, mas eu até que comecei a gostar dele. Quero dizer, eu descobri que ele não era uma puta, que o namorado dele era um babaca e que ele era tão fodido quanto eu... Talvez mais. Mas depois disso ele começou a ficar deprimido, o que era ainda mais irritante pois isso me deu tempo pra pensar nas coisas que ele havia me dito sobre a minha mãe e tudo mais.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...