Eu chorei durante todo o caminho pro apartamento. Olhei minhas mensagens e realmente eram como eu esperava, ninguém se importava comigo. Ninguém além da Julia ligou e as únicas mensagens que recebi eram dos amigos do Grayson me xingando, e também da minha chefe e do locador do apartamento exigindo explicações sobre a minha ausência. Eu não tinha como entrar em contato com ninguém, minha linha estava bloqueada por falta de pagamento.
Eu tava com medo do que me esperava. Será que eles entenderiam? Será que o locador ou minha chefe entenderiam? Ou qualquer pessoa nesse mundo...? Chegar na cidade me deu arrepios. Lembro de quando cheguei lá pela primeira vez a anos atrás, de quão encantado eu fiquei, mas agora... Algo estava estranho. Todas as luzes e carros, os barulhos eram tão... Assustadores. Aquilo mexeu com a minha cabeça, eu me sentia como uma criança perdida na multidão.
- Estamos aqui, senhor.
- Já? - Eu estava tão focado em não enlouquecer com o barulho à minha volta que não notei onde estávamos. - Ah, desculpa! Eu... Eu acho que perdi minha carteira, se importa se eu subir pra pegar o dinheiro?
- Já pagaram pela sua corrida na delegacia.
- Sério? Enfim, obrigado. - Saí do carro e fui até a entrada do prédio, respirando fundo antes de passar pela porta. Engraçado, eu não tive tempo o suficiente pra me acostumar, mas me senti aliviado ao ver aquela portaria. "Finalmente estou em casa", pensei, mas notei o porteiro me encarando, surpreso.
- Senhor... Senhor Taylor, do 102? Você voltou?!
- Sim... Pode me ajudar com a porta, por favor? Estou sem as minhas chaves.
- Irei chamar o Senhor Newman, ele disse que queria falar com você assim que aparecesse.
- Não pode ser amanhã? Eu passei por umas coisas ruins, só quero descansar.
- Desculpe, ele disse pra eu não te deixar entrar.
- O que?! - Franzi a testa, puto. - Por quê?
- Você não pagou o aluguel.
- Mas não tá tão atrasado assim!
- Sinto muito, você vai ter que falar com ele...
- Senhor Taylor. - O locador disse, saindo de seu apartamento. Ele morava na unidade mais próxima à portaria, então obviamente havia ouvido minha voz. Ele se aproximou de mim e me entregou uma chave e alguns papéis. - Mandei as suas coisas pra um depósito, vê se pelo menos pague por ele.
- Senhor, por favor me deixe explicar-
- Estava no contrato, é um bom apartamento por um preço baixo. Já que atrasou o pagamento, está despejado.
- Eu tenho dinheiro no banco pra pagar, apenas deixe eu acessar o Wi-Fi pra eu fazer a transferência!
- Claro, mas e quanto ao próximo mês? Eu liguei pra empresa onde você trabalha e me disseram que você não apareceu por lá, então é bem óbvio que você tá desempregado.
- Eu fui sequestrado!
- Resolva isso na polícia, não é problema meu. - Rangi os dentes, se não os apertasse bem forte eu juro que pularia nele e arrancaria um pedaço daquela bochecha gorda. - Agora pare de fazer escândalo na portaria e vá embora. Você deveria agradecer que eu ao menos guardei as suas coisas ao invés de jogar fora. - Grunhi, mas me virei pra sair. Se eu ficasse lá por mais tempo ia acabar mordendo alguém, então saí correndo.
Meu estômago estava roncando e minhas pernas doloridas por ter corrido muito, eu precisava conseguir algo pra comer e um lugar pra ficar mas... Eu não tinha documentos e nem meus cartões de crédito, quanto menos dinheiro. Mesmo que eu fosse pro depósito onde minhas coisas estavam, duvido que encontraria os dez dólares que eu deixava guardado, aquele porco deve ter pego. E também, eu chequei os papéis e já estava fora do horário de funcionamento. Então o que eu deveria fazer?
Claro, eu poderia ir pra casa de um amigo mas... Os únicos que moravam próximos eram amigos do Grayson, e eles já estavam achando que eu planejei isso tudo. Se me vissem vivo, seria pior. Ah, mas tinha um cara! Sim, o Jeff! Ele e o Grayson tiveram uma briga feia a uns seis meses, chegaram até a trocar socos! Eu tinha parado de falar com ele, claro, pois não queria deixar o Grayson chateado, mas ele sempre foi legal comigo. Talvez ele não soubesse daquela merda toda, então eu deveria tentar ir pra casa dele.
Eu ainda lembrava onde era e o número do apartamento, já que costumávamos ir bastante lá, mas quando toquei o interfone e ele não atendeu meu coração quase parou. Talvez ele não morasse mais ali... Ou talvez ele tenha me visto pela câmera e não quis atender. Mesmo assim, tentei de novo, e então...
- Elliot, é você?
- Sim...
- Caramba, é você mesmo! Sobe aí, você sabe o caminho né? - O portão abriu e eu subi até o seu apartamento. Nem precisei tocar a campainha, a porta estava aberta e quando entrei pude vê-lo, vestindo apenas uma calça de moletom e com o cabelo molhado. Aquele era mesmo o Jeff? Ele estava bem mais malhado agora, o corpo dele parecia de modelo. Mas, bem, a cara ainda era bem sem graça então não tive dúvidas de que era ele. - Desculpa, eu acabei de sair do banho.
- Ah... - Falei, desviando o olhar. Aquilo era esquisito. - Faz bastante tempo que a gente não se vê, né?
- É mesmo! Não fique parado aí, entra. - Acenou, me direcionando ao sofá. - Quer beber alguma coisa?
- Não, valeu.
- Ok, então... O que te traz aqui? - Perguntou, se sentando ao meu lado.
- Hã... - Merda, eu não tinha pensado nisso mas, depois de ficar sem falar com ele por tanto tempo, não seria péssimo da minha parte simplesmente pedir pra passar a noite lá? Apertei as mãos nos joelhos, tentando pensar em como pedir aquilo. - Sei lá, eu tava pensando em você e como eu tava passando por aqui...
- Você terminou com o Grayson, eu sei. - Apertei meus lábios um contra o outro, se ele sabia disso então talvez também soubesse sobre as fotos. - Isso é ótimo, ele é um babaca. - Deixei um suspiro escapar, surpreso com sua reação. Então ele não sabia da história toda? - Mas foi mesmo você que mandou aquelas fotos? - Não, ele sabia. Mas por que estava sendo tão amigável? Todo mundo disse coisas horríveis pra mim...
- Não, eu tava sem o meu celular e só recuperei ele hoje.
- Ah, eu sabia! Você é gentil demais, definitivamente não faria esse tipo de coisa!
- Gentil? - Era estranho ouvir aquilo. Será que eu só havia mostrado uma versão falsa de mim pra ele? Pois se ele soubesse o quão horrível eu sou, não estaria dizendo isso.
- Claro, por isso era uma pena você estar com aquele cara. Mesmo que você tivesse mandado aquelas fotos, acho que ele merecia. Que bom que a pessoa que roubou seu celular fez isso. - Sorri, de leve, mas continuei sem encará-lo. Sim, Grayson mereceu, mas o que aconteceu não foi tão simples quanto um celular roubado. - Mas como você conseguiu ele de volta?
- Hm... - Sinceramente, eu não queria falar disso. Só queria comer e dormir, e esquecer de tudo o que havia acontecido. - Desculpa, eu passei por algumas coisas ruins. Perdi minha carteira, meu trabalho, fui despejado do meu apartamento... Podemos falar disso amanhã?
- Ah sim, desculpa. Quer passar a noite aqui?
- Eu sei, não devia estar pedindo isso, não depois de ficar tanto tempo sem falar contigo...
- Ei. - Ele segurou a minha mão, e isso me fez olhar bem em seus olhos. Ele estava sorrindo tão gentilmente que meu coração disparou. - Eu sei que você parou de falar comigo por causa dele, mas agora que vocês terminaram nós podemos ser amigos de novo né? - Aquelas palavras eram tudo o que eu precisava ouvir, saber que ao menos alguém estaria ali pra me ajudar. Talvez eu devesse ter procurado por ele antes, assim não teria passado por aquilo tudo.
- Claro. - Falei, enquanto lágrimas incontroláveis escorriam pelo meu rosto.
- Ei, tá tudo bem. - Ele me abraçou, e eu chorei em seus braços. - Você vai ficar bem.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...