39 - Louco

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Um arrepio percorreu a minha espinha, meu coração disparou e minhas mãos começaram a tremer. Levou um tempo para ele aparecer, o que só contribuiu com a tensão, mas assim que a porta se abriu e eu pude ver seu rosto, foi como se uma tempestade de pensamentos invadisse minha mente.

Ele estava diferente. Seu cabelo e barba haviam sido raspados, mas isso não tirou sua beleza. A cor laranja certamente o favorecia, me fez suspirar... Eu queria beijá-lo. Queria que ele me pegasse pelo braço e me tirasse daquele lugar... Mas ao mesmo tempo, queria chorar e fugir pra longe dele. Era tão confuso!

- Owen... - Chamei, quando ele se aproximou de mim. Seus olhos encontraram os meus e ele arfou, então olhou pro outro lado. - Owen! - Me levantei, mas um guarda se meteu entre nós dois. - É só um beijo! Me deixe dá-lo um beijo!

- Mas que caralhos... - Owen falou, se afastando. Por quê? Ele não queria me beijar?

- Elliot, se acalme. - Edwin perguntou. - Estamos num tribunal, você não pode fazer isso.

- Mas... Eu preciso...

- Você precisa se comportar na frente do juiz. Não torne as coisas mais difíceis, por favor. Eles não vão permitir que vocês se aproximem.

- Tá bom... - Bufei, mas me sentei novamente.

- Owen Hart, jura dizer a verdade, somente a verdade, e nada mais que a verdade? - O juiz perguntou.

- Sim. - Ele respondeu, sorrindo... Não, aquilo não era um sorriso sincero. As expressões de Owen eram muito sutis, mas após ter apenas aquele rosto para olhar durante três semanas intensas, aprendi a reconhecê-las.

- Dito isto, a defesa pode começar a interrogar.

- Senhor Hart... - Edwin falou, de pé em frente ao Owen. - Vamos começar do início. Como conheceu o réu?

- Eu estava em um bar, caçando...

- Por caçar, você quer dizer...?

- Sabe o que quero dizer.

- Talvez, mas há outras pessoas na sala que precisam entender o contexto dessa conversa.

- Certo, eu estava tentando chamar a atenção do cara que eu pretendia matar. - Ouvi uma comoção atrás de mim. O que foi, eles não sabiam? Estava em todos os noticiários e Edwin o anunciou como serial killer, que porra...

- Ok, proceda.

- Achei que fosse conseguir naquela noite, mas eu esbarrei no Elliot, ele deixou o celular cair e eu acabei me distraindo. - Ah, então foi ele! - Daí eu perdi o outro cara de vista.

- E depois disso você decidiu substituir sua vítima em potencial pelo meu cliente, certo?

- Que? Não! Eu não escolho ninguém por impulso, primeiro preciso saber se ele se encaixa no meu padrão.

- Então por que o levou para casa?

- Porque ele pediu. - Quase engasguei. Eu pedi pra ele me levar pra casa? Não lembro de ter feito isso. - Na verdade, acho que ele estava bêbado e acabou me confundindo com o ex... - Ele olhou para os bancos atrás do promotor, onde o Grayson estava. - Ah, ali está ele. Não, a gente não tem nada em comum além do corte de cabelo e da barba... Mas agora que vocês me deixaram careca, dá pra ver que não nos parecemos nem um pouco. - Ele riu. Aquilo era esquisito, ele estava sendo tão... amigável. Será que aquela era a máscara que ele usava pra esconder o monstro que é? Eu sou o único que sabe quem ele é de verdade.

- Senhor Hart, pode focar na resposta, por favor? - O juiz pediu e Owen parou de sorrir, erguendo as sobrancelhas. Ah, aquilo certamente o irritou...

- Estou respondendo, escute. - Falou, rudemente. Ali estava, aquele era ele. - Enfim... - Voltou ao tom amigável. - Elliot estava bêbado, era noite e estávamos num bar, então acho que ele pode ter confundido. Já que ele pensou que eu era o namorado dele, começou a flertar e eu acabei caindo pois ele é bonito e divertido quando tá bêbado. - Aquilo me fez corar, eu estava claramente sorrindo como uma garotinha vendo seu primeiro amor chegar na escola. Fiquei feliz em saber o que ele gostava em mim... - Então, depois daquilo eu levei ele pra casa, nos beijamos, as coisas esquentaram e daí ele perguntou se eu iria enforcá-lo. Parace que alguém o ensinou bem, né Grayson? - Ele riu, olhando novamente pro Grayson.

- Seu filho da puta...! - Grayson falou, se levantando.

- Ordem! - O juiz pediu, então Grayson respirou fundo e se sentou.

- Tá tudo bem, minha mãe era mesmo uma puta. - Owen manteve o sorriso no rosto, mas dessa vez... Era um sorriso sádico. Ele estava tentando brincar com o Grayson, não era?

- E então... - Edwin falou, após limpar a garganta. - Pode nos dizer o que fez depois?

- Ah, claro. Primeiro eu quero que saiba que, até então, eu não tinha a mínima intenção de machucar o Elliot. Ele era apenas um gatinho que eu queria levar pra cama... Mas a ideia de ter minhas mãos em seu pescoço enquanto a gente se pegava me atiçou bastante.

- Então você perdeu o controle da sua força?

- Não. Eu segurei no pescoço dele mas não apertei tão forte no início, só que ele falou "Mais forte, Grayson!". Foi aí que eu perdi o controle. Eu fiquei puto, como ele ousou chamar o nome de outro cara? - Estremeci. Apesar de mal lembrar, a expressão que ele fazia agora era assustadora...

- E o que aconteceu depois disso, senhor Hart?

- Bem, ele se asfixiou, obviamente.

- Meu cliente diz que você o matou. - Que? Por que ele está dizendo isso no tribunal? Eu disse que ninguém acreditaria, não importava se fosse verdade ou não! - Pode confirmar? - Owen riu novamente, ainda mais alto desta vez.

- Ele é doido. - O que... Por que ele estava dizendo isso? - Ele parece morto pra você? - Mas que merda?! Você sabe muito bem que é verdade, Owen! Pare de dizer besteira!

- Claro que não.

- Então... Pra falar a verdade eu pensei que ele estivesse morto e o levei pra minha oficina, pra que eu pudesse desmembrá-lo e tornar o transporte mais fácil... - Estremeci, ele falou como se eu fosse apenas um pedaço de madeira. - Mas antes eu fui dormir, e quando voltei ele tava acordado. Agora, vocês vão entender o quanto ele é maluco quando eu disser isso: Quando ele acordou, começou a flertar comigo! Tipo, quem flerta com um cara que te enforcou até perder a consciência? Foi aí que eu comecei a pensar que ele era uma vadia. - O que?! Era isso que ele pensava de mim?! Uma vadia, que porra!

- Foi nesse momento que decidiu mantê-lo como refém?

- Não, foi depois que eu tentei enterrá-lo e ele quase fugiu. - Esfreguei meu pescoço, lembrando de quando ele cortou minha cabeça com uma pá. Eu quase havia esquecido daquele sentimento... A desesperança e desespero por estar nas mãos de um assassino frio. Talvez eu realmente fosse louco, por pensar que estava apaixonado por ele... E por achar que ele também poderia me amar.

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