Dessa vez eu não chequei minha barriga após acordar, sabia que meu corpo se regeneraria então não me preocupei mais com isso. Também não foi nenhuma surpresa estar amarrado à mesa de novo mas, surpreendentemente, agora eu estava vestido e deitado em um colchão. Aquelas não eram as minhas roupas, e estavam um pouco largas. Também havia uma garrafa d'água ao meu lado, o que era estranho, mas mais estranho ainda foi quando ele entrou no cômodo com um prato. É claro, ele já tinha feito algo assim antes mas desta vez ele colocou o prato perto de mim.
- O que é isso? - Perguntei, encarando a montanha de carne crua. Será que ainda era...?
- Guardei um pouco na geladeira pra você, já que não é sempre que saio pra caçar. - Sim, era.
- Você é um psicopata. Mas que porra é isso tudo, por que está me tratando melhor agora? - Ele suspirou e virou as costas pra mim, se apoiando na mesa.
- Eu cometi um erro, não devia ter te matado.
- É tarde demais pra isso.
- Você nem era o alvo, era pra ser aquele cara de ontem. Eu vinha seguindo ele faz um tempo, mas naquela noite o perdi de vista e então te encontrei... Você me abraçou e pediu pra eu te levar pra casa, tentei me esquivar mas você começou a flertar e eu fui conquistado pela sua beleza. - Suspirou, coçando a cabeça. - Pensei que pudesse fazer a coisa certa daquela vez, ter uma noite boa e te deixar ir embora, assim como consegui fazer com alguns outros caras mas... Você pediu pra eu te enforcar e chamou o nome do seu ex, daí eu fiquei puto e perdi o controle.
- Então a gente transou?
- Não chegamos tão longe.
- Isso é pra ser um pedido de desculpas? Porque você continuou me matando depois disso, então não acho que vai ser o suficiente.
- Na segunda vez que eu te matei eu ainda tava puto, achei que você fosse só mais um daqueles vagabundos que eu detestava. - Bem, eu meio que já fui a um tempo atrás, mas não falaria isso pra ele.
- Mas na noite passada você deveria ter percebido que eu não era, já que eu te falei que fui fiel ao meu ex. Ainda assim, você me matou de uma forma horrível.
- Eu sei, eu perdi a cabeça. Não devia ter feito aquilo.
- Foi por que eu a vi?
- Foi porque ela te viu. Ela odeia saber que eu saio com homens... Não que a gente tenha alguma coisa, mas foi assim que ela interpretou.
- Aquela é a sua mãe?
- Sim.
- O que tem de errado com ela, por que está daquela forma?
- Câncer de laringe. Terminal.
- Ah, então é por isso que ela não consegue falar... Mas ela não deveria estar em um hospital?
- Ela queria morrer em casa. - Ah, porra. Ela não apenas parecia ser uma mãe terrível, como também colocou esse peso sobre os ombros dele. Ver aquilo me deixava feliz por não ter pais.
- Por quanto tempo você tem cuidado dela em casa?
- Seis meses.
- E, só pra saber, por quanto tempo você tem matado pessoas? - Ele ficou quieto. Eu já podia imaginar a resposta, era bem óbvio.
- Por volta de quatro ou cinco meses. - Como pensei, previsível.
- Então você sai por aí matando pessoas por não ter coragem o suficiente para matá-la... - Murmurei, esperando que ele ouvisse mas ao mesmo tempo com medo de como ele reagiria... E ele ouviu.

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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...