Não fiquei surpreso ao ver que nem todos estavam lá no dia seguinte. Do orfanato, apenas a Irmã Janice e algumas freiras ficaram. Os amigos do Grayson também não estavam lá, mesmo ele ainda tendo que testemunhar, e foi o primeiro a fazê-lo assim que a sessão começou.
- Tínhamos uma relação complicada. - Falou, após o promotor fazer a primeira pergunta. "Complicada"? Era estável, quem fez tudo ficar complicado foi ele. - Quero dizer, estávamos juntos mas eu não me sentia muito confortável com isso. Tinha sempre algo me incomodando, só que eu tinha medo que ele tentasse se matar se eu o deixasse.
- Ele já te disse que cometeria tal ato caso terminassem?
- Sim, algumas vezes.
- Então você diria que era uma relação tóxica? - Grayson me encarou, erguendo as sobrancelhas, e suspirou.
- Olha, eu não sei se quero testemunhar contra ele. Nós fomos namorados...
- Senhor Davis, por favor, responda a pergunta do promotor. - O juiz pediu.
- Ok. Se era tóxico, sim, mas não só por causa dele. Meus amigos devem ter falado que ele era horrível mas eles não sabiam de tudo sobre o nosso relacionamento, Elliot não era tão ruim assim. - O promotor começou a bater os dedos na própria perna, impaciente. Aquela claramente não era a resposta que estava esperando.
- Sem mais perguntas. - O promotor voltou a se sentar enquanto Edwin se levantava, indo até o banco das testemunhas.
- Senhor Davis, fui informado de que você teve uma briga com a vítima, a ponto de trocarem socos. Isso é verdade?
- Sim.
- Mas antes disso vocês eram amigos, certo? Até costumavam se visitar com frequência. Então qual foi o motivo pra essa briga?
- Jeff estava de olho no meu namorado. Eu reparei na forma que ele olhava pro Elliot e fiquei com ciúmes, então bati nele. A gente tava na boate, eu estava bêbado.
- Você teve uma briga com a vítima que, meses depois, supostamente foi assassinada pelo seu ex-namorado. Isso faz com que eu me questione sobre a sua influência sobre isso... - Não, Edwin. O Grayson não teve nada a ver com o que aconteceu. Por que está atacando ele? Ele até disse que não testemunharia contra mim...
- O que?! Eu estava no Canadá, nem sabia que o Elliot e o Jeff estavam juntos!
- Claro, antes você nem queria que o réu falasse com a vítima.
- Não é bem assim...
- Você fez meu cliente cortar relações com um amigo precioso, que o teria apoiado após ter sido deixado. E isso o levou a ser sequestrado por um serial killer. Vamos ver a evidência número quatorze da defesa. - Ele pediu, e as fotos que Owen tirou de mim apareceram na tela. Grayson se assustou ao vê-las, e me olhou como se quisesse confirmar que não eram reais. Ele não entenderia o quanto eram. - Senhor Davis... Quando você recebeu essas fotos, imediatamente agiu como se o réu fosse responsável por elas. Por que nem mesmo considerou que eram reais?
- Porque não eram. Elliot está vivo, não está?
- Você não sabia disso na época, certo?
- Não, eu não sabia.
- Então por que não contatou as autoridades, como qualquer um faria?
- Eu fiz isso, mas estava no Canadá e eles disseram que não podiam fazer nada, então eu falei com os meus amigos do Texas. Mas ao invés de ir até a polícia, eles acharam que era mentira. Eu continuei recebendo fotos, uma mais absurda que a outra, então eles acabaram me convencendo.
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Sawdust
HorrorApós afogar as mágoas na bebida por conta do término de seu namoro, Elliot Taylor acorda nu em uma oficina de marcenaria. Ele tenta lembrar o que aconteceu e, ao conhecer o belíssimo marceneiro, tira a conclusão de que dormiu com ele na noite anteri...