Lágrimas de ilusão.

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Helena:

Helena: Se você parasse em casa, talvez soubesse - cruzei os braços - ou, pelo menos, procurasse saber de alguma coisa - falei séria.

Gavião: Se eu parar em casa, quem vai cuidar dos meus bagulhos? Tu vai? - perguntou, ignorante, e respirei fundo - eu fico brecando teu trabalho? - não respondi - então não vem brecar o meu, porra.

Helena: Tô brecando merda nenhuma, não, Igor. Mas a Camile deixou de fazer a festa de aniversário dela na quinta porque você disse que não ia poder ir. Aí a garota marca para hoje para você ir e você não vai. Isso me deixa indignada.

Gavião: O aniversário nem é teu e tu tá indignada? - riu com sarcasmo e senti mais raiva ainda - vou deixar de resolver meus bagulhos para ir bater parabéns para ninguém, não, Helena.

Helena: Eu não estou pedindo para você deixar de fazer suas coisas, mas a Camile queria você lá, e você simplesmente diz "não" como se fosse nada. O que acontece é que você sempre coloca tudo em primeiro lugar, menos as pessoas que estão ao seu redor, e isso me irrita.

Falei e, sem querer, deixei meu tom de voz aumentar. Respirei fundo, tentando manter a paciência e não surtar, e ele me encarou ainda mais sério.

Gavião: Tô gritando contigo, caralho? - veio se aproximando e segurou meu rosto.

Helena: Não vem me tocar, não - empurrei-o - quando você grita, eu tenho que ouvir calada, mas se eu perco o controle, você vai querer vir com tudo? - perguntei irritada - não vou ficar discutindo com você, não, Gavião. Faz o que você quiser da sua vida, porque isso vai ser sobre você e não sobre mim. Eu vou ao aniversário dela, você indo ou não.

Encarei ele séria e me virei, saindo da sala e subindo aquelas benditas escadas. Ainda estava sentindo toda a raiva e tentava fazer de tudo para não voltar lá e gritar na cara dele.

Igor consegue ser bem idiota quando quer. Eu sei que as pessoas têm suas responsabilidades, mas a questão é que a Camile ia comemorar o aniversário dela na quinta à noite e não comemorou porque o Igor não estava aqui no morro. E mesmo eles não sendo tão próximos, a Camile disse que é grata pelo que ele fez por ela.

Aí ela deixou para comemorar hoje, no domingo, porque o Igor iria estar aqui. Só que, daí, já hoje em cima da hora, ele vem falar que não vai estar? Que vai para sei lá onde?

Isso que me deixa indignada, porque é falta de responsabilidade afetiva.

Eu não sei o que deu na cabeça desse homem, mas, nesses últimos dias, ele simplesmente mudou. Mudou. Vive nesses negócios de invadir outra favela, vive na boca, e começou a ficar estranho do nada; a comunidade começou a receber ameaças. Parece que tudo virou de ponta-cabeça.

Já estava me dando raiva de tudo isso, e olhe que eu sempre tento manter a calma, mas, sério, não tem como. E ele ainda quer vir descontar sei lá o que em mim?

Juro, esses dias está impossível conviver com o Igor, e o pior é que nem tem como falar: "não quero te ver hoje". E nem tem como trancar a porta para ele não entrar, porque eu simplesmente estou morando com ele.

Terminei meu banho e fui me vestir. Coloquei um vestido slim e um chinelo; nem passei maquiagem, só passei perfume e peguei o presente que tinha comprado para ela.

Peguei meu celular, saí do quarto e desci as escadas com cuidado. Cheguei na parte de baixo e estava um deserto. Ninguém.

Respirei fundo e nem falei nada, só saí de casa trancando tudo. Quando cheguei na frente, um dos meninos que fica por aqui veio falar comigo, o que já estranhei, já que nenhum deles fala comigo.