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Helena:

Olhei para a minha barriga coberta pela roupa do hospital e a alisei, ainda me sentindo confusa com tudo. Eu não sei se era um sonho meu, mas saber da notícia de que havia perdido um bebê fez com que eu sentisse um vazio. Era tudo muito estranho e, por mais que eu tentasse, eu não conseguia explicar tudo o que estava sentindo.

O gavião, ou Igor, não sei como eu o chamava antes disso tudo acontecer, dormiu comigo essa noite. Ele parecia preocupado; às vezes, eu o pegava me olhando do nada e, quando ele via que eu o estava encarando também, passava a mão na cabeça e sorria de canto, perguntando se eu queria alguma coisa.

Hoje pela manhã, depois de eu ter tomado café, ele saiu, disse que precisava resolver algumas coisas e isso me deixou perdida também. O médico falou onde eu estava, mas, mesmo assim, eu sentia como se tudo estivesse uma bagunça na minha mente.

Fiquei olhando ao redor do quarto, me sentindo sozinha, quando a porta se abriu e eu vi um menino. Ele me encarou e deu um sorriso alegre, e eu sorri de lado, mesmo sem saber quem ele era.

Xxx: Caralho, não é que a mãezona acordou mesmo? - falou, vindo na minha direção, e eu arregalei os olhos.

Helena: Mãezona? - pisquei - Você... você deve ter errado o quarto. - apontei, ainda assustada.

Xxx: Que isso, mãezona? Errei nada não. - cruzou os braços - Vai negar teu filho mesmo?

Coloquei a mão no rosto, olhando para ele, me sentindo assustada e sem saber o que fazer. Meu Deus, eu tenho um filho? Mas ele é tão... tão grande. Quantos anos ele deve ter? Senhor...

Gavião: Moleque adiantado do caralho - olhei na direção da porta, vendo ele entrar, e ele parou me encarando. Eu fiquei encarando ele, assustada - Qual foi, tá assim por quê?

Helena: Ele... - engoli em seco - ele é nosso filho? - senti meu coração acelerar e vi ele sorrir de lado, e o outro menino sorriu também.

Xxx: Ala - cruzou os braços, rindo - só acordou porque eu disse que, se não acordasse, eu ia arrumar outra mãezona pra mim e outra vó pro menino Vini, não foi?

Helena: Eu sou vó? - olhei para ele e depois para o Gavião, querendo alguma resposta.

Gavião: Adotado. Encontramos ele no lixão - falou sério, respondendo à minha pergunta, e eu fiquei mais assustada ainda.

Se ele é nosso filho, por que ele fala assim? Olhei para o menino, que até então eu não sabia o nome, e ele riu na minha direção.

Ele não ficou chateado por escutar isso?

Juninho: Tu esqueceu de tudo mesmo, né, mãezona? - ele passou a mão no rosto, como se quisesse esconder algo, mas não pude deixar de notar que havia um certo nervosismo nos seus gestos. Como se ele estivesse esperando algo de mim, mas não soubesse como me pedir. - Sou o Juninho, pô. Teu pivete. - Cocei a cabeça e ele sentou na cadeira ao meu lado.

A proximidade me fez sentir uma pontada no peito. Ele me olhava com uma expectativa que eu não sabia como corresponder. O que ele queria de mim? Um abraço? Uma reação? A certeza de que, apesar de tudo, eu ainda era a mãe dele? Eu não sabia.

Helena: Desculpa, mas eu... eu não lembro - olhei para ele, soltando um suspiro, e ele ficou me encarando e sorriu de canto, balançando a cabeça. - Mas fala mais sobre você.

Eu pedi, quase em um sussurro, esperando que ele pudesse me ajudar a resgatar algum pedaço do que tinha sido minha vida. Algo que me mostrasse como éramos ligados.

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