Lágrimas de ilusão.

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Helena:

Sabe quando você está tão cansada e tão envolvida no sono que não sabe se o que aconteceu no meio da madrugada foi real ou só um sonho? Eu estava exatamente assim agora.

Ontem eu fui dormir por volta das 19:00, e no começo foi um pouco complicado pegar no sono, já que eu ficava acordando assustada com os barulhos de tiros. Mas depois, eu simplesmente capotei.

Só que, nesse meio tempo em que eu estava dormindo, eu acho que chegaram umas duas pessoas feridas aqui e me acordaram para ajudar a cuidar dos ferimentos. Das poucas coisas que eu lembro, é que eu fiz tudo no automático e, depois disso, eu não lembro mais de nada. E aí fica a dúvida: eu realmente cuidei dessas pessoas feridas ou só foi um sonho?

E se eu cuidei, eu cuidei bem? Meu Deus, será que essas pessoas estão vivas ainda?

Olhei ao redor do quarto, tomando coragem para levantar da cama, e virei para o lado, vendo a Heloísa ainda dormir. Procurei pelo celular, sem lembrar onde o coloquei, e olhei em direção a uma cadeira que estava no canto do quarto, vendo meu celular lá.

Levantei, indo até lá, tirei-o do carregador, deixei o carregador na cadeira e liguei a tela, vendo que ainda iria dar 06:00 da manhã.

Dormi quase doze horas.

Abri a porta do quarto e fui até o banheiro, fiz minha necessidade e passei água no rosto. Peguei a escova que eu usei ontem e já aproveitei para escovar meus dentes logo. Assim que saí do banheiro e fui em direção à cozinha, passei pela sala e vi um corpo deitado no sofá, com a almofada na cara.

Não dava para ver o rosto da pessoa, mas só pelas tatuagens que tinha pelo braço, consegui identificar quem era. E, olhando assim, ele deitado só de bermuda, o corpo dele era lindo. A barriga definida e com algumas tatuagens. Gostoso mesmo.

Não há o que falar sobre a aparência dele, porque, infelizmente, o cavalo é lindo. O único defeito é ele ser cavalo mesmo. E, nitidamente, ele tem um ego enorme. Fora que é bandido, ainda mais sendo dono do morro.

Gavião: se quiser tirar uma foto, é só pedir. - Levei um susto quando escutei sua voz rouca de sono e foi quando percebi que ele já tinha tirado a almofada do rosto e agora me encarava. - Não que eu vá deixar você tirar a foto - completou, e eu revirei os olhos.

Helena: como se eu fosse querer alguma foto sua no meu celular - revirei os olhos - se algum dia eu quiser, pode ter certeza de que é para te denunciar.

Falei e lembrei que ele matou um homem há quase três meses, em um beco em frente à boate. Virei-me em direção à cozinha e, assim que me aproximei da geladeira e encostei minha mão para poder abrir, senti uma mão vir de encontro à minha nuca e me puxar com tudo.

Helena: Tá ficando maluco? - Virei já querendo socar a cara desse babaca, e ele segurou minha mão com tudo, fazendo meu celular cair no chão. - Olha o que você fez, seu cavalo.

Gavião: Ameaçando me denunciar dentro da minha favela? É isso mesmo? - Ignorou o fato de ter derrubado meu celular e me imprensou na geladeira. - Tá achando que é quem, caralho?

Foi com a mão no meu pescoço, fazendo um pouco de pressão, e me encarou com raiva. Senti um pouco de medo, mas, mesmo assim, encarei ele com raiva também.

Helena: Me larga - falei, tentando me soltar, e ele apertou meu pescoço ainda mais.

Senti meu ar faltar um pouco, e minha única reação foi levantar minha perna e tentar chutar o pau desse idiota, mas ele foi mais rápido, se esquivando, e meu chute pegou na sua barriga.