05.

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Helena:

Helena: Agora o senhor só vai precisar tomar os remédios certinhos, fazer o curativo duas vezes ao dia e evitar comidas carregadas, tá? - falei depois de fazer o curativo e sorri olhando para ele.

Cícero: Não sei tomar esses remédios, não, doutora - sorri - vou tomar de qualquer jeito mesmo.

Helena: Que isso, seu Cícero? - cruzei os braços e dei risada - tem que tomar tudo certinho. Eu vou colocar nas caixas dos remédios os horários certinhos.

Falei e ele concordou, mas eu sabia que ele ia fazer de qualquer jeito mesmo. Conheço esse daí, cabeça dura à beça.

Helena: E o repouso, tá? Não se esquece - falei e ajudei ele a levantar - nada de tá pegando coisas pesadas. - ajudei ele a se apoiar na muleta.

Ele me olhou e entortou a boca, resmungando alguma coisa e fazendo eu querer dar risada. Pensa em um velhinho resmungão esse.

Cícero: Eu já vou me indo, viu? - concordei - fica com Deus que eu vou com ele.

Helena: Amém. Se cuida. Observei ele sair da sala e suspirei, tirando a luva e jogando-a no lixeiro.

Hoje o dia estava extremamente agitado. O hospital estava cheio, gente chorando, correndo de um lado para o outro e dois óbitos.

Até agora, eu não tinha almoçado e já eram 14:45 da tarde. Quando achei que poderia ir comer, escutei a porta se abrir com tudo e os outros enfermeiros entrarem com uma criança na maca.

Helena: O que aconteceu? - perguntei preocupada, me aproximando e vendo a criança chorar desesperada.

Enfermeiro: Um toco entrou no pé dela. - Olhei para o seu pé e vi um pano por cima, que já estava todo encharcado de sangue.

Helena: A tia vai tirar isso, tá? - Olhei para ela, que chorava ainda - vai ficar tudo bem.

Comecei a tirar o pano de cima e engoli em seco quando vi o pedaço de toco no seu pé.

Xxx: Tá doendo, titia - falou chorando.

Helena: A tia vai cuidar disso - olhei para o outro enfermeiro - traz mais para cá.

Eles trouxeram a maca para o canto e a outra enfermeira começou a separar as coisas que iríamos precisar. Me higienizei e coloquei a luva; comecei o preparo para tirar aquilo dela, e seu choro começou a ficar mais alto.

A enfermeira foi até ela tentando distraí-la, e o enfermeiro veio me ajudar, segurando a perna dela para que eu conseguisse tirar. A anestesia foi aplicada e, com isso, logo em seguida, comecei a dar pontos nela.

Helena: Pronto - falei, suspirando e vendo que ela estava dormindo.

Tirei minha luva e olhei para os outros colegas, que retiraram a luva também e baixaram a máscara.

Helena: Cadê a mãe dela?

Enfermeira: Preferiu não ver. - Concordei. - Vou levá-la para a outra sala, para assim a mãe poder ficar com ela. - Concordei.

Helena: Vou comer. Qualquer coisa é só chamar - falei, e eles concordaram e saíram levando a garotinha.

Joguei a luva e a máscara e peguei o álcool, passando na minha mão. Peguei meu celular e olhei a hora, vendo que já eram 15:15. Meu expediente é até às 16:00 horas. Tempo de eu almoçar, ter meu descanso e fazer alguma coisa para, assim, poder ir para casa.

Sai da sala e já dei de cara com algumas pessoas no corredor. Dei boa tarde e algumas responderam, outras resmungaram, falando que estavam demorando para serem atendidas. Mas eu, sinceramente, não posso fazer mais nada. Meu horário de almoço é às 12:10, já são 15:15 e até agora eu não almocei, e isso para já ir adiantando algumas pessoas.

Lágrimas de ilusão. Onde histórias criam vida. Descubra agora