Sutilmente Feminina

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- Galera, acredito que vocês estejam lembrando da excursão ao parque ecológico na próxima semana né? ... Aquele que todo mundo concordou porque seria bacana fazer uma aula diferente, né Geo?

Ela me olhou com indiferença, no fundo no fundo sabia que era verdade que quase ninguém prestava atenção nas aulas de Química.

- Pois bem, tenho aqui umas permissões que vocês deverão trazer devidamente assinadas na segunda, como e sem falta, para que possam desfrutar dessa incrível aventura. Quem não trouxer, vamos entender como desistente da viagem...

A galera estava animada, 3 dias sem ter que copiar da lousa e ainda por cima acampar num lugar lindo. O chato seriam só os insetos, mas um bom repelente resolveria o problema. Retirei as permissões da pasta, conferi se estava tudo ok e entreguei uma certa quantidade ao primeiro de cada fila para que pudessem ir repassando para seus colegas detrás.

-... e não esqueçam que é um acampamento, cada um vai ser responsável por si mesmo, mas claro os professores vão ficar de olho caso tentem alguma idiotice...

Sentei-me no meu assento e passei 3 folhas para trás. Victor parecia meio... não parecia ele mesmo. Que estanho?!

- E aí, você vai né?

Vi a expressão dele se transformar, o que de certa forma me deixou aliviada. Agora sim ele parecia o velho palhaço inconsequente de sempre.

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Toda essa parada de excursão... era tudo que eu precisava pra sair da minha deprê e recuperar meu EU de volta. Gatinhas, umas cervejinhas e uns manos pra zoar...

- Não perderia isso por nada...

Peguei a folha da mão da Alice, ia ser meio treta convencer a mãe a me deixar ir. Melhor do que ir com meus pais para o niver da minha avó, se fosse pelo menos o vô ia ter espaço pra umas zoeiras... haha o velho tira de tempo mesmo, não tem papas na língua.

Levanto da cadeira e vou entregar a permissão para o cara de trás, té porquê não tem ninguém atrás de mim que possa fazer isso. Chego de boas, ele tá lá rabiscando símbolos musicais no caderno... quando percebe minha presença, levanta a cabeça. Nem sou otário, puxo logo assunto pra ver qualé a dele.

- Eaí, mano? Firmeza?

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Fiquei atentamente observando qual seria sua reação quando o Victor se aproximou com a folha na mão. Fico me perguntando, será que ele vai? Seria uma boa oportunidade de ver como ele é num ambiente que não fosse a escola e sem seus amigos. Quanto a mim, nem me preocupo, respondo legalmente por mim mesma.

O sinal soa, ele pega a folha e guarda na mochila, eu fico com uma expressão meio wtf??? E minha folha, caralho??!!!, aos poucos todo mundo vai saindo da sala em direção ao intervalo, ele também vai junto, mas aparentemente no meio do caminho lembrou do quê havia esquecido. Retornou à cadeira, abriu a mochila e pela primeira vez pude ver claramente sua face, seus olhos que me encaravam e ouvir sua voz num pedido de desculpas. Eu juro que fiquei normal, não esbocei nada que pudesse ser entendido como ressentimento. Fiquei 2 Hrs segurando a folha enquanto ele dava de costas e ia aproveitar seu intervalo. Fiquei um pouco desorientada, pisquei os olhos e quando olhei para frente Alice me olhava, os cantos dos lábios formavam um sorriso cheio de cumplicidade.

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- Meninas... vocês não sabem o que acabei de presenciar....

Os olhos dela quando se cruzaram com os meus tinham aquele brilho peculiar. Eu matei na hora a charada, sinto cheiro de affair no ar. A Helena sempre foi quieta, sempre no mundinho obscuro dela. Pelo que sei, ela veio transferida de uma outra escola no ano passado, histórico impecável. Aí ficou alguns meses no 3º A e depois remanejada para nossa turma.

- Amigaaa, você acha que amanhã vai rolar? Você sabe...5 meses de namoro... já tá na hora né?

Ah, nem me lembre disso, acordei hoje cedo super ansiosa, é amanhã... Preciso lavar e escovar meus cabelos, pintar as unhas, fazer uma limpeza de pele...Ahhhhh, é tanta coisa em tão pouco tempo. Pelo menos a roupa já está separada. Mas sabem como nós mulheres somos não é? no último minuto mudamos radicalmente o look. Os homens parecem não entender que nosso senso de beleza é altamente perfeccionista e se nos demoramos é porque queremos ficar o mais linda possível. Às vezes a roupa que a gente escolhe num dia no outro já não parece ficar tão bacana, aí fode... são inúmeros tipos diferentes de combinações e nos apressar não vai ter um resultado muito além de um lado da make desproporcional ao outro.

Eu fico pondo esse monte de coisa na minha mente pra desviar meu pensamento do fato de que essa pode ser nossa primeira vez. Tipo, não é que eu seja virgem nem nada, mas é bem diferente de fazer com uma pessoa que você só gosta, pra uma que você ama. Tenho medo de algo dar errado, de não alcançar minhas expectativas. Eu ligo muito para mim mesma, e não se trata de ser egoísta. A função do sexo dentro da sociedade é uma ideologia pessoal. Antigamente e ainda hoje existem traços de uma concepção tradicional em relação à mulher... procriação, cuidar do lar... essas coisas. Claro que também existe uma visão mais moderna... depois que ingressamos no mundo do trabalho, que até então era constituído pelos homens... adquirimos uma certa independência... começamos a cultivar outros sonhos.

Tenho meus próprios objetivos na vida e não quero abrir mão deles. Como toda mulher penso sim em me casar e ter filhos, uma família... mas antes disso eu tenho que conquistar minha realização pessoal. Acredito que se boa parte da mulherada, principalmente essas mais jovens, pensassem assim tenho certeza que não iam ter que passar fome, aguentar desaforos e agressões desse sistema que rege nosso país.

Dentro dessa sociedade os homens são muito mais sinceros em termos de se relacionar. Eles são livres pra fazer o que der na telha e nós também somos, deveríamos adotar esse pensamento, sem rótulos, sem intolerância ... mas tendo em mente que a nossa liberdade termina quando a do outro começa. Sabemos que uns querem mulheres só pra saciar seus anseios, outros querem para algo mais duradouro e mesmo neste último caso eles não se sentem suprimidos a se render a seus instintos mais primitivos. Enquanto que nós vivemos numa corda bamba, parecem muitas personalidades dentro da mesma pessoa. Existem determinadas ações que não podemos cometer, pois dizem que não é um comportamento cabível. Isso foi implantado em nossa mente por intermédio da educação, da cultura, da religião... E desde quando há um manual-padrão para ser mulher?

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora