Não há Lugar Melhor que o Lar

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- Vamos galera, entrem no ônibus!!! Quem entrar e sair não garanto que vamos esperar !!! Vamos, vamos...

A Geovana gritava em alto e bom som alertando a todos que se preparassem, ela vinha fazendo isso desde às 16 hrs, detalhe: nosso transporte estava previsto para partir às 17 hrs e 30 min. Eu já estava pronta, antes esperar do que ser esperado.

 O lugar ao meu lado ainda estava vazio, por Deus, onde será que está aquele idiota? Aos poucos os assentos vão sendo preenchidos e nada dele chegar. Um sentimento de preocupação me invade, fazendo-me levantar da poltrona e ficar de vigia na porta. Quando o avisto vindo com alguns outros rapazes, me dá um certo alívio. Ufa! , não vou ter que explicar para a Geo o porquê do meu companheiro de viagem ter sido esquecido. Quando ele entrou, a algazarra também inundou o ônibus de piadas e risos. Eram os últimos passageiros. Os motores começaram a roncar. Afivelei meu cinto, essa seria uma longa viagem de volta. Peguei meu celular, ainda estava sem área. Assim que tivesse dentro da área de cobertura precisava ligar para meu pai vir me pegar. Remexi na minha bolsa e retirei de dentro minha câmera fotográfica, haviam diversos registros visuais aqui. Victor voltou lá do fundão afim de desfrutar da viagem na segurança de sua poltrona, pelo menos nos 40 primeiros minutos.

A paisagem começou a passar rapidamente do lado de fora da janela, isso é uma dos princípios da física, nós que estamos em movimento e o cenário em repouso, mas do nosso ponto de vista parece o contrário. Em um certo ponto eu comecei a ficar entediada, desafivelei meu cinto e fiquei observando o resto do ônibus por cima da cabeceira da minha poltrona. Uns dormiam, outros ouviam música, ou conversavam, ou ficavam mexendo no celular... não tem como pedir para nós adolescentes ficarmos imóveis, está fora de cogitação. Nossa mente não pára um segundo de raciocinar e nosso corpo não tem outro remédio a não ser acompanhar o ritmo. Meus olhos passearam pelo lado esquerdo e direito, indo e voltando e terminou nos donos dos assentos atrás de mim. Eles conversavam e riam baixinho, trocando confidências ao mesmo tempo em que dividiam o mesmo fone. 

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Do lado de fora o céu avermelhado contrastava com o verde da paisagem. Ele brincava com meus dedos, brincava com as palavras e me fazia sorrir. Levamos 2 dias e meio para compensar a distância de 1 ano. Falamos sobre tudo que nos veio à mente, ele me falou sobre a banda e eu sobre meu violino. Ele falou sobre os pais e eu sobre minha mãe. Falou sobre sua mansão e eu sobre meu simples quarto de apartamento. Trocamos endereços, números de telefone e beijos. Num desses beijos fomos flagrados pela câmera da Alice. Fiquei com o coração na mão, mas ela disse que ia revelar e nos dar a fotografia, aquele registro estático de uma ação que iríamos gostar de guardar.

- Eu tava pensando... que tal um dia desses a gente sair?

- O que você está sugerindo? Um jantar?

- Pode ser, e aí? Topa?

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Os sinais urbanos começaram a invadir a paisagem antes composta apenas pela vegetação. Finalmente em casa. Os celulares de todo mundo começaram a nos alertar que estávamos novamente conectados às linhas telefônicas e à internet. Chegaram 300 sms de uma só vez, tudo de grupos do whatsApp da família, dos amigos, da escola... hoje em dia ninguém precisa ficar fazendo chamadas de voz, é só mandar um áudio e tá resolvido o problema, uma postagem espalha mais rápido notícias que um jornal, estamos todos ligados, 24 hrs por dia.

Só faltava mais um quarteirão para desembarcamos, provavelmente meu pai e minha mãe já estavam ansiosos me esperando para saber as novidades. Eu só tinha uma história que eu faria questão de deixar o mais sinistra possível para mostrar o quanto fomos fodas.

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora