- Me passa o ketchup?
- Opa.
Quando subimos para a cobertura já passavam das 21 hrs e 30 min. da noite. O céu estava revestido por um tom azul escuro singular, as estrelas eram somente pontinhos brilhantes e tímidos porque esta noite todas as atenções estavam voltadas para um espetacular fenômeno astronômico: um eclipse lunar. Eu tinha visto anunciar no noticiário das 19 hrs sobre o evento de hoje e decidi convidá-la para assisti-lo comigo.
- É tão sombrio esse nome: Lua de Sangue...
- Eu não acho... soa meio poético, meio trágico, meio mágico...
- Lá vem você com sua mania de filosofar...rsrs
Ele me deu um soco de leve no ombro e sorriu.
- Aiii...sua chata, rsrs
- Bocó, rs.
Eu lhe passei o ketchup e fiquei a observando enquanto comia a fatia de pizza... Ela estava parcialmente de frente para mim, alternava entre morder a massa recheada de presunto, muzarela e calabresa, contemplar o vasto mar de construções à nossa frente, o céu negro acima de nós e me olhar com um sorriso maroto. Havia uma manchinha de mostarda no canto do lábio superior, o vento soprava suas madeixas castanho-escuro, e ela afastava os fios com a mão esquerda. Mesmo na penumbra seus traços ainda eram delicados, seus movimentos suaves e sua beleza estonteante. Em comparação com os outros prédios o nosso não era grande coisa, haviam muitas construções bem mais altas e com uma visão bem mais privilegiada daquele fenômeno. Estávamos sentados nas escadas de incêndio laterais do sexto andar, ela estava um degrau acima do meu e abaixo de nós a cidade pulsava viva em cores e sons, o fluxo de carros e motos era intenso. Mesmo depois de passaram o dia inteiro trabalhando... as pessoas ainda encontram energia para uma pequena distração que os mantenham longe de suas preocupações semanais.
- Quer mais coca?
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- Vamos acelera mais....
Ela gritava e sorria no meu ouvido com um tom bem provocativo, apertava cada vez mais minhas costelas, o ponteiro no acelerador já ultrapassava os 150 Km/h. Os outros veículos eram só pontos luminosos à nossa esquerda e direita, o vento frio batia no meu rosto, a adrenalina correndo solta em minhas veias. Confesso que tomei uns 3 drinques e nada mais, era preciso bem mais que isso para me embriagar, ao contrário de Evelyn que estava bem soltinha. Precisei arrastá-la para fora da boate antes que ela fizesse um strip. A música eletrônica alta, a iluminação psicodélica, a bebida e os cigarros não eram uma combinação onde se podia esperar boa coisa.
Sarah ficou com uma cara de surpresa quando a viu, abraçou-a e minha prima saltitante pediu-lhe para contar as novidades. Eu fiquei de fora, só observando aquela cumplicidade feminina, os risos, os toques, as palavras, os olhares... havia um leve tom de menosprezo e falsidade saturando o ambiente. Talvez não tivesse sido uma boa idéia vir aqui... Sarah ficava prestando atenção a cada descrição exagerada que saia da boca de Aline que viajava na maionese falando sobre Londres, mas em uma frequência mais particular conversávamos através do olhar.
Ela não gostou nada quando saímos de sua casa com minha prima de braços dados comigo falando sobre algum lugar para se divertir...
De repente fui arrastado de volta para a realidade, meus pensamentos tentavam se organizar. Tudo que eu via eram imagens: rostos, mãos, objetos... todos desfocados, os sons iam ficando cada vez mais incompreensíveis, todos misturados. Eu não conseguia fazer com que meus músculos executassem as ordens que meu cérebro estava enviando. O cheiro forte da gasolina, a adrenalina evaporando e me deixando vulnerável a dor. Senti mãos frias, demorou alguns minutos para que eu conseguisse processar o que a mulher estava me perguntando. Minha boca não conseguia pronunciar com eloquência todos os meus pensamentos.
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Convergindo (Em Construção)
Fiksi Remaja"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...