- Finalmente chegamos!!!
- Aleluia... tô morta...
- Mas, onde está o resto do grupo de vocês? O que houve com ela?
- Torceu o tornozelo.
- Ester, leva a moça aqui pra enfermaria...
Os instrutores que estavam na sede do acampamento nos olharam confusos, Alice começou a explicar toda a situação, e logo eles já começaram a nos dar bronca, que tivemos muita sorte, não deveríamos ter nos separado do grupo e blá, blá, blá...
- Mano, o importante aqui é que conseguimos chegar aqui sem muitos danos...
A galera toda tava me dando força, os adultos tiveram que aceitar o fato. Levaram a Helena para imobilizar o tornozelo, Alice foi com ela, enquanto isso eu e o William fomos tomar um banho. Eu já podia entrar no Guinness book com o record de jovem mais imundo do mundo. Se minha mãe me visse agora com certeza perderia a compostura, ia me por debaixo do chuveiro e me esfregar com aquelas buchas vegetais que esfoliam até sua alma. Tive que tirar um par ou ímpar pra ver quem teria o privilégio de se livrar da sujeira e do cheirinho de suor primeiro. Me senti uma árvore quando começaram a cair pedaços de folhas, galhos e terra do meu cabelo quando a água caiu sobre mim.
Terminada a fase de higienização, era chegada a hora de repor todos os carboidratos e proteínas perdidos pelo jejum na selva. Quando Alice chegou no refeitório eu e William parecíamos dois ogros, devorando tudo que havia pela frente. Minha fome não era aquela que você sente de uma em uma hora, tava mais para aquela que você sentiria caso passasse uma semana sem comer.
- Ai meu Deus, deixa de ser porco, pivete.
- Fica xiu aí, tô com fome, filha... E a Helena?
- A enfermeira disse que ela está bem, recebe alta amanhã.
- Aí sim...
William só empurrou o resto de pão na boca mais um gole de refrigerante pra desentalar e saiu do refeitório. Ele simplesmente mudou da água para o vinho. O cara caladão e isolado de repente parecia muito preocupado com uma mina que ele nunca falou, pelo menos nunca vi eles se falando... é meu amigo, parece que você foi fisgado. Por um minuto a imagem da Sarah passou na minha mente como um flash mas afastei a lembrança antes que eu me sentisse meio bobão. Fixei meu pensamento no pão com presunto a minha frente. Alice levantou de seu lugar sobressaltada e correu para a porta, aparentemente nossos companheiros haviam chegado.
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- Estou pensando no que vou dizer para os seus pais, vocês sabem o tamanho da encrenca em que estarão metidos?
- Ah Geo, desencana... nós estamos vivos, saudáveis...isso que importa...
- Essa foi a primeira e última vez que me responsabilizo por uma turma de 3º ano em campo.
A Geo ficou com os nervos à flor da pele quando contamos o que houve, ela deu o maior sermão, era a segunda vez que ouvíamos o mesmo discurso, deixei simplesmente entrar num ouvido e sair no outro.
- Já terminou a missa? Preciso tomar um banho...
Ela ficou me olhando como se não acreditasse que eu estava mais preocupada com um banho do que com as normas de segurança. Enfim... eu já não aguentava mais, meu corpo e face estavam oleosos, meus cabelos, então... sem comentários.
A água se acumulava no ralo, e sua cor era marrom-terra. Minhas unhas estavam destruídas, o esmalte descascando... Foram quase os tubos todos de shampoo, sabonete líquido e cremes hidratantes para que eu conseguisse recuperar a aparência saudável de minha pele que estava razoavelmente bronzeada.
Enquanto terminava de escovar o cabelo, lá fora a galera se preparava para uma festa ao redor da fogueira, porém eu estava muito cansada para isso. Hora de um bom sono de beleza...
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- Lá fora já está anoitecendo... você quer assistir?
- Claro que sim...
Ele me estendeu sua mão, era quente e macia. Dessa vez eu não estava nervosa, tudo estava indo bem, ele estava sendo bastante cortês comigo então o mínimo que eu podia fazer era tentar não estragar tudo jogando todos os meus sentimentos na sua cara. Com a ajuda da muleta consegui equilibrar meu peso e caminhamos lentamente até o lado de fora.
- Calma, se apóia em mim...
Fiquei de pé apoiada na amurada que havia cercando a cabana onde a enfermaria ficava. A nossa frente se estendia a imensa floresta, árvores de várias estaturas, folhas de inúmeros formatos, tamanhos e cores que variavam do verde mais claro ao mais escuro sopradas pelo vento frio, o céu era uma vasta tela num tom de cinza chumbo riscado pelos raios vermelhos do sol que submergia por entre as serras e para complementar o cenário os pássaros voavam rumo à seus locais de repouso. Havia um silêncio misterioso pairando no ar, todo o miticismo do declínio de mais um dia perante a chegada da noite.
Ele estava de pé ao meu lado e uma de suas mãos estava sobre a minha, nesse momento o toque de sua pele na minha provocavam intensas sinapses nervosas por todo meu corpo, acho que ele conseguia perceber que eu estava trêmula. A mesma sensação de ter borboletas no estômago e tudo aquilo que as pessoas dizem sentir quando estão nervosas se apoderou de mim quando lentamente seu rosto foi se aproximando do meu e seus lábios finalmente tocaram levemente os meus, dessa vez sem nenhuma interrupção.
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Convergindo (Em Construção)
Novela Juvenil"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...