Festival Part. 4

19 1 0
                                    

Movi minha mão na tentativa de trazê-la para mais próximo de mim e estranhamente o local onde deveria haver um corpo estava vazio. Automaticamente abri meus olhos. O relógio em cima do criado-mudo marcava 1 h e 25 min.

- Helena?

Um minuto se passou e minha pergunta permaneceu sem resposta. Ouvi um barulho em outro cômodo. Me sentei na cama e calcei meus chinelos. Segui o som... A porta estava entreaberta e ela debruçada sobre o vaso sanitário com uma olhar descaído. A preocupação tomou conta de mim.

- Hey, o que houve? O que você tem?

Me aproximei dela, com uma das mãos afastei as mechas de cabelo que cobriam seu rosto.

- Acho que aquele pastel não me fez muito bem...

Sua voz era apenas um sussurro.

- Você quer que eu faça um chá? Um leite... sei lá... alguma coisa? Você tem remédio? (Perguntei enquanto ajudava-a a levantar-se do chão).

- Eiii, vai com calma, rs... tenho remédio sim, está debaixo da bancada.

- Ok, vamos para a cozinha.

Fui na frente, acendi as luzes e coloquei a chaleira com água no fogo enquanto ela puxava a cadeira e se sentava.

10 minutos se passaram e só então senti a preocupação dentro de mim evaporar à medida que a cor voltava aos lábios dela. Puxei uma cadeira e fiquei vendo-a entornar a xícara de chá.

- Você me assustou, sabia?

- Rs, que foi? Pensou que eu tinha fugido? rsrsrs...

                                                      --------------------------------------------

"...There's something inside me... That pulls beneath the surface... Consuming, confusing ..."

"...Há algo em mim que me puxa pra baixo da superfície...Consumindo, confundindo..."

O vento trazia até mim os ecos da canção, eles se misturavam a fumaça que eu expelia de minha boca. Na minha mente vários pensamentos roubavam minha paz. Ouvi um barulho metálico atrás de mim e instintivamente me virei. A ruiva havia terminado de se vestir e prendia o cabelo em um coque. Percebendo que eu a observava ela sorriu e caminhou em minha direção. Recostou-se no capô da carro assim como eu, lhe estendi o cigarro o qual ela delicadamente tomou de minhas mãos e tragou em silêncio. 

Ficamos ali lado a lado, observando as estrelas. Ela pôs uma das mãos sobre a minha, seu toque era tão quente... Aos poucos eu fui relaxando. A alguns metros de onde estávamos as luzes da cidade permaneciam acesas, o tráfego de veículos estava a todo vapor... os barulhos urbanos se misturavam aos solos das guitarras e as batidas da bateria. Bem que o Alan tinha dito, seriam três dias diretos de Festival. Ela me passou novamente o cigarro.

"...Fear is how I fall... Confusing what is real... Discomfort, endlessly has pulled itself upon me...Distracting, reacting  ..." 

"...Medo é o que me derruba...Confundindo o que é real...Desconforto eterno se possuiu em mim...Distraindo, reagindo..."

Ela quebrou o gelo.

- Então William, vocês vão tocar só à noite?

- É sim... e vocês?

- Nós nos apresentamos hoje pela manhã, rs... Foi bem legal...

- Eu não estou muito confiante sabe, tem muitas bandas boas aqui...

- Se você for tão habilidoso com as mãos, o quanto aparenta ser... (ela me olhou com um sorriso malicioso) .... Então vocês vão se dar bem!

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora