Sob a Chuva Fria de Dezembro

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Os números praticamente saltavam do relógio digital 3 hrs e 15 min. Só mais um pouco e chegaríamos em casa. No banco dos passageiros Alan e Rosie estavam adormecidos como um verdadeiro casal. Já eu não tive tanta sorte,  meu parceiro  de viagem estava roncando tanto que um filete de baba escorria por um lado de sua boca entreaberta. Será que devo tirar uma foto e mandar para a Alice? Um registro de como seu príncipe encantado realmente se comporta... Me peguei sorrindo com a idéia.

Logo as placas começaram a sinalizar nossa entrada nos limites da cidade onde morávamos, Osasco, Zona Oeste da região metropolitana da grande São Paulo. A essa hora o trânsito estava até que bem de boas, o que tornou razoavelmente rápida nossa chegada na casa do Alan.

- Aêee finalmente...

Guga se espreguiça lentamente sentado no banco ao meu lado. Assim que estacionamos fomos para a kombi do David retirar os instrumentos e guardá-los na garagem. Como Alan tinha a chave não foi necessário acordar dona Júlia que a essa hora devia estar no décimo terceiro sono. Terminado o serviço David, Gabe e Guga... juntamente com as garotas entraram na kombi. Ele ia dar carona para eles já que moravam praticamente todos bem próximos.

- Aí galera... bom trabalho... nos vemos segunda...

- Vai para a escola hoje não?

- Eu? Mas nem fodendo! Já viu que horas são? Eu vou é dormir até umas 11 hrs...hehe...

- Bicho preguiçoso...hehe...

- Aí dento... Se lascar, mano!

Eles ficaram rindo e trocando ofensas... era nosso jeito carinhoso de interagir uns com os outros. Eu apenas balancei a cabeça e entrei no meu carro.

- Aí galera, falou...

- Falou, mano!

Girei o volante e fiz aquela rota tão familiar que até poderia fazê-la de olhos fechados. 35 minutos depois eu já conseguia ver a imensa estrutura da mansão onde eu morava sendo revelada através dos diversos tipos de plantas que constituíam uma espécie de cerca viva ao redor da casa. Logo após guardar meu veículo na garagem, destranquei a porta e entrei em meu lar. O silêncio inundava aquele local. Caminhei em direção à cozinha, eu estava sedento. Fixada na porta da geladeira havia um aviso. Passei os olhos rapidamente pelas letras desenhadas em uma caligrafia impecável:

"Tivemos que fazer uma viagem, voltamos na segunda à tarde. Beijos."

Novidade... Removi, amassei e joguei o papel na lixeira. Abri a porta de geladeira, dentro haviam garrafas de suco, água e um vinho suave recém aberto. Escolhi a terceira opção, puxei um dos bancos sob a bancada de mogno e fiquei ali deixando o tempo passar enquanto eu degustava lentamente o líquido vermelho. Era de uma safra perfeita, tanto o aroma quando o sabor eram adocicados na medida certa.

Ouvi um farfalhar de folhas, automaticamente olhei para as portas de vidro que separavam a cozinha dos fundos da casa. Caminhei até lá e tocando a superfície transparente notei que estava fria. Depositei minha taça sobre o primeiro móvel que vi pela frente, com ambas as mãos fiz a porta correr para o lado direito. O cheiro de terra molhada me atingiu em cheio, o vento soprava delicadamente. Avancei alguns passos e então pude sentir o sereno caindo sobre minha pele. Olhei para cima, o céu estava colorido com tons de cinza-chumbo. Hoje seria um daqueles dias que passaria a manhã inteira e talvez até a tarde, chovendo.

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Ela parecia uma criança encolhida sob as cobertas quando a deixei esta madrugada. Fiz todas as minhas tarefas matinais, escovei os dentes, tomei banho, me vesti e tomei café. Quando pus os pés fora do prédio o vento frio me fez fechar ainda mais o casaco. As pessoas iam e vinham do ponto de ônibus com seus guarda-chuvas e capas coloridos, algumas se escondiam debaixo dos toldos dos estabelecimentos na esperança de que o fluxo das gotas de água diminuísse, o que na minha humilde opinião pela cor do céu... é algo bem pouco provável de acontecer tão cedo.

Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora