Magnetismo Pessoal

43 2 2
                                    

Logo que os primeiros traços da alvorada riscaram o céu, eu me levantei. William já estava apagando a fogueira.

- Bom dia mano...

- Bom dia...

- E aí? Já descolou algo para a merenda?

- Tô a fim de comer ovo cru de passarinho não oh...

- É nós... cadê as minas? Inda dormindo?

- Eu vi a Alice indo na direção do lago...

- Garotas... odeiam se sujar...

- Né...

- Bom, vou desmontar as coisas aqui, vai lá pegar a Helena... tipo... no bom sentido hehe...

Ele só deu de costas e saiu. Sem senso de humor... isso é um porre.

Comecei a desmontar minhas coisas e compactar tudo na mochila. Ia ser uma boa caminhada de volta, esse já era nosso segundo dia e não podíamos perder tempo. Tô ligado que ia rolar uma bronca daquelas quando chegássemos ao acampamento,eles não vieram nos procurar até aposto porque um pensava que a gente tava no grupo do outro. Mas na moral, foi até melhor só a gente aqui, sem ninguém enchendo o saco. Claro, a adrenalina foi até maior, somos um grupo pequeno e com um dos membros incapacitados, então ia ser treta se aparecesse um bicho.

-Bom dia, Ellie, pode chamar assim né?

- Bom dia...pode sim...

- E aí, como se sente?

- Se eu pudesse andar com minhas próprias pernas, rs...seria melhor...

Se eu fosse o Will, tinha ficado bolado com uma resposta dessas, pô... o cara tá fazendo tudo pela mina. Puta ingratidão hein... 

 Aê, até que enfim hein... como tava a água? E os jacarés? Hehehe

- Não sou porca que nem você, pivete...

- Sei... se você fosse menos chata seria até "pegável"... 

- O quê???

- Nada não... é só zoas pow... E aí, todos prontos? Bora lá chegar nesse acampamento hoje...

- Opa...

- Aí mano, se quiser revezar, eu levo ela uma parte do caminho...

- Tá de boas, ela é levinha...

- Hehe...possessivo hein...

Começamos a caminhada, ontem antes de escurecer totalmente tínhamos marcado a direção que nos levaria direto para o acampamento, agora era moleza. Eu estava levando as minhas coisas e as do William, enquanto ele carregava a Helena e as coisas dela. Alice ia na frente indicando a direção. Conferi no meu relógio de pulso, havia duas horas que estávamos andando, nesse ritmo chegaríamos lá bem umas 10 horas.

                                     ---------------------------------------------------

Tudo parecia indo muito bem, exceto na parte que entrei de penetra e acho que atrapalhei uma ficada entre a Helena e o William. Caramba, ela tava vermelha quando fui falar com ela, ele saiu tão sem jeito, foi algo fofo de se ver. De certa forma eu já suspeitava que algo do tipo fosse acontecer, só não sabia "quando"... Desde aquele dia que flagrei a troca de olhares entre eles eu senti isso. 

À medida que caminhávamos eles trocavam palavras num tom audível apenas entre eles, vez ou outra ela sorria, e eu me pegava sorrindo ao assistir assim tão de perto o que quer que estivesse florescendo entre eles.

Paramos para descansar e beber água embaixo de uma árvore, pelos meus cálculos não faltava muito, talvez próximo das 10 Hrs conseguiríamos chegar. No fim das contas, estas pessoas de quem nunca eu havia me aproximado o suficiente para conversar... até que estavam sendo bons parceiros de viagem...

                                             ----------------------------------------

- Me desculpe por isso...

- Não, de boas... você nem pesa...rs

- Pode me por em algum lugar para você descansar...

- Não, estou bem assim.

Nos sentamos em algumas formações rochosas, todo mundo precisava descansar um pouco e beber água. Eu a mantive no meu colo. De certa forma eu me sentia culpado por ela ter acabado nessa situação... se eu não tivesse sido um covarde... Agora aquele sentimento de culpa dentro de mim me obrigava a protegê-la, não no sentido de quitar uma dívida... era algo mais como uma necessidade.

Ela afastou uma mecha do cabelo, as coisas estavam indo muito rápido, até uma semana atrás nós nem nos falávamos e ontem... ontem quase a beijei. Nem sei o que me deu, eu não sou do tipo impulsivo quando se trata de garotas, mas aquela era diferente... era como um campo magnético me atraindo. E isso me deixava incomodado, eu não tinha controle de nada só estava sendo carregado. Não é que eu não quisesse ficar com ela, só que... coisas assim costumam não dar muito certo. É tudo tão intenso, eu não sei quase nada dela... por burrice mesmo porque eu já deveria saber muito mais do que apenas seu nome. Eu não tinha tempo, nós não tínhamos mais tempo. O ano estava no fim, eu nem sei se ainda a veria novamente depois disso. 

Terminada a pausa, Victor a segurou enquanto eu levantava. Eu caminhava com cuidado, não podia fazer movimentos bruscos porque só no acampamento que ela poderia receber cuidados adequados para seu machucado. Ela nos contou que estava correndo e não percebeu a erosão na terra, pisou errado e desceu rolando. O tendão deu um giro no próprio eixo, o que lhe deve ter propiciado uma dor horrível. A única parte do corpo que já torci foi o pulso, sei mais ou menos o quanto dói.

Suas mãos e face estavam com lacerações, ela se apoiava com o braço ao redor do meu pescoço afim de diminuir o peso de seu corpo. Quando o vento soprava o cabelo castanho lhe encobria a face, ele tinha um cheiro bem suave. Eu tinha em minhas mãos a chance de conhecê-la e era isso que eu ia fazer.

 - E aí, onde você mora?





Convergindo (Em Construção)Onde histórias criam vida. Descubra agora