Era horário de pico, o mercantil estava com uma boa clientela desfilando pelos corredores com seus carrinhos. Eu estava no depósito quando ouvi um tumulto. Assim que saí do meu posto fui abordado, eram 4 caras e os caixas estavam sendo saqueados pelas atendentes trêmulas que se ocupavam de encher as sacolas dos marginais o mais rápido possível diante da mira de um revólver. Os fregueses, na maioria donas de casa, estavam paralisadas de medo, as crianças se agarravam as mães, os senhores de idade não podiam fazer muita coisa sem ameaçar a segurança do restante dos reféns.
- Encosta aí, mano... se pensar em reagir, te apago.
O medo da morte nunca esteve em meu sangue. Eu só precisava de uma chance, só uma. O sistema de alarme estava só a alguns metros distantes de mim, essa não era hora de vacilar. Dois deles estavam intimidando as meninas do caixa, um na porta e o outro com os reféns. Quando o carro estacionou, o cara que estava na porta, saquei logo, era a primeira obstrução de lei que ele fazia, ficou logo nervoso o que foi bem conveniente para mim porque o carinha a minha frente se desconcentrou e essa foi minha hora, derrubei ele no chão e tomei-lhe a arma. O Rogério foi ágil, pelas portas de vidro viu a agitação na loja e já desceu do carro com uma arma em punho. Os caras não tiveram outra opção senão fugir. Saíram correndo sem o prêmio de hoje. Um deles olhou para trás enquanto fugia, eu sabia que era só questão de tempo o acerto de contas.
- Nossa Senhora, todos estão bem? Maria, liga aí para a a polícia...
Entreguei a arma ao Rogério, ele ia prestar queixa quando os fardados chegassem. Todo mundo respirava aliviado, ninguém se machucou, foi uma puta sorte o chefe ter chegado na hora. Fui para a lanchonete descolar algo para regularizar minha adrenalina, em breve eu ia ter que ajudar a arrumar aquela bagunça.
A polícia chegou e todos nós tivemos que dar nosso depoimento, foi bem tranquilo até fui saudado como herói... Algumas pessoas que passavam na rua naquele momento olhavam para os carros da PM e logo o comentário no bairro não era outro senão a tentativa de assalto. Cidade grande é normal esse tipo de ocorrência, as pessoas nem se espantam mais, porém instintivamente ficam mais cuidadosas quando presenciam algo do tipo... a qualquer segundo você pode ser abordado por um pivete ou um marmanjo e ter seus bens levados. O roubo é algo bem antigo, é o meio mais rápido de se obter algo que você deseja, sejam eles algum artigo em específico ou só uma forma de descolar uma grana para poder comprar drogas.
Aqueles pivetes aparentavam ter só um pouco mais de idade que eu. Infelizmente talvez já estivessem perdidos, consumidos pela abstinência cujo único antídoto só se encontra no sub-mundo. A nossa sociedade tá pouco se lixando para isso, porque desde que nascemos ela vai nos mostrando o quanto pode ser cruel com os que tiveram o azar de nascer do lado errado. E ainda vem com discursos hipócritas quando uma alma daquelas escapa do purgatório... espalham em todos os lugares um ideal meritocrático como se houvessem os mesmos tipo de oportunidades para todos.
Até a desgraça alheia gera lucro... é fácil manter as aparências se confinar os "problemas" na periferia e incutir na mente deles que precisam ter orgulho de viver no meio do esgoto e que todos os seus sonhos de escapar dalí são inacessíveis. Uma prisão sem muros que endurece o coração de qualquer homem. Porque assim é mais fácil posar de bom samaritano para a mídia quando fazem uma ou outra boa ação. Quando eles vão parar de querer estender uma mão numa tentativa de barganhar um passaporte para o céu e fazer isso por que somos todos humanos?
Vivemos uma pirâmide social e quem está no topo deveria cuidar e proteger todo o resto, podemos tirar como exemplo a construção civil, todo bom engenheiro sabe que sem uma base forte e saudável o destino da obra é desmoronar.
- Fernando?
- Oi?
- Bom, nós vamos fechar mais cedo hoje, eu e amanhã não vamos abrir... a vó da Ruth faleceu e... você sabe como é, né?
- Ah, firmeza...meus pêsames.
- Valeu, se cuida rapaz.
Nunca tive medo da morte, sempre soube que uma hora ela chega e é inevitável, por isto é bom viver tudo com toda intensidade, amar, comer, sorrir e sonhar...
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Convergindo (Em Construção)
Fiksi Remaja"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...