Cheguei da lavanderia por volta do meio-dia, é... eu tinha que aproveitar que perdi mais um dia de aula para fazer algo produtivo. O lugar não estava muito movimentado o que foi algo bem favorável para mim que acordei super tarde: 9 h. Logo depois que o Fernando saiu tratei de esvaziar meu cesto de roupas sujas, havia muito trabalho pela frente, blusões, jeans, meias, casacos e até meu all star estava implorando para ser esfregado, claro all star só começa a servir direitinho quando já está bem surrado, porém isso não quer dizer que você vá deixá-lo sujo a ponto de desenvolver uma cultura de bactérias na palmilha. Liguei o som e comecei a esvaziar as sacolas com as roupas limpas, perfumadas e devidamente dobradas, claro... elas só iam ficar bem organizadas nas gavetas e cabides por uns dias... até que eu começava a revirar o guarda roupa em busca de alguma peça específica e acabasse desorganizando todo o resto.
A blusa verde musgo de mangas compridas era a quinta na sequência de peças dentro da sacola, era a mesma que eu estava usando naquele fatídico dia de aventura na floresta. O dia em que eu e ele... afastei os pensamentos que se acumulavam e me faziam mergulhar numa maré de introspecção. Alice tinha dito que ele e Luana estavam no maior love no estacionamento do shopping, isso logo depois dele sair daqui bufando de raiva porque "achou que eu estava ficando" com o Fernando... ele nem sequer quis uma explicação, já foi me traindo com a primeira com quem teve a chance... por que eu deveria ficar me martirizando pelos cantos? Pra ser sincera eu estava começando a pensar demais no Fernando...
Mas que droga... era só o que me faltava... Sempre odiei isso, por que as coisas do coração não podiam ser mais fáceis de resolver? Pra quê tanta complicação? Parece que existe um prazer sádico no ser que plantou esse sentimento autodestrutivo dentro da gente.
De repente eu concordei em ser tirada da minha fossa quando o Fernando sugeriu que deveríamos dar uma volta para mim relaxar e tirar todas essas coisas da minha cabeça. Foi bem divertido, por um minuto até esqueci tudo... por um minuto me senti livre e pude cogitar a possibilidade de me dar uma nova chance. Sorri com a idéia, me entreguei a felicidade que parecia tão perto que eu podia tocar com as pontas dos meus dedos... até que tudo voltou. Mesmo que eu fugisse aquilo me rastreava e me atingia como um míssil teleguiado. Ele estava lá, acompanhado daquela vadia oxigenada, me olhou como se fosse eu quem tivesse começado com o jogo de traições.
Respirei fundo, às vezes a gente acaba endurecendo por dentro depois de tanto tentar se adequar ao que não somos, de tanto distribuir os sentimentos certos para as pessoas erradas...
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- E então, Victor... tem algum lugar aqui nessa cidade onde a gente possa se divertir?
- Bom, tem vários... depende do quê você classifica como diversão em plena quarta feira à noite...
Evelyn estava retocando a maquiagem usando um dos pratos de latão que minha mãe usa sobre a lareira como objeto decorativo como espelho. Meu celular vibrou no bolso esquerdo da calça, era um sms da Sarah.
"Só passei pra dizer um Oi. :) "
Deixei escapar um pequeno sorriso que não passou despercebido por minha prima.
- É a Sarah? Vocês ainda são amigos?
- Sim, somos.
- Que legal, eu queria vê-la, tem como?
- Têm sim... mas se formos os três vou ter que pedir a chave do carro para meu pai.
- Ai não, acho que a Helô não vai... ela estava toda empolgada escrevendo uma matéria para o blog dela.
- Certeza?
- Absoluta.
- Ok.
- Vou pegar a moto.
Alguns minutos depois eu estava estacionado em frente a fachada da minha casa com uma das minhas primas sentada na garupa da moto. Lhe passei o capacete que ela afivelou desajeitadamente, acho que ela não tem costume de dar um rolê sem ser de carro.
- Pronta?
- Sim...
Acelerei e senti ela apertar minhas costelas, seus seios pressionados contra minhas costas, seu perfume me embriagando. Ignorei os pensamentos maliciosos desencadeados pelo atrito entre nossos corpos e partimos rumo à casa da Sarah. Seria uma surpresa e tanto para ela reencontrar sua velha parceira de travessuras.
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- Já estou pronta.
- Beleza, chego em 10 min.
Girei o volante e o carro dobrou à esquerda, atrás de mim o prédio de 6 andares ficava cada vez mais distante. Eu tinha decidido dar uma volta para relaxar e acabei deixando meu subconsciente me conduzir direto para o marco zero de toda essa tempestade de sentimentos que habitavam no meu peito. Eu consegui vê-la apenas de relance, estava sentada nas escadas externas de incêndio contemplando a noite que se estabelecia abdicando para si o domínio dos céus. Ela não percebeu minha presença, era só mais um carro em movimento na rua. Logo meu celular vibrou, era a Luana. Havíamos combinado de sair. Meus pais nem achavam estranho porque sabiam quem estava me acompanhando, no fundo eles queriam que reatássemos. Era o que ELES queriam, mas não era o que eu faria.
Eu estava apenas me mantendo distraído, curtindo minha juventude sem compromisso, era o que nós dois queríamos. Isso também era bom para manter uma certa pessoa longe dos meus pensamentos... . Ontem na lanchonete ela estava acompanhada e parecia estar se divertindo bastante! Que bom pra ela...
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Convergindo (Em Construção)
Подростковая литература"...toda essa história começou há seis semanas atrás quando minha rotina continuava pacífica e monótona... aliás, eu já estava contando os dias para minha formatura, não porque estivesse empolgada e sim por querer me ver logo livre disso. Tão inocen...