Morte e Vida

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Aqueles momentos de apreensão pareciam não haver mais fim e os berros vindos do quarto rasgavam a noite, com o parto doloroso ameaçando a vida da pobre mulher juntamente com seu filho...
Após alguns minutos de raro silêncio naquela  madrugada, a senhora que acompanhava a  grávida havia gritado pedindo um pouco de água aquecida.  A porta do quarto é  fechada novamente e o homem não tendo forças para confrontar tamanho sofrimento desaba de joelhos no centro da humilde sala implorando ajuda divina, mesmo sendo declaradamente ateu...
Os berros da grávida retornaram com uma amplitude ainda maior, o que o deixara petrificado de horror, as lágrimas começaram a invadir seus olhos e a banhar seu rosto envelhecido e cansado.
As orações da velha senhora também retornaram em alto volume...
Todo aquele cenário era torturante demais!          O pequeno garoto que testemunhava aos prantos toda a angustia do pai, de repente, abandona sua velha cadeira e dispara cambaleante em direção do homem que o abraça em meio aos gritos da sua moribunda mãe.
Os dois permanecem agarrados e um  sentimento terrível de impotência domina o coração do pobre pai, que tenta desesperadamente consolar o pequeno filho.
Mas um choro de um recém nascido preenche de alegria e esperança o coração daqueles dois desgraçados seres encolhidos no piso frio, o homem corre aos tropeções em direção à porta fechada do quarto .
A apreensão e a ansiedade torturante... 
Não houve respostas nos minutos seguintes e o homem então decide bater na porta à procura de alguma notícia reconfortante.
O choro do bebê retorna fraco e não se ouve mais nenhum tipo de voz no interior do recinto.
O homem começa a esmurrar violentamente a velha porta e a gritar pelo nome da esposa:
- Ro... Romina? Romina meu amor, você está bem ? Romina!! - sua voz é vacilante.
Passos são ouvidos no interior do quarto e a porta é aberta..
A idosa aparece  segurando uma pequena criança ensanguentada e enrolada em uma túnica de lã.
Sua fisionomia reflete cansaço e uma apatia no olhar, a criança chora  alto em seus braços gordos:
- É um menino, senhor Slawomir. .. um lindo e saudável garotinho! - disse.
Slawomir lentamente se aproxima da minúscula criança envolvida amorosamente nos braços da amiga, enxuga os olhos vermelhos e puxa um pouco o tecido  felpudo que a aquece.
O que seus olhos  transbordam felicidade sobre aquela delicada criatura, em seguida, como que assaltado por um macabro pressentimento, Slawomir levanta imediatamente a cabeça e seus olhos encaram os da parteira.
- E Romina? - as palavras do marido saíram como um trovão de seus lábios trêmulos.
A pobre senhora apenas abaixara a cabeça. ...
Slawomir irrompe pelo quarto como um furacão, empurrando de sua frente com brutalidade a velha com a criança nos braços... se detendo no centro do pequeno cômodo desarrumado, um grito de desespero soa como uma trombeta de horror:
- Rominaaaaaaa! Nãaaaao! Por Deus! Nãaaaao - o homem cai novamente de joelhos ao lado do corpo sem vida da sua amada. O pequenino garoto adentra em seguida, correndo com os pezinhos descalços e frios pelo quarto e se une ao pai naqueles momentos terríveis de sofrimento.
A casa é invadida por uma sequência de choros e soluços que atravessam a noite...
O rosto de Romina estirado na velha cama estava desfigurado de tanto sofrimento e dor, mas ao mesmo tempo, dava a impressão que carregava uma leve sensação de alívio com a chegada da morte salvadora.
Aquele homem Slawomir, juntamente com sua falecida esposa Romina eram na verdade... meu pai e minha mãe... o pequeno  era Dylan.

Vampiros: Sangue & SexoOnde histórias criam vida. Descubra agora