Amor à morte

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O Conde deixara  escapar um leve sorriso que não conseguia comprender seu real significado, seu semblante de feições pétreas, como uma enigmática esfinge egípcia se mantinha impenetrável.
- Não acha doutor, que essa obstinação humana por curar  patologias ou tentar desesperadamente prolongar suas vidas miseráveis é uma grande tolice?
Maximilian se erguera com uma agilidade felina e se punha a movimentar calmamente pelo grande salão silencioso,  acompanhado somente do farfalhar suave do tecido de suas vestes.
O médico, no entanto, recebera sua  pergunta com perplexidade:
- Não o compreendo... acha a vida um erro?
Após alguns instantes de uma angustiante  espera, o enigmático fidalgo se vira e responde:
- Não necessariamente um erro, caro doutor, mas uma batalha no qual não existem vencedores, se é que me compreende. Onde o nada e o vazio absoluto estarão sempre à nossa espera em catacumbas fétidas que povoam os cemitérios.- seus passos lentos ressoavam pelo ambiente, enquanto prosseguia: - As religiões nos afirmam incisivamente que não, que quando se deixa a vida, quando nossos corpos deixam de pulsar, existe um paraíso de delícias nos aguardando ou um inferno doloroso onde sofreremos martírios pavorosos eternamente! Não acha isso patético, doutor? Todas essa teorias absurdas e sem nexo e que tanto nos oprimem de uma  forma cruel desde que desgraçadamente nascemos, nos impedindo de sermos quem realmente somos e desejamos, de seguir nossos instintos ou nossas naturezas, sejam elas malignas ou não, que nos fazem de idiotas o tempo todo nos induzindo a uma busca por uma suposta salvação inexistente? O ser humano está equivocado em se horrorizar com a chegada salvadora da morte, deveria amá-la com todas as suas forças, a morte senhores... ela sim, é a única verdade que nos resta, portanto, digna de reverência e adoração.                       Conde Maximilian  dissecava suas duras palavras, agarrando um horripilante crânio humano que descansava sobre uma prateleira de metal, segurava o macabro objeto com suas mãos pálidas, o encarando.
O médico não escondia o seu horror ao ouvir infelizes palavras e tamanha idolatria pelo fim de uma existência, me olhava atônito, se voltando para nosso  anfitrião, disse:
- Obviamente não compartilho suas idéias, caro Conde, mas deixo claro que as respeito profundamente, como um defensor da vida seria anti natural que  fosse o contrário. - Skibina pegara novamente sua taça de vinho que estava  pela metade sorvendo  o líquido escarlate.
- A brevidade da existência humana é  terrível e assustadora!  O que vale uma longa vida pelos parâmetros mundanos em comparação com a doçura da eternidade, doutor? Um grão de areia em uma extensa praia? 
Uma gargalhada sarcástica do Conde  retumbou pela sala, Skibina permanecia inabalável:
- O que acha das escrituras sagradas?
O Conde diante da pergunta inesperada retornou com o crânio descarnado para seu lugar de origem e encaminhou novamente rumo ao seu encosto particular.
- Meu caro doutor, entendo sua pergunta, provavelmente, você como a grande maioria das pessoas fora condicionado desde tenra idade a crer em baboseiras cristãs. E disso, definitivamente, não o culpo, ja que a crença em algo intangível é   considerada uma demonstração de virtude inerente às estúpidas tradições  enraizadas no cotidiano humano e definitivamente não o julgo. No entanto, respondendo sua perspicaz inquisição de forma sucinta, posso lhe afirmar com todas as letras, que as ditas escrituras, são na verdade, um grande apanhado de asneiras e tolos contos  infantis, o ser humano na sua imensa hipocrisia sempre buscou justificativas ou bodes expiatórios para encobrir suas falhas pessoais, para isso, se fez tão necessária a criação de um Deus punitivo e cruel que arremessa seus filhos rebeldes para locais de extrema dor e sofrimento ou a criação de um obtuso ser mitológico, de pele vermelha, possuidor de enormes chifres e cauda animalesca. Se deixar de lado suas decadentes convicções poderá acompanhar meu sucinto raciocínio, doutor... Maximilian enchia uma taça com vinho, o líquido levemente viscoso e borbulhante reluzia, se acomodando preguiçosamente no interior do requintado cálice, em seguida, o  erguera sutilmente  contra a luz, contemplando seu conteúdo sanguíneo  diante dos olhos frios.

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