Calvin
Os eventos que ocorreram depois de meu pai ter pegado eu e Lili na cama passaram como em um sonho em que eu não conseguia acordar. Eu não conseguia parar de pensar em seus olhos esbugalhados em direção a cama, vidrados em cima de minha irmã. Congelados para sempre, era como se eu conseguisse ver a decepção, surpresa e acusação ao mesmo tempo.
- Filho, olha pra mim!
Pisco varias vezes tentando focar o rosto preocupado de minha mãe. Ela estava ajoelhada na minha frente, ainda com as roupas de seu turno no hospital. Olho bem no fundo de seus olhos avermelhados de tanto chorar e digo sentindo um beliscão em meu peito.
- A culpa foi minha!
Ela balança a cabeça discordando de minha afirmação, pega minhas mãos nas dela e diz apertando.
- Não, não foi querido! Seu pai já estava sentindo dores no peito a algumas semanas, eu insisti para que ele viesse fazer alguns exames, mas ele não queria. Você sabe o quanto ele é teimoso.
Balanço a cabeça discordando dela, ela não sabe o que ele viu, eu posso não ser o culpado diretamente de sua morte mas sou indiretamente. Talvez se eu estivesse no andar de baixo, me comportando como eu deveria com minha irmã isso não teria acontecido. Eu teria tempo de leva-lo ao hospital, nada disso estaria acontecendo agora. Minha mãe me abraça e chora em meu ombro, eu não consigo chorar, estou paralisado ainda sem querer acreditar que o homem que eu mais amo e respeito está morto. Ela se recompõe e se levanta, me levanto do banco frio do hospital e ela diz com a voz rouca.
- Vá para casa. Vou assinar alguns papeis e organizar o enterro que deve ser amanhã. Quero que você ligue pra toda família e dê a notícia.
Balanço a cabeça concordando e ela diz apertando meu braço.
- Preciso que você seja forte filho, por mim e pela sua irmã. Não diga mais que essa fatalidade é culpa sua!
Suspiro e não respondo, ela nunca vai entender. Ando em direção a saída do hospital e pego um táxi. Chego em casa e sinto um arrepio percorrer todo meu corpo. Lili aparece da cozinha e eu a olho com um sentimento de tristeza se apoderando de meu coração. Ela anda devagar na minha direção com os olhos cheios de lágrimas. Para a centímetros de mim e eu sinto uma necessidade enorme de abraça-la apertado e é o que eu faço. Quando nossos corpos se unem eu sinto aquele dejavú novamente. Ela desaba nos meus braços e eu não consigo dizer uma palavra sequer para confortá-la. Quando nos separamos ela pergunta limpando seu rosto com a costa de suas mãos.
- Como a mamãe está?
Passo meus dedos pelo meu cabelo deixando eles despenteados e bagunçados que nem minha vida nesse momento.
- Ela está... Ela é forte Lili.
- E você?
Ela pergunta seria e eu suspiro me sentindo uma merda. Abro a boca pra falar como exatamente eu me sinto agora, mas sinto que se eu disser tudo que se passa na minha cabeça vou acabar ferindo ela e seus sentimentos. E tudo que eu não quero agora é lidar com nós, sei que sua pergunta foi implícita. Ela quer saber como eu me sinto com o fato de a última coisa que nosso pai viu foi eu fodendo sua filha. Engulo em seco com esse pensamento e subo as escadas sem olhar pra trás.
Lili
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EVERY MOMENT WITH YOU
RomanceRob e Emma Seyfried são um casal que esperam pela sua primeira filha, quando em uma noite chuvosa de 1992 uma pessoa deixa um bebê, um menino em sua porta. Eles se vêem encantados pelo pequeno menino e resolvem criá-lo como se fosse seu próprio filh...