Evidência

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Lilli


Cada movimento meu parece ser feito em modo câmera lenta, todo o processo de me vestir parece demorar uma eternidade. Eu já senti isso uma vez, esse modo vazio, escuro e solitário. É como se eu tivesse voltado no passado e parado no exato momento em que Calvin me deixou.

Sentada na mesa vazia eu brinco com o talher remexendo o açúcar no fundo do meu suco pensando em nada e em tudo ao mesmo tempo. Joana suspira alto do meu lado e eu pergunto a ela.

- Ele saiu e não deixou nenhum recado?

- Não Senhora, disse apenas que ia para o trabalho e que voltaria tarde...

Confirmo com um aceno de cabeça. Ele está fugindo de mim e de toda essa merda que explodiu na nossa vida. Novamente o destino faz questão de brincar conosco e nos separar. Parece que o carma de algum jeito sempre volta pra nos assombrar, respiro fundo e tenho uma ideia que talvez possa me ajudar a esclarecer as coisas.

Me levanto da cadeira sem ter ao menos tocado no meu café da manhã e digo antes de sair de casa.

- Estou de saída Joana, se ele chegar primeiro do que eu avise que estou bem!

- Mas a Senhora nem tocou no seu café...

- Estou sem fome!

Digo já saindo de suas vistas, passo pela sala de estar e ando direto para fora de casa já com minha bolsa e minhas chaves em mãos. Ando até meu carro e entro, pego meu celular e telefono para meu melhor amigo.

- Alô!

- Caio sou eu, Lilli!

- Lilli, oi... que bom ouvir sua voz! Como você está?

Ligo o motor e digo manobrando.

- Preciso da sua ajuda, soube que está na cidade... pode me encontrar daqui a vinte minutos na minha antiga casa?

- Claro! Me passa o endereço que te encontro lá.

Feliz por ele ter aceitado meu convite eu passo meu endereço pra ele e desligo o celular. Acelero e dirijo pensativa até a casa de meus pais. Assim que paro uma nostalgia me atinge e algumas lembranças do passado voltam em minha mente. A faixada bem cuidada e a grama verdinha da a impressão que ainda tem moradores dentro, tudo está exatamente como era a alguns anos atrás. 

São os mesmos móveis, mesma cor de parede, mesma decoração. É como se eu realmente tivesse voltado no tempo, a única diferença é que agora eu carrego um filho dentro de mim. Um que eu e meu meio irmão fizemos juntos!

Saio do carro no exato momento em que Caio chega com seu conversível, fecho a porta do meu e aceno pra ele com um pequeno sorriso se formando em meus lábios.

Ele anda até mim e me abraça apertado, se separando ele diz me olhando de cima a baixo.

- Você está linda!

Viro o olho e digo fazendo graça.

- Estou muito grávida isso sim!

Ele solta uma risada e diz olhando para minha antiga casa.

- Porque estamos aqui?

Suspiro e digo laçando seu braço com minhas mãos.

- Porque eu preciso de respostas...

Puxo ele e ando até a porta, pego as chaves e abro, entro junto de Caio e imediatamente começo a espirrar por causa da poeira acumulada. Caio anda até as janelas e abre uma por uma deixando o ar entrar, fungo e digo olhando ao redor.

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