BÔNUS JACINTO

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SEM CORREÇÃO CONTÉM ERROS.

BÔNUS.

JACINTO.

Estava no estábulo conferindo as mulas quando ouvi a turbina do jato descendo na Santa Ana. Á seis meses o coronel está nessa rotina entre a capital e a fazenda, a cada vez que o vejo o homem está cada vez mais abatido.

Me lembro do doutor tendo que dopar a Dona para ser levada para a capital, ela estava em um estado de dar dó agredia e gritava que ele era o culpado da perda do seu filho. Os olhos dele brilhavam com lágrimas que se acumulavam, ele por teimosia ou vergonha não as deixavam cair.

Na noite daquele dia os gritos da Dona era o único som ouvido nessas terras, não se ouvia nem um outro piado, qualquer que fosse. Os sapos, os grilos, as corujas, todos em silêncio, nem os morcegos fizeram revoadas dançando na noite. A lua foi coberta por nuvens negras de chuva, todos estavam em luto por sua perda.

 A notícia que o herdeiro da Santa Ana já não existia correu por todos os lados. Choro lamentos e palavras de conforto eram ouvidos da boca de todos, ela tinha o respeito e a confiança do povo. Eles choravam por ela e sua cria que já estava evidente em seus contornos delicados.

Quando fui buscar o velho na vila a pedido do Coronel para que ele ajudasse a acalmá-la, contei a todos o que havia passado, todos choraram e disseram que iriam orar a Deus para confortar a Dona.

Eu sabia que aquele povo não tinha apreço pelo coronel, mas ele também tinha perdido seu filho, ele também sofria, mesmo que não demonstrasse, pedi a eles que suas orações fossem estendidas a ele. Se as orações iriam alcançá-lo, isso eu não sabia, mas não custava tentar.

Aquela seria mais uma das noites sombrias do coronel, talvez a pior delas, eu já me via afastando a todos para que ninguém o visse no seu lado mais frágil. Uma vez em minha vida senti a dor de ter quase perdido um filho, mas no último instante quando tudo estava perdido por mim, o homem que hoje chora em silêncio a morte do seu, foi o que salvou minha pequena peluça, é assim que eu a chamo até hoje por ter os cabelos fartos e as sobrancelhas grandes e grossas igual uma ursinha.

Desde que me entendo por gente ouço falar da lei do retorno, neste caso o Coronel se encaixaria nela, porque um dia ele fez algo bom por mim ou talvez a gratidão que eu devia a ele me cegava, eu não enxergava as coisas como realmente era, mas e a Dona, ela era pura bondade?

Ela não merecia passar por tanta dor.

Eu não presenciei o que aconteceu no rio, eu estava cuidando do corpo daquele outro, mas soube que a picape da Dona caiu no rio e foi arrastada pelas correntezas. Quando voltei da zona leste, um dos capatazes mee procurou para saber o que fazia com o homem que estava amarrado no rabicho da camionete, eu não sabia do que ele estava falando, perguntei que homem era esse.

Ele deu a volta atrás do carro e me chamou para me mostrar, o acompanhei, eu conhecia aquele homem era o amigo do coronel, mas o que tinha acontecido, o homem estava quase morto ou desmaiado, todo lameado.

Como eu não sabia do que se tratava, fui procurar o coronel. Foi quando soube o que tinha acontecido com a Dona, então voltei e disse ao capataz que o deixasse onde estava que aquele sujeito era problema do Coronel.

Se ele se encontrava naquelas condições tinha um motivo, o mandei embora e fiquei por ali encostado debaixo de um pé de limão rosa. Aquele tinha sido um dia chuvoso, e fazia um pouco de frio. Estava quase cochilando encolhido quando passos duros no chão de terra me despertaram.

Abri meus olhos levantando meu chapéu, a iluminação era pouca, não havia lua nem estrelas, apenas um pequeno rastro da luz que vinha do estábulo, a sombra foi até o corpo no chão. Caminhou para o estábulo ficou lá por alguns minutos, voltou puxando um dos animais porque ouvi as patas do animal. Em silêncio tirou o que estava preso no rabicho.

O Cheiro do pecado completa.Onde histórias criam vida. Descubra agora