Capítulo 22 - Maldição

7 3 11
                                    

Amadeo se esconde atrás de uma árvore, enquanto observa a "mulher" derrubar as tendas dos pesquisadores. "Shitanaga uba*. Essa sim é rara. E ela falou "casa"? Será que...?". Subitamente seus pensamentos são interrompidos por uma sensação úmida ao redor de seu pescoço. O ar já não entra ou sai e Amadeo se debate, em pânico. Sacando a pequena faca que trazia no cinto, ele corta a língua áspera e se liberta. O grito da criatura espanta as aves ao redor. Amadeo corre por entre as árvores.

_ Seu menino imundo!!! O Nomori não conseguiu te espantar? Aquela cobra inútil... Venha cá, menino... Venha cá...

Amadeo respira fundo, permanecendo o mais quieto possível em seu esconderijo. "Shitanaga uba. Ela come gente com sua língua enorme e controla outras criaturas pra fazer o trabalho sujo. Ela vive em cabanas abandonadas... Merda", ele bate no próprio rosto, frustrado: "Ela devia estar vivendo nas ruínas e a gente perturbou. Mas por que ela só apareceu agora?"; nesse instante Amadeo se lembra do que Fumio havia dito: "Tudo que eu fiz hoje foi estudar pedras e ajudar com um ritual de purificação das ruínas...".

_ Ah... Droga!! Foi isso, então. _ Amadeo cochicha para si mesmo.

Após um suspiro, ele conclui o raciocínio: "Ela é uma criatura espectral e racional, então, ela vai anular qualquer magia que eu lançar... Nesse caso, eu preciso forçar ela a ficar no estado físico e depois...", ele remexe os bolsos tomando a adaga novamente, enquanto escuta a voz rouca da velha o chamando. Mantendo a voz baixa, ele cria um pequeno portal de criação de armas, pelo qual atravessa a adaga. Na outra extremidade, surge um "manji sai" bifurcado.

_ Te encontrei!

Amadeo olha para cima, deparando-se com a mulher de cabeça para baixo na árvore. Ele deixa a arma e corre. A língua sinuosa o persegue, veloz. Ele escala uma árvore rapidamente, mas logo volta ao chão. A mulher se aproxima lentamente... Amadeo continua evadindo as investidas, enquanto a obriga a abraçar o tronco.

_ Você acha que vai me prender, garoto...? Coitadinho...

Amadeo não responde e sorri, estendendo o braço para que a língua o estrangule. Com um movimento forte, ele traciona para baixo, fazendo a Shitanaga uba liberar ainda mais alguns metros de sua língua, já reposicionando-se. O braço de Amadeo se torna cada vez mais escuro e necrótico. Ele continua sorrindo.

_ Criancinha imunda... Eu vou te devorar...!

_ Desculpa, mas vou ter que recusar. _ Com essas palavras, ele puxa o "sai" que havia conjurado, mas é somente uma metade dela _ Vamos acabar logo com isso, né?

Ele toca a arma na língua, sem perfura-la e, com um gesto de cabeça, ele faz a outra metade que jazia no solo, voar em alta velocidade em sua direção. Entretanto, ela trespassa o peito da Fabulare.

_ Isso não vai me matar! _ A Shitanaga uba rosna, enquanto corre na direção do rapaz.

_ Eu sei, mas isso vai...!

Com a pronúncia de palavras antigas, Amadeo cria uma corrente elétrica entre as duas metades de seu "sai". Os raios impiedosos atravessam o corpo da criatura, queimando-a de dentro para fora. Instantes depois, a energia cessa. A língua afrouxa seu torniquete e Amadeo libera o braço cianótico.

_ Ah, isso doeu muito, viu! _ Ele rasga uma parte da manga da camisa e usa como bandagens ao redor das lesões, enquanto se aproxima da mulher _ Shitanaga uba, sinto muito por termos invadido a sua casa.

O corpo continua agonizando, a língua se contorce, e ela grunhe...

_ Mas eu vou ter que te eliminar, tá? Você come pessoas, sabe. Não dá pra te deixar livre por-...

Três EsferasOnde histórias criam vida. Descubra agora