Capítulo 71 - Gato

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O farfalhar das folhas mistura-se com o som dos passos pesados das botas de metal de Amadeo. Ele corre e salta, floresta adentro, auxiliado por feitiços de vento que melhoram sua aerodinâmica. Ele veste somente parte do uniforme tradicional e, na pressa de fugir do hospital, esqueceu de sequer pegar seus equipamentos e armaduras. Tudo que ele pensa é: "Aquele imbecil deve ter voltado pra achar a Katia! Argh! Se os Chindis pegarem ele vai ser um massacre...! Johan estúpido!".

Ele avança pelo caminho que trilharam no dia anterior. Porém, ao passar pelo troncos que eles usaram como bancos, ele pensa: "Não sei como melhorei do nada... Me sinto bem. Melhor do que o normal, na verdade... Quase parece que ao invés de ter minha vida "drenada"... alguém me "deu" energia... Ahh! Mas não é hora de pensar nisso!"

Finalmente, ele chega, ofegante. Não há criaturas por perto. Ele encontra um par de gravetos curvos e os amarra juntos usando o próprio cinto; cantarola em seguida:

_ "Eu quero achar, quero achar alguém. Me mostre, logo, logo, quem eu quero o bem"... Johan.

O cacareco começa a vibrar e alça voo. Amadeo segue atrás, esperando que sua simpatia o guie até o colega. Conforme a luz diminui, ele cria uma de suas esferinhas brilhantes para iluminar o caminho. Sozinho, ele diz para si mesmo:

_ Katia foi esperta de trazer aquelas luzes que acendem com calor. Economizar energia, né...

Ele olha ao redor. "Hm, estranho. Não tem nenhuma Banshee, nem Chindis aqui...", ele pensa, mais receoso a cada passo. Seus gravetinhos continuam o caminho confuso através do labirinto, descendo por um dos buracos no chão. Amadeo salta atrás, aterrissando sobre o que restava de um pilar. A temperatura cai aos poucos. Os gravetos colidem com uma parede e travam, sem poder seguir em frente.

_ Hã? _ Ele diz, ao aproximar-se _ Que isso...? Cabos? _ Ele ameaça toca-los, mas sente algo estranho correr por dentro deles _ Será que tem a ver com a doença...?

A simpatia cessa e o loiro segue os tubos metálicos rentes ao teto, fitando-os. Um de seus pés pende na margem de um abismo. Na distância, ele escuta o som de água corrente. "Ah, o rio. Ufa...!", ele suspira e volta-se para trás. No corredor que se estende em sua frente, ele vê uma luz minguante, esverdeada. Não hesita. Está realmente muito frio.

Ele para diante de uma porta ao escutar uma música suave, murmurada por uma voz feminina. Amadeo reconhece que não é a voz de Katia. Mesmo assim, ele tem a impressão de já ter ouvido a melodia antes.

Ele se inclina discretamente e observa o interior: "É uma mulher... pelada?! O que ela tá fazendo...?". Ele a vê erguer e baixar um caco de pedra afiado, como um pintor rabiscando sua tela. O som que os movimentos fazem, porém, são inconfundíveis: "Ela tá cortando carne, algo assim", ele pensa. Ousando mais, Amadeo se inclina para expandir o campo de visão. Ele perde o fôlego.

A tela são as costas de quem ele veio buscar.

O chão está desenhado com sangue ainda fresco.

Restos mortais de várias criaturas completam a cena macabra.

Amadeo entende o que está acontecendo. Seu último pensamento, antes de investir contra a inimiga é o que disse a Keisha, recusando-se a participar da equipe especial de caça às Bruxas: "...definitivamente não quero me envolver com coisas tão perigosas, por enquanto. Preciso ficar mais forte primeiro..."

Ele não sabe se isso é hipocrisia própria ou ironia do destino.


Leah se diverte. É fantástico como os machucados fecham rápido! Ela sente vontade de poupar a vida daquela criaturinha miserável e torna-la um de seus experimentos. Ela ri...-

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