Capítulo 104 - Maldições

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Em uma Unidade Distrital de Albam, Dijana Belinda continua dedicando-se ao estudo de assuntos espirituais. Ela decidiu usar de sua licença para se aperfeiçoar, já que se afogar em mágoas não era algo que Nayla aprovaria. Entre suas leituras, ela conversa com um jovem rapaz chamado Calisto Gama, que ela reconhece como sendo o Paladino reprovado na prova para Prima-Ordinis Major no mesmo dia em que Johan foi submetido à avaliação de habilidades.

_ Sra. Belinda, precisa de alguma coisa? _ Ele pergunta, solicito; Dijana nega _ Bom, como dois Paladinos da UCA, eu queria poder te ajudar mais...

Dijana sorri, mascarando o próprio pesar manifesto em olheiras fundas, e responde: "Você já ajudou muito, Calisto. Não teria conseguido achar todos aqueles livros sem você". O rapaz sorri em retribuição. Com a voz mais baixa, diz:

_ Se, por acaso, alguma coisa estranha acontecer, pode falar com a gente. Eu sei que o momento agora é péssimo pra você, mas saiba que...

Dijana toca a mão do rapaz. Ele entende o pedido para deixa-la sozinha. Empatia também é saber quando palavras são desnecessárias. Ele se despede em seguida e deixa a pequena biblioteca. A mulher vê as luzes das tochas do corredor reduzindo aos poucos.

No mesmo instante, ela se aproxima da janela. A noite sem luar é profundamente escura, mas as estrelas reluzem muito mais. Ela abre e deixa o vento forte invadir o quarto. Do 4º andar onde está, ela tem uma visão privilegiada de toda a região ao redor. Ela assobia para a noite, imitando um rouxinol.

Rapidamente, som de algo colidindo com as telhas se mistura ao uivo do vento. Uma figura encapuzada se pendura do telhado e surge na janela, de cabeça para baixo. Dijana recua um passo, deixando-o entrar com uma cambalhota...

Ela não se contém de alegria e o envolve em um abraço apertado.

Parece que fazem meses desde a última vez que alguém o acolheu daquela forma... como uma pessoa. Johan suspira por trás da máscara, tomado por um conforto imenso, e retribui o abraço de Dijana, erguendo-a do chão. Ela percebe que ele treme e suas mãos esbarram no cabo do machado escondido sob a capa.

A conversa que se sucede é inteiramente em linguagem de sinais. Dijana adora ver que as palavras truncadas de Johan agora são fluidas. Porém, antes de qualquer coisa, a Paladina busca uma grande caixa de bombons. Ela diz: "Sei que você só gosta de doces e frutos do mar, então trouxe isso. Não deve estar fácil se virar por aí...". Johan aceita a oferta, sentindo suas vísceras revolvendo-se de fome. Eles sentam no chão frente a frente.

Ele ergue a máscara apenas o suficiente para expor seus lábios. Dijana não consegue evitar de reparar os dentes assustadores, a pele escura, as gengivas carnosas. É bizarro e triste como aquele rapaz lindo, digno de um príncipe de contos de Pixies agora está ali, diante dela, tendo que cobrir o rosto. Em sua mente, ela imagina a crueldade do "Ladrão de Faces" sendo causada por Eloah Fortescue. "Ela lhe tomou o rosto e a liberdade", pensa.

Quando a caixa está com menos da metade de seu conteúdo original, Dijana explica: "Conversei com a garotinha Keisha. Ela é um amor, mas é bem rude de vez em quando! Ela me disse que se mudará de Sarauniya em breve, mas que você já sabe seu novo endereço". Johan confirma, mostrando o relógio-bússola que ele ainda não entendeu exatamente como funciona. Dijana explica: "Esse aparelhinho é que nem um cronometro para um encontro. Ele não marca que horas são agora, mas quantas horas faltam para sua próxima reunião. As setas da bússola mostram a direção para onde você precisa ir e a luzinha do meio vai brilhar mais forte quanto mais perto você chegar".

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