Capítulo 77 - Norte

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Dentro da área continental que compõe o território da República Flavi, existe uma imensidão de gelo perpétuo que se estende das cordilheiras até o polo do planeta. Poucos humanos ousam habitar essa vastidão congelada, mas vários dos portos locais são altamente produtivos. Um deles, porém, é considerada o limite mais extremo que a humanidade pode atingir: A Fronteira do Mar do Norte. As águas nessa região são agressivas, submetidas a tempestades cruéis, e habitadas por monstros marinhos de centenas de anos, praticamente indestrutíveis.

A Unidade de Fronteira que se estabelece nesse local inóspito tem como única finalidade impedir que tais criaturas abissais emerjam das profundezas e caminhem sobre o continente. As memórias da destruição causada por eles é extremamente antiga e, hoje, é lembrada apenas com encenações dramáticas e estórias de terror.

Conforme o navio avança, a temperatura cai. A paisagem se torna um tapete liso de neve branca, refletindo o sol de modo que até mesmo o céu se torna excessivamente claro. Montanhas feitas de gelo despontam na distância. O vento move as poucas nuvens em alta velocidade e cria desenhos abstratos com os flocos finos no ar.

Por cima de seus uniformes da Ecclesia, o trio veste sobretudos e calças grossas. Johan dispensa as luvas e sente falta dos cabelos longos que costumavam proteger-lhe a nuca. Amadeo não para de reclamar do frio por um segundo sequer. Emília quer mata-lo.

Quando o navio para e os passageiros começam a descer, o Paragon exclama:

_ A-A-A-Argh! E-Eu sou d-do interior! Odeio fr-frioo!!

_ Hah! _ Emília ri _ Amadeo saiu da fazenda, mas a fazenda não saiu de Amadeo! Haha...! Brr! _ Ela também treme.

O vento os atinge como lâminas cortantes. Instantaneamente, Amadeo e Emília se escondem atrás de Johan. "Ele é... bem... quentinho", eles pensam quase em sincronia. No caminho até a estação, além das bagagens, Johan arrasta seus companheiros pendurados um em cada braço.

Na distância, porém, uma figura se destaca: O torso elevado de um homem, sobre o corpo forte de um cavalo, coberto de pelos castanhos que se tornam mais claros à medida que se aproximam das patas. Sobre ele, outra criatura peculiar chama atenção: Literalmente uma lontra vestindo um casaco cor de rosa que mimetiza um quimono. "Um Centauro* e uma Kawauso**!", Amadeo pensa, sorrindo, "Devem ser da Unidade!".

Porém, por trás do Fabulare híbrido, uma mulher surge e avança na direção deles. Seu cabelo, preso em um rabo de cavalo baixo, ondula como a cauda de uma serpente; seu olhar é assassino e ela não hesita. "Y O M I ! !", Amadeo pensa.

Em um salto ornamental, ela dirige ambos os pés na direção de Emília, que desvia. Johan e Amadeo quase caem, mas a ruiva franze o rosto e responde à ofensa com um chute ainda mais forte.

Sua oponente, contudo, a ignora e puxa Amadeo para perto de si. Ela o envolve em um abraço sufocante, capaz de quebrar ossos, e diz:

_ Yo, Ammy. Estou feliz que finalmente veio visitar.

A palavra "Ammy" gera uma reação em cadeia nos três visitantes: Amadeo cora como uma cereja; Emília gargalha descontroladamente; Johan sente um nó em sua garganta e pressiona os lábios para conter o riso. Emília não se segura:

_ AMMY??!! AHAHAHA! _ Ela respira fundo _ Agora sim você se superou, lenhadora de Bonsai!!

_ Cala boca, girafa velha. _ Yomi faz uma bola de chiclete _ Eu só te chamei aqui, porque precisamos de uma pá nova pra tirar a neve. Sua boca enorme vai ser muito útil.

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