Capítulo 30 - Avenidas

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Os humanos se recolhem para dormir quando os relógios apontam para tarde da noite. Os Vampiros não dormem, mas uma grande refeição seguida de repouso é importante para seu bem-estar. Johan desmaia quase instantaneamente em seu leito improvisado. Amadeo mantém os olhos abertos perfurando a escuridão. Ele lembra das palavras de seu amigo Fumio: "...a probabilidade de uma Bruxa aparecer, em qualquer lugar, é de 0,013% por década...". Um desconforto toma conta de seu corpo. Ele volta os olhos para Johan; sua respiração é serena. Aos poucos, o sono o contagia e a realidade esmorece.

Amadeo vê flashs intensos e incessantes de situações assustadoramente reais. A Cidade, as pessoas, os monstros... Mooya e Gamila não estão ali, mas Deodoro e Emília sim. Ele vê uma explosão imensa. A Lua em franca queda...? Suas mãos cobertas de sangue. Partes humanas voam pelo campo desolado. Ele escuta o estrondo horrendo de construções desabando. Estática. Zumbidos. Gritos. Os monstros são diferentes dos que ele conhece. Ele se vê morrendo e ressuscitando, , como uma boneca de ventríloquo zumbi.

"Amadeo?"

Em meio ao caos de imagens frenéticas, ele vê Johan cair em seus braços. "O que?", ele se pergunta, sentindo o calor terrível do sangue que já encharca suas roupas...

"Amadeo!"

Ele arregala os olhos subitamente. Seu coração está disparado e a testa coberta de suor. Ele olha ao redor confuso, entre grunhidos, tentando levantar. Johan o segura contra a cama:

_ Você acordou. Tá tudo bem, agora.

_ Hã...? Ah. _ Ele respira fundo, pousando a mão no peito _ Eu...!

_ Deodoro me falou desses pesadelos. Ele disse para te acordar se você estivesse se mexendo muito. _ Johan se afasta; a preocupação de sua expressão aos poucos se desfaz.

_ Haha... Entendi! Obrigado, viu. _ Amadeo se senta e sorri, ainda exausto _ O de hoje estava bem, bem horrível. Você morreu umas duas vezes e fui eu que te matei! Ugh!!

_ Eu... não quero saber o que isso quer dizer. _ Johan franze a testa; faz uma pausa _ Deodoro disse que você sempre tem esse tipo de sonho.

_ É... Tem dias piores que outros. _ Ele esfrega os olhos _ Pra ser sincero, a sensação que eu tenho é que eu fico lembrando de coisas que aconteceram durante o dia. Mas é sempre diferente do que realmente aconteceu, sabe? _ Johan nega com a cabeça _ Bom, é um saco. Não lembro qual foi a última vez que eu dormi bem!

Amadeo se levanta. O relógio na parede indica que são pouco mais de 4 horas da manhã.

_ Pra mim já deu de dormir. Vou xeretar nas coisas da Unidade. _ Ele se aproxima da porta e sorri _ Quer vir?

Johan gira os olhos. Sem dizer nada, levanta-se e segue atrás do loiro. Os corredores são iluminados por tochas verdes e o ruído constante de engrenagens se mistura com o barulho dos grilos. Finalmente, eles chegam até um arquivo. Amadeo cantarola uma musiquinha infantil, enquanto procura algo pelas gavetas. Johan prende os cabelos em um coque frouxo e pergunta:

_ O que você tá procurando?

_ Sei lá! Um mapa ou uma planta da cidade; qualquer coisa que possa ser útil pra investigação de hoje. _ Ele continua folheando documentos.

_ Investigação...?

_ Ei, ei! Você tem que prestar mais atenção nas coisas! _ Amadeo acerta Johan com uma das pastas _ Hoje nós vamos andar pela cidade pra tentar achar coisas suspeitas, lembra? Falamos disso ontem!

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