Capítulo 38 - História

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Ao final da batalha, todos estavam esgotados. Manan e Penan não sofreram ferimentos importantes e uma boa dose de sangue fresco foi suficiente para sua recuperação. Vanessa, por outro lado, precisou de uma abordagem intensiva para salvar sua vida. Um dos braços de Mooya fora parcialmente arrancado, mas os feitiços de cura permitiram salvar o membro. Gamila apresentava-se coberta de marcas de dentes e com sintomas de intoxicação. Johan, por sua vez, tinha ferimentos imensos por todo o corpo, sobrepostos às cicatrizes. Porém o mais preocupante era o vômito sanguinolento.

O enfermeiro, Gatsumiya e Amadeo utilizaram-se de tudo que dispunham para regenerar as lesões. Amadeo não mediu esforços e usou toda a energia que lhe restava. Não demorou até sua face empalidecer e o suor frio começar a escorrer. Mooya diz:

_ Não sei de onde você tira tanta energia espiritual, garoto. Você melhorou muito desde a última vez que nos vimos. Deodoro deve estar orgulhoso.

_ É aquele ditado, primo: "A necessidade faz o homem". _ Gamila complementa _ Saber que a vida de alguém tá em suas mãos, nos faz mais fortes, não acha?

_ Heh... _ Amadeo tenta manter a consciência, mas sente seus sentidos oscilarem _ Talvez.

_ Ele pode fazer melhor que isso... _ Johan diz, levantando-se do sofá _ ... Se ele parar de ter medo de si mesmo. _ Ele começa a subir as escadas e o enfermeiro se adianta para ajudar.

Mooya e Gamila concordam com sorrisos. Amadeo sente o peito apertar e sua visão esvai. Seu último pensamento foi a voz de Johan, ressoando pelas florestas de Gawmen: "Eu não confio em alguém que não confia em si mesmo".

O silêncio toma conta do forte. Todos repousam e dormem, exceto Amadeo que despertou 1h após seu desmaio. Ele não consegue relaxar, mesmo com o corpo pesado e a cabeça leve. Ele vê Johan profundamente adormecido e deixa a sala, com um grande livro negro em mãos, em cuja capa lê-se "A história das cidades de noite eterna – Feitiços atemporais". Ele entra na sala do arquivo e debruça-se na leitura: "... Feitiços atemporais caracterizam-se por, teoricamente, impedir o ciclo circadiano em um local definido do espaço, sem afetar os elementos vivos e materiais neste contidos. A principal teoria para explicar sua natureza baseia-se nos princípios da revolução de corpos celestiais acrescidos às técnicas de holografia. Portanto, a denominada "área de noite" consistem em uma região delimitada na qual se projeta a imagem estática de um fenômeno astronômico. O termo "atemporal" foi consagrada na descrição original do feitiço na gênese das cidades de noite eterna, porém, hoje, afirma-se não se tratar efetivamente de uma distorção do tempo-espaço ...".

_ Holografia? É uma magia baseada em luz?! _ Amadeo diz, surpreso _ Que incrível!

Ele retoma o texto, ignorando os aspectos históricos: "A consumação do feitiço requer grande número de indivíduos, devido ao aporte de energia espiritual necessário. Entretanto, sua manutenção é simples e autossustentável, pois baseia-se no uso da energia solar absorvida por obeliscos de ônix ou obsidiana. Recomenda-se o uso de prata ou platina para impedir o extravasamento da energia, durante a noite externa". Ele se encanta com a simplicidade e elegância de algo tão grandioso. Insaciável, ele continua sua leitura.


Horas se passam. As vozes de múltiplas pessoas enchem o ambiente anteriormente sereno. Johan abre os olhos lentamente. Ele palpa o próprio tronco e nota a ausência de dor. Ele se ergue e percebe-se sozinho. Com um suspiro, deixa o quarto. Atravessando os corredores esverdeados, ele vê Amadeo dormindo no chão da sala de arquivos, abraçado a um grande livro. Saliva escorre pelo canto de seus lábios. "Que pirralho...", ele pensa, mas não hesita em aproximar-se do loiro. Com decepção estampada no rosto, ele abraça Amadeo e o ergue sobre o ombro. "Ele é tão leve", estranha.

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