Capítulo 68 - Heroína

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Aproveitando-se da fratura do chão, o trio descende para níveis ainda mais profundos da cripta. Johan leva Amadeo, desmaiado, em seu ombro e Katia se esforça para manter a mochila nas costas. Não é fácil ser uma Veneficus com menos de 1,60m.

Eles vagam, guiados pelas luzes termossensíveis da garota. Johan sente um calafrio atrás do outro, enquanto Katia anda pedindo licença para coisas invisíveis ao seu redor. Amadeo não acorda, mas ele emite grunhidos periódicos. Não há um raio de sol sequer naquele nível do subsolo, mas insetos luminescentes ajudam a identificar as paredes esverdeadas.

_ Ei, Johan. Tudo bem se fizermos uma pausa? _ Katia diz _ Estou um pouco cansada, heh.

O moreno consente. Com pouco cuidado, ele apoia o Paragon contra a pedra. Em seguida, sentam-se no chão. Katia puxa um pacote de ração dietética e uma pílula. Ela come lentamente, de cabeça baixa. Johan mantém Amadeo recostado sobre seu ombro. É difícil enxergar. Ambos suspiram. Será que toda essa missão é em vão?

_ Katia. _ Ele diz; sua voz ecoa _ Por que você entrou na UCA...? Quer dizer... Como Veneficus...

_ Ah... É uma longa história. _ Ela palpa o musgo entre as rochas _ Sabe, eu sou a caçula da minha família. Meu irmão mais velho, Joshue, é um Paladino e ele entrou na UCA... Ele prometeu que nós seríamos uma dupla, igual quando éramos crianças, assim que eu terminasse o treinamento de Minori. Então, foi por isso que eu vim parar aqui. _ Ela sorri, triste _ Mas vai fazer um ano que ele tá "de licença"...

_ Licença?

_ Sim... _ Ela bate na própria cabeça _ Parece que ele está doente ou coisa assim? Não é isso! Ele teve dois filhos, um seguido do outro! Por isso tá "de licença", entendeu? E eu estou esperando ele voltar pra oficializarmos nossa dupla. _ Ela enxuga o suor das bochechas _ Mas é bem difícil... Às vezes eu penso que estou fazendo isso por ele e não por mim. Tenho medo de me arrepender e de não ser forte o suficiente pra ajudar... Tenho medo de causar problemas para as pessoas que nem eu acabei de fazer com o sonífero e...

_ Você pensa muito. _ Ele afaga o topo da cabeça dela _ Você devia pensar menos.

Ela ri. Seus sentidos poderosos lhe dizem que aquela é a forma de Johan demonstrar empatia. O agrado a faz se sentir melhor, mesmo que o pródromo patológico não desapareça. Com o sorriso disfarçado pela escuridão, ela diz:

_ E você, Johan? Por que escolh...-

_ Ora, a criança está dormindo! _ Uma voz feminina ressoa pelas paredes.

Katia e Johan olham ao redor, procurando a origem daquela fala. Eles se levantam. Johan segura Amadeo firmemente contra seu peito e saca uma das adagas. Katia o puxa consigo na direção oposta à voz. Entretanto...

_ Que conveniente. _ A voz ecoa mais próxima.

Uma Banshee surge diante da dupla. Johan recua alguns passos. Há um vulto, uma sombra; e sua lâmina é completamente inútil contra ela. Katia exclama:

_ A escadaria é seguindo em frente! Vamos!

"Banshees não falam... Tem mais alguém aqui.", ela pensa, apertando uma pedra entre as mãos. Ela finaliza o encantamento dizendo:

_ Cherufe*, empresta-me tuas rochas ardentes... Por favor.

A pedra derrete por entre seus dedos. A pasta rubra cintilante atrai outros seixos até formar um pequeno Golem de magma. Ela deixa seu ajudante espantando os fantasmas e empurra Johan em frente. Seus pensamentos aceleram. Ela percebe o peso terrível que sua falta de experiência tem nessa situação. "Eu não sei o que fazer! Eu não sei o que fazer!", conclui.

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