Capítulo 87 - Servas

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Murmurando alegremente uma canção, a garota de longos cabelos brancos, vestindo nada além de uma capa de seda lilás, pula de uma estaca à outra, às margens de um abismo. Ela assiste os astros distorcidos navegando o céu noturno que é incessantemente transpassado por relâmpagos de luz esverdeada.

Ela salta para a margens, afundando os pés cinzentos na lama negra, e, então, corre na direção do castelo, atravessando um campo intensamente florido, com arbustos de tronco claro e copas cheias de frutos multicoloridos, abrunheiros.

Ofegante, ela chega ao salão atrás da porta de vidro. Exclama:

_ Olá, sr. Gato! Como vai?

_ Srta. Leah. _ A figura felina feita de sombras faz uma reverência _ Eu não sei responder sua pergunta, mas por conveniência responderei: Bem, e você?

_ Eu estou bem, obrigada. _ Ela baixa o rosto _ Só não gosto de estar de castigo... A mamãe trancou todos os meus poderes... Não consigo nem conversar com as minhas irmãs!

Ela suspira, triste, e se senta ao lado do Gato. Após alguns instantes de silêncio, ele diz:

_ Se for de seu desejo, posso contar nossa história mais uma vez.

Leah sorri e aceita, afirmando adorar o "teatro de sombras" do Gato.

_ Entendido, srta. Leah.

Com essas palavras, o felino se desfaz no ar e todo o cenário é envolto por trevas profundas. Subitamente, uma janela oval de brilho amarelo se abre diante de Leah. Em seu interior, silhuetas caricatas encenam a narrativa cantada:


Século que passa... século que arrasta.

A Bruxa ficou só... E depois sumiu.

A Bruxa ficou só, depois se reuniu.


As velhas apostaram o lugar mais alto,

Para a boa Bruxa que se redimir...

Que comer o homem,

Fazê-lo sumir!


O Coven apostou toda a serventia,

Para a boa Bruxa que virar a sina...

Que matar o homem,

Fazê-lo cair!


Faça jovem Bruxa, um plano mortal,

Com um cavaleiro, o seu general.

Traga o fim do mundo,

Beba esta vingança,

Reviva todo o Coven,

Faça-o subir! Faça-o subir!


_ Hehe! Eu gosto dessa música! Faça-o subir! _ Leah exclama, saltando do chão com seus joelhos tortos _ Sr. Gato, você acha que podemos mandar uma mensagenzinha para minhas irmãs? Queria saber como elas estão se saindo... _ Ela faz uma expressão triste _ Eu achei que eu iria conseguir a imortalidade, mas ahh...

_ Sinto muito, srta. Leah, não posso permitir que vocês se comuniquem. Faz parte do seu castigo ser isolada das demais. _ O Gato retoma sua forma anterior, enevoado _ Entretanto, posso te informar sobre o conteúdo dos últimos telegramas que recebemos.

Enquanto se espreguiça e mia, o Gato faz diversas informações se formarem na névoa, como bilhetes. Leah as lê com cuidado:

_ Edisia disse que... está quase completando uma fenda! Que notícia maravilhosa! Oh, Ayla também está indo bem! Ela conseguiu bastante material para os nossos monstros, heheh! E... causou mais insurgências em Flavi. Coitadinha da Unidade de Relações Internacionais. Eles estão muito sobrecarregados por nossa causa. _ Ela ri.

Ela preparou tudo com cuidado, durante muito, muito tempo. Ela sabe que o poder da humanidade está em seus números, em suas alianças. Ela conhece a força aquele brasão de falsa-paz e o vácuo de poder que seu fracasso pode gerar. As Bruxas são muito pacientes e metódicas. Ela sabe que sua vantagem está no tempo para manipular, destruir e machucar.

O plano é perfeito. Ele envolve a construção de um exército invencível e imortal, o colapso de uma instituição de dentro para fora, a emancipação e revoltas de várias espécies. Toda a fortaleza humana será esmigalhada em um único golpe, lento e preciso, mas absoluto.

_ Oh! Miriam também está fazendo coisas importantes! _ Leah diz _ Hehe, ela já preparou tudo! A Miriam é incrível mesmo, a melhor irmã mais velha de todas! _ Ela se afasta do Gato _ Tchauzinho, Magnum Pa-ra-gon...! 

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