Três Esferas

Capítulo 99 - Julgamento

Com dificuldade, Johan abre os olhos. Ele não reconhece o lugar onde está, mas o incômodo de um cateter em seu braço o faz concluir que se trata de um hospital ou coisa parecida. Outro elemento também aumenta o desconforto: Amarras. Ele tenta soltar as mãos presas às grades da maca, sem sucesso. Não há outros pacientes no quarto. Ele sente cheiro de remédio, bandagens e sangue. Ele tenta mover as pernas, mas elas também estão presas. Ele se debate, confuso. "O que tá acontecendo...?", ele se pergunta, finalmente identificando os múltiplos focos doloridos em seu corpo todo. Ele grunhe.

_ Ah!! Ele acordou!

Uma voz feminina ressoa do corredor e, instantes depois, a porta se abre. A mulher que entra tem lágrimas nos olhos verdes e o cabelo castanho claro ondulado, uma vez enorme e frondoso, agora é curto, com franja. Ela corre até o leito e diz em linguagem de sinais: "Johan! Que bom que acordou! Como se sente?"... Johan sente um alívio imenso diante de Dijana.

_ Bem... _ Ele responde; ela toca em seu braço _ O que... aqui?

Dijana hesita e recolhe as mãos. Johan percebe que seus braços estão enfaixados, mas não sabe porquê. Finalmente, ela responde: "Você se lembra do que aconteceu na caverna?". O rapaz aperta os olhos... Suas memórias são estranhas. Responde:

_ Nós 4... Deodoro, Emília, Amadeo e eu... Nós entramos e nos separamos. Apareceram Fabulares e... tinha um fosso com um... um touro. _ Ele pausa _ Ele queria pegar Emília, mas... eu... Fui eu que me machuquei. _ Sua fala é confusa _ Não sei o que aconteceu depois...

Dijana percebe que ele parece sentir dor ao falar. Após alguns instantes, ela explica: "Você foi resgatado há 3 dias. Um Sacerdote de uma Unidade próxima disse que Deodoro havia falado com ele sobre uma exploração na região. Depois disso, Deodoro não entrou mais em contato e não respondeu telegramas por quase 2 dias. Esse Sacerdote juntou um pequeno grupo para procura-lo e acabaram descobrindo a caverna. Te encontraram lá". Johan demora para processar as informações, mas conclui:

_ Então, faz... 5 dias que aquilo aconteceu...?

A mulher confirma. Ela aperta os lábios e baixa os olhos. A dúvida cruel de explicar tudo ou não dizer nada lhe aperta o peito. Entretanto, ela sabe que seria ainda pior se Johan descobrisse tudo por outra pessoa. "Você sabe o que aconteceu com os outros?", ela pergunta. Johan se sobressalta e as correntes que o seguram ficam tensas e rangem:

_ Eles não estão aqui...?! _ Ele olha ao redor.

Dijana faz "não" com a cabeça e segura uma das mãos de Johan com cuidado. Ele relaxa e ela explica: "Na caverna, encontraram você desmaiado. Mas também encontraram Deodoro e Emília... mortos". Johan não entende. Mortos? Isso não é possível. Emília é muito forte; Deodoro também. Ele desvia os olhos, como se ignorando o que acabara de ouvir. Dijana se levanta e completa sua fala: "Junto deles, estava o corpo de uma Bruxa...". O rapaz responde:

_ Eles mataram a Bruxa...? _ Ele suspira em um alívio imenso _ As Bruxas queriam algo com... Amadeo... _ Ele percebe que Dijana arregala os olhos com sua fala.

"Amadeo sumiu", ela explica.

"Você foi o único que sobreviveu... sem nem um arranhão, Johan", ela continua, nitidamente assustada. "Você não se lembra de nada? Tem certeza?", ela insiste.

Ele se sente sem fôlego. Se tudo aquilo for verdade, então... ele está sozinho agora. O que se tornou tão familiar, precioso e querido agora...

..."Sumiu".

_ Não... lembro... _ Ele franze o rosto todo, amaldiçoando as névoas densas de sua mente.

Ele não consegue aceitar o peso daquelas verdades. Dijana pergunta se ele quer que ela continue. Entre suspiros amargurados, ele responde que sim.