Capítulo 72 - Transtorno

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Em Meigdan, durante os dias em que o trio heroico esteve fora, muitas mudanças drásticas aconteceram. Cicely Gottron, a Sacerdotisa-chefa, tornou-se conhecida na sede como "a revolucionária louca". Tudo, desde a organização física, até o funcionamento burocrático do forte foi alterado da noite para o dia.

A primeira das medidas de Gottron foi convocar mais de uma dúzia de provas de habilidades. Todos os Tertia-Ordinis Parvus da Distrital e da UCA foram submetidos ao exame. Vários dos Parvus de níveis mais altos também, mesmo a contragosto. Somente os Majores não puderam ser obrigados pela nova chefe àquela humilhação pública.

O segundo tópico também envolveu os membros dessa classe da hierarquia:

_ Temos um excesso de membros da UCA nesta sede. Recebi solicitações de várias unidades que precisam urgentemente de pessoal. Sendo assim, eu ofereci alguns dos nossos Prima-Ordinis Parvus para cumprir tal papel! _ Ela sorri.

_ O QUE?! _ Emília ruge, ao lado dos outros membros da gestão _ Isso é ridículo Gottron!

_ Ridícula é sua forma de se portar diante de uma superiora, Ferner. _ Ela suspira _ Pensei que nossa última conversa tivesse sido produtiva de alguma forma...

_ HÃ?! Aquela conversa em que você mandou eu me dopar de ansiolíticos antes de vir trabalhar para _ Ela imita a voz de Cicely _ "controlar meus ânimos viris"?! Você é...-!

_ Meça suas palavras, se preza pela seu trabalho. _ Cicely sorri _ Suas ações não impactam somente em sua vida, mocinha.

A terceira ação catastrófica da ruiva tingida foi uma provocação pessoal contra Emília: Ela mandou a poderosa dupla de Majores, Emília e Deodoro, conhecida pela aptidão em missões extremas, para resolver um problema... em Flavi... Ameaça grau 2.

Emília nunca desejou a morte para uma pessoa como ela deseja para Cicely. Dentre as múltiplas maldições que profere, ela deseja que a mulher caia enferma, de alguma coisa que a deixe feia e fraca, com dor e sem cura. Deodoro, também insatisfeito diz que isso é um exagero:

_ Se ela quebrar uma perna já é suficiente, não? _ Ele abre um sorriso amarelo _ Alguém da idade dela não se recupera facilmente desse tipo de coisa!

Emília ri, mas logo suspira. Deodoro segura sua mão com carinho. Seu olhar, sempre dócil, sempre calmo, transmite uma mensagem de otimismo.


_ Pela Deusas, eu não aguento maaaaaaaais! _ Nayla exclama, levantando-se da cadeira _ Eu já preenchi cinco, CINCO, formulários de requisição de provas de habilidade! _ Ela mostra a pilha de papéis para o Sacerdote na mesa ao seu lado _ Sabe quantas páginas tem cada um?! Sete! Sete páginas! Eu estou com câimbras nos meus interósseos dorsais! _ Ela abana a mão.

Dijana entra na sala, com uma expressão irritada e uma pasta de arquivos. Nayla pergunta o que é aquilo, ao que a outra responde: "Gottron disse que precisamos reorganizar o registro de transferências internas para atualizarmos a Unidade Executiva". Ela finge chorar e sinaliza: "Ela disse que precisa disso até amanhã!!".

_ Ué, mas são, tipo, cinco da tarde, agora?

Dijana se senta e bate a testa contra a mesa, frustrada. Ela estala os dedos em seguida e abre a primeira página. As duas continuam trabalhando.

Nayla brinca com o arame de seu porta-lápis, fazendo um barulhinho repetitivo de "poing-poing". Dijana pede para ela parar. O silêncio dura 1 minuto e 17 segundos; o "poing-poing" retorna. Dijana perde a compostura e faz sinais bastante rudes para a morena, pedindo em seguida: "Se for continuar, faça lá fora!".

Nayla franze o rosto e replica:

_ Eu já terminei minha parte por hoje! _ Ela se levanta e vai até a porta _ Eu ia te ajudar com essa chatice aí, mas parece que eu sou mais chata ainda, né?! Boa noite, Belinda.

"Eu odeio quando ela me chama assim...", Dijana pensa, em parte arrependida pela grosseria; em parte orgulhosa de mais para pedir desculpas tão rápido.

No dia seguinte, a sobrecarga de tarefas persiste e, para piora a situação, Gottron iniciou uma reforma no pátio interno e no centro de treinamento. As salas de reunião do 1º andar foram interditadas por causa da aplicação de um produto algicida nas pedras.

A Ranger e a Paladina tiveram que cancelar as atividades práticas de seus alunos para libera-los para ajudar na desmontagem de tudo aquilo. O que lhes sobrou foi, novamente, os papéis. Sem salas adequadas, elas tiveram que permanecer no próprio quarto, dividindo a estreita escrivaninha de artesanato de Nayla.

Não por menos, elas tiveram várias discussões: "Você é muito espaçosa!", "Não coma aqui dentro!", "Por que eu preciso fazer o seu trabalho?!", "Odeio quando você fala assim!", etc.


_ Belinda, obrigada por ter vindo tão prontamente. _ Cicely diz, alegre _ Preciso de uma recomendação sua para uma curta expedição burocrática para a capital. É uma mera apresentação de inventário para o pessoal da Executiva que cuida das finanças. Quem podemos mandar? Seria bom alguém sem muitos compromissos.

Dijana pensa por um instante. "Seria legal viajar por um dia", ela pensa e, por fim, responde: "Eu posso ir, sra. Gottron". Ela sorri.

"Vou dar um gelo na Nayla. Ela vai ver só!"

Tola.

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