Capítulo 107 - Prisão

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O desejo de vingança se estende de um hemisfério ao outro. No Mar do Norte, o forte outrora grandioso e imbatível, agora se funde à silhueta da montanha, preenchido por neve. A tristeza e a nostalgia de um prédio abandonado combina com a vista desértica do polo. O mar está sereno e reflete a luz do sol a pino.

Sentadas sobre o telhado do último andar, estão a Paragon, Yomi En, e a Kawauso, Sayuri. Ambas fitam a distância através de lunetas. O vento faz o colar de Yomi ondular e seus pingentes, uma ferradura e uma patinha, tintilam.

Após a morte de dois membros da Unidade, os demais decidiram usar suas dispensas para encontrar e derrotar a Bruxa denominada "Ayla". Até mesmo Weimin, o Xiezhi folgado, decidiu ajudar a sua própria maneira: Ele assumiu as responsabilidades burocráticas para com a Ecclesia, garantindo que a Unidade não seria desmontada por hora. Yoon, o cão Bulgae, porém, foi afastado dos confins da terra, já que seus serviços não eram mais necessários.

Uma coluna de fumaça verde surge subitamente no céu distante, rasgando a monotonia.

_ Os gêmeos encontraram algo! _ Sayuri exclama.

Sem demora, as duas seguem em direção ao sinalizador, crentes de que, dessa vez, a maldita aparecerá. Para bem e para mal, elas estão cobertas de razão:

_ S-S-Srta.... Ayyyy....laa... _ O vento sussurra _ E-Ele...ss...s.... estão... a-a-quii... volt-te-te-mos.... aaaooo.... c-cas-te....looo....

_ Eles estão vindo por mim; querem vingar o Centauro e a Yeti. _ Ayla responde, coçando-se _ A Paragon está tentando me atrair com partes de criaturas marinhas. É uma oportunidade para conseguirmos mais material... Mesmo com Edisia morta, minha Mãe ainda pode criar Golens.

Ela se levanta e, esticando os dedos como uma tesoura, corta fios translúcidos em meio ao ar. Um portal se forma diante dela. O fantasma desaparece, enquanto ela diz:

_ Estas pessoas são problemáticas... Eles sabem sobre os Doppelgänger e sobre mim... Não posso permitir que interfiram nos planos de minha Mãe ainda mais; principalmente a Paragon.

Ela se adianta um passo e chega em um instante em um longo braço de gelo que penetra o oceano. Ela pousa no chão e encara o par de Dokkaebis com seus olhos verdes. Eles atiram no céu com um sinalizador. "Basta esperar e elas virão", Ayla pensa, caminhando devagar pelo chão frio.

Os minutos se passam rapidamente até Yomi e Sayuri chegarem até os demais. Os gêmeos explicam que nada aconteceu por enquanto, como se a Bruxa as estivesse aguardando. Yomi avança na direção da inimiga, com seus socos-ingleses em mãos; urra:

_ Bruxa! Eu te desafio pra um combate! Só eu e você!

A expressão de Ayla não se altera. Sua face cinzenta de boneca mimetiza uma máscara sem emoção. Sua resposta é acompanhada de um movimento brusco:

_ Não.

Ela puxa um dos fios vermelhos que tem costurado à pele e, do rasgo que se abre, uma borrasca de fantasmas e ventos cortantes surgem. O rancor dos espíritos aprisionados inspira medo, mas o grupo de matadores de monstros gigantes não hesita. Os gêmeos sacam seus pares de enormes espadas de lâmina larga e suas faces de goblin se tornam ainda mais grotescas. Sayuri observa os arredores e, de repente, exclama:

_ O-O chão!!!

Ayla ergue as sobrancelhas discretamente, quase impressionada que a Kawauso viu através de sua armadilha. Erguendo um dos dedos, ela revela um espesso fio vermelho que se envolve ao redor de todo seu braço, formando no chão uma trama que mimetiza uma toalha de crochê. Lentamente, as margens da rede se fecham, isolando os oponentes em seu interior. Yomi olha para Sayuri que compreende a ordem áfona com um gesto afirmativo. Ela saca uma flauta de bambu do bolso, gira-a entre os "dedos" e, então, sopra com o máximo que seu pequeno fôlego suporta. Nada acontece. Ayla se alegra com o fracasso delas.

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