Capítulo 69 - Mãe

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"Hm... O que houve...?", aos poucos, Katia desperta de seu sono doloroso. Sua visão continua turva, enquanto ela tenta se mover. O tilintar das correntes que a prendem ao chão chama a atenção da mulher, seminua, de longos cabelos brancos. Ela deixa a massa verde pulsátil em que trabalhava para se aproximar da humana:

_ Ora, você realmente sobreviveu. _ Ela diz.

Katia é tomada por um medo profundo quando seus olhos castanhos colidem com as órbitas incolores da outra.

_ Por que... _ Katia força as palavras a saírem _ Por que você não me matou...?

_ Ah, isso é embaraçoso... _ A mulher se afasta alguns passos, com suas pernas tortas _ Acho que estou solitária. As Banshees não falam... E você vai morrer de qualquer forma, então não tem problema se conversarmos um pouco, certo? _ Ela sorri, como uma criança; Katia sente suor frio escorrer pelo rosto _ É raro ver uma humana, principalmente uma tão assustadora como você! Eu fiquei curiosa...

_ E-Eu...? Assustadora...?

_ Sim! _ A mulher diz, aproximando-se de Katia _ Você escolheu morrer pelo bem de duas pessoas que sequer são sua família... Você não significa nada para eles e... mesmo assim... _ Ela para _ Eu não consigo entender. O que eles são para você...?

Katia hesita. Baixando o rosto, responde, incerta se suas palavras são verdadeiras:

_ Meus amigos...

_ "Amigos"? Hm... Eu não entendo o que é um "amigo". Bruxas não tem essas coisas... A única coisa que importa é a família.

"Ela disse! Ela é realmente uma Bruxa!", Katia pensa. O medo que a consome mistura-se com o desejo de saber mais sobre aquela Fabulare tão perigosa. Ela engole o choro e assume sua função de Veneficus pela última vez. As correntes ao redor de seus braços a impedem de conjurar qualquer magia, mas ela pede às Deusas para que alguém encontre seu cadáver e evoque suas memórias:

_ V-Você tem uma família...?

_ Sim! _ Ela conta nos dedos _ Tem a Miriam que está lá em Nigrum, a Ayla que participou agorinha da Ágora, eu e depois a Edisia... Heh, a Edisia teve problemas na última missão dela. Ah, e a mamãe é claro.

"C-Cinco Bruxas?!", Katia sente o corpo ficar mais pesado.

_ A propósito, meu nome é Leah. Já que humanos não tem nome, vou te chamar te "bonequinha". Acho que não podemos ser "amigas", mas _ Ela se senta no chão, com as pernas cruzadas _ vamos conversar...

"Ela realmente... realmente tá se sentindo sozinha...? Bruxas tem esse tipo de emoção?", Katia pensa, passando os olhos pela figura excessivamente esguia e cinzenta diante de si. Mordendo os lábios, ela diz, entredentes:

_ Se você tá solitária... por que não volta pra sua família?

_ Por quê? Ora, mamãe me mandou pesquisar sobre várias coisas importantes... _ Ela se volta para a massa pulsátil que se assemelha a um ovo _ Imortalidade, por exemplo! Tudo pelo plano.

_ P-Plano...? _ Katia franze o rosto.

_ É. O plano da mamãe para se vingar da humanidade. _ A Bruxa toma o rosto de Katia com uma das mãos e aperta suas bochechas até escorrer sangue _ Os humanos roubaram tudo de nós. Mataram a maior parte das nossas famílias... É imperdoável. Humanos são tão, tão, tão cruéis!

Katia desvia da mulher e rosna:

_ Foram as Bruxas que começaram as guerras!

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